Reportagem Sonata Arctica, Striker, Triosphere @ Lisboa Ao Vivo, 07 de Março 2017
Regressámos ao Lisboa Ao Vivo para um pacote muito interessante e diversificado do som tradicional do heavy metal. Três grupos com identidades bastante fortes e acentuadas e, sobretudo, distintas. Obviamente que o interesse principal ia para os Sonata Arctica, que foram os grandes instigadores da casa muito bem composta que se teve numa noite onde o power metal deu cartas.
O início deu-se com os noruegueses Triosphere, banda que é algo desconhecida no nosso país. No entanto isso não impediu que a mesma fosse recebida de forma calorosa, algo que a vocalista/baixista Ida Haukland, desde cedo fez questão de referir e de ir repetindo sempre que podia. O som da banda evidenciava algo mais do que simples power metal, mostrando capacidade para a melodia, mas sem esquecer a intensidade, o peso e a complexidade. O som, infelizmente não ajudou, havendo alguns desequilíbrios que impediram que quem não conhecia a banda ficasse mais impressionando.
O saldo no final foi positivo e só por isso conseguimos perceber o impacto e a força de uma banda. Quando as condições técnicas não favorecem mas mesmo assim conseguem marcar positivamente a assistência – como foi o caso do público do Lisboa Ao Vivo – é sinal de que esta é uma banda a ter em conta. Temas como “As I Call” e “Steal Away The Light” são bons exemplos disso mesmo. Aliás, não só disso, mas também da diversidade das composições da banda que a permitem ter uma amplitude muito grande. Algo que também poderemos apontar aos senhores que se seguiam, os canadianos Striker.
Como nos foi dito na nossa entrevista com a banda (ler aqui), o alinhamento escolhido para esta digressão teria o objectivo de ser mais abrangente possível para se tornar ainda mais atractivo para os fãs de Sonata Arctica. Só mesmo para quem não os conhecesse é que poderia esperar um concerto mais apoiado na melodia e não na raça e energia pura que lhes é característica. Os Striker têm um dos sons mais abrangentes do metal tradicional, indo do hard rock mais típicamente glam ao happy power metal, podendo de seguida assentar o pé no heavy metal tradicional e acelerar até ao thrash metal num instante.
Como tal e apesar de termos tido um foco na melodia de temas como “Former Glory”, “Lethal Force”, “Born To Lose” “Too Late”, a energia andou sempre presente. Mais que estar omnipresente, era contagiante. Cada um dos membros parecia estar ligado à electricidade, principalmente Adam Brown, baterista, que deu espectáculo. O entusiasmo na secção rítmica também inclui Wild Bill, no baixo, a dupla de guitarras, onde o guitarrista de sessão que os acompanha nesta digressão, John Fallon, estava completamente entrosado com Tim Brown (o nosso interlocutor na já mencionada entrevista e guitarrista da banda), revelando uma química impressionante – não nos espantaria que ele passasse a integrar a banda oficialmente. E claro Dan Cleary esteve incansável e impecável na sua entrega vocal.
A banda canadiana deixou uma marca tão forte e tão unânime que se havia alguém que não tivesse ido ao Lisboa Ao Vivo para os ver e ouvir, de certeza que o fará da próxima vez. Em questão ao som, os problemas que assolaram os Triosphere não tiveram um impacto tão grande como nos Striker, onde todos os malabarismos (e foram muitos) e as harmonias das guitarras foram bem audíveis. Foi um excelente aquecimento que até pode ter corrido o risco de ofuscar a actuação dos cabeças-de-cartaz, Sonata Arctica, que se despediu com um “Fight For Your Life” que teve o refrão cantado em uníssono.
Após uma mudança de palco onde o equipamento das duas bandas anteriores foi desmontado – tanto os Triosphere como os Striker tocaram num palco mais reduzido, já que o palco dos Sonata Arctica já estava montado – para dar espaço à decoração da banda finlandesa, notou-se alguma ansiedade pela demora início das hostilidades. Afinal a banda da noite já é há muito tempo uma banda que tem um grande legião de seguidores no nosso país e a sua visita é sempre sinónimo de festa. Assim que se faz ouvir a “We Are What We Are” transformada, a impaciência transformou-se em entusiasmo que recebeu em extâse o primeiro tema “Closer To An Animal”, que é também o primeiro tema do último álbum de originais, “The Ninth Hour”.
Apesar de sermos da opinião de que este último trabalho não é forte o suficiente para entrar na galeria dos melhores álbuns da banda, a escolha dos mesmos foi inteligente, escolhendo as músicas mais marcantes como “Life”, “Fairytale”, “Among The Shooting Stars” e a já mencionada “Closer To An Animal. A melodia é uma das grandes componentes do seu som e a forma como dão uma no cravo e outra na ferradura (que é como quem diz, a forma como conjugam os temas mais energéticos e os mais melódicos – e aqueles que são ambos) é já uma marca registada. Mesmo assim, não deixamos de nos questionar se o alinhamento poderia ser mais forte. Principalmente depois da autêntica maratona heavy metal por parte dos Striker.
Houve um esforço por focar quase toda a carreira, já longa, da banda e houve momentos para todos os gostos, onde até nem faltou uma energética “In Black And White” do polémico “In Black And White” ou as incursões até aos priomórdios da carreira com a recordação de “Tallulah” do segundo álbum “Silence” ou a “FullMoon”, do álbum de estreia “Ecliptica”. O fluir do concerto foi algo quebrado com alguns samples a servirem de ponte ou interlúdio para o tema seguinte, algo que acabou por retirar o poder esperado ao encore, cujos temas “Misplaced”, “I Have A Right” e “Don’t Say A Word” foi bem recebido, não esquecendo a inevitável “Vodka” que já é tradição em todos os concertos dos Sonata Arctica.
Foi uma excelente noite de heavy metal tradicional em geral e power metal em particular e um bom exemplo de como um bom pacote de bandas pode agradar a todos e atrair o público – algo que Tony Kakko não se cansou de enfatizar no encore: a importância de apoiar a música pesada e que esse apoio dá-se precisamente em comparecer como o público fez naquela noite, algo que o vocalista finlandês demonstrou estar profundamente agradecido.
No geral o som esteve bom, a presença e entrega das bandas em palco esteve excepcional e a energia que o público devolvia às bandas ainda mais pontos teve. Tudo razões mais que suficientes para justificar o investimento de um momento que todos os fãs vão guardar nas suas recordações.
Texto: Fernando Ferreira
Fotos: Sónia Ferreira