WOM Report Irae, Black Howling @ RCA Club, Lisboa – 19.10.2018
TRVE. Irae e Black Howling, duas muito respeitáveis bandas na cena underground, que somam mais de 15 anos de actividade, uniram as forças na negritude, e proporcionaram aos presentes um verdadeiro espectáculo de puro black metal nacional. Uma noite que resultou muito bem com este lineup, a conjugação perfeita entre as duas bandas: de um lado a introdução ambiental, melódica e ritualística de Black Howling, como uma preparação para os ritos de guerra, brutalidade e ódio, na descarga directa que é Irae. Assistimos ao talento nacional, em que pudemos admirar perseverança, lealdade, e descobrir porque ambas as bandas, que têm novos trabalhos lançados, receberam aclamadas críticas por cá e além-fronteiras. TRVE.
Black Howling
A hora de Black Howling é todo um ritual ao vivo. A casa está vestida para a festa negra, bem composta, seguramente mais de meio lotada. Desde o anterior concerto de Black Howling no RCA ainda este ano, em que a banda abriu com Gaerea para uma noite altamente especial, a despedida de Inverno Eterno (reportagem aqui), que estava bastante curioso para assistir novamente à experiência ao vivo. Porque dessa vez, quer pelo som, ou o ambiente, o concerto não estava ‘na zona’. Foi essa a minha interpretação. E agora sim. O som estava ótimo, tudo se entendia, e fomos brindados por uma experiência hipnotizante.
Os Black Howling lançaram em Julho deste ano o seu mais recente álbum “Return of Primordial Stillness”, através da Signal Rex. O statement da banda sobre o álbum: “the album was based upon ideas of self-transformation and the idea of becoming your full potential through pain, suffering, and hatred while recognising our origins as human beings. It’s a very philosophical album in the sense that we all share the same volatility in life and towards the end we will become nothing except for our legacy as individuals.”
Algures li um rótulo que classificava a música como depressive suicidal black metal, mas o que é isso perante uma experiência de luz, presença em palco, ambiente e metal seriamente tocado? A música dos Black Howling resultou. Pedro Esteves conduz os gritos, são os vocais arranhados de um desespero, algo que vem de um lugar depressivo, onírico, negro. Em contraponto temos secções devastadoras de blast beats alternadas com muitos minutos de partes melódicas, mais sossegadas e ambientais. E o público está bem em sintonia com aquele ambiente. “Return to Primordial Stillness”, apesar de dominado pelo estilo crú na gravação – black metal clássico – é ao vivo, na minha opinião músicas que ganham vida. Não comunicando verbalmente com o público, a banda exprime-se de outra maneira.
Fim. Aplausos. Foram 50 minutos a tocar, mas que passaram depressa.
Irae
Perto da meia-noite começam a actuar os Irae. Aqui é puro e duro, a música é directa e muito competente. A banda de seu mentor Vulturius, está em actividade desde 2002, com uma dose séria de trabalhos lançados, incluíndo quatro álbuns de originais, e mais de duas dúzias entre splits, demos e cassetes ao vivo. Viu o lançamento do último álbum “Crimes Against Humanity” em Maio de 2017, via Altare Productions. Foi este o trabalho predominante no concerto, uma apresentação de praticamente todo o álbum tocado ao vivo, abrindo logo com os três temas tal como no disco: “In The Name Of Satan”, “Beyond My Torments” e “Genocide Journey”.
Irae é Vulturius e vice-versa, e dizer que o homem é prolífero em criatividade e em trabalho, é dizer pouco, tantas as participações em bandas ou actuações ao vivo: Flagellum Dei, Decayed, Corpus Christii, Morte Incandescente, Flamma Aeterna, Murmúrio, para nomear algumas. Mas Irae é a sua criação, o projecto de autor. Uma das bandas de destaque da cena black metal nacional, que mantém fiel a raíz old school purista e mais bonito ainda de ser ver, conserva em palco aquela atitude punk, é chegar e despejar aquele som. Trio em palco com o poder de uma armada que espalha o som da guerra e do caos. É um espectáculo de brutalidade, fúria, “intolerância”, e criar a beleza que há nisto tudo. E o som está lá e funciona.
“O próximo tema é dedicado a bandas com Venom, Hellhammer, Bathory e a origem do black metal”, e assim introduzem “Prime Evil Black Metal”. Espaço ainda pelo meio da setlist, para revisitar temas mais antigos, com o som de “Order of the Black Goat” (2006) e “Death To Humanity” da cassete Demo de 2003. “Da Brandoa Com Ódio” traz aquele groove irrepreensível e que deixa ninguém por se render ao ritmo, abrindo assim um set de mais três temas do novo disco (“A um Passo do Fim”, “Mastergoat”), até fechar com toda a intensidade e demolição de “Horns of Doom”.
Uma banda para se apreciar ao vivo, sem desprimor para os resultados de estúdio, embora neste campo o último disco esteja com uma produção muito boa e ‘quase ortodoxa’, no geral a sonoridade caracteriza-se por crueza old school, mas cujos temas ganham toda uma nova dimensão em cima do palco.
Texto e Fotos por Hélio Cristovão (@MoonInMercury)
Agradecimentos Notredame Productions
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