Reportagem Bizarra Locomotiva, She Pleasures Herself @ RCA Club, Lisboa – 9/12/17
Quando chegámos ao RCA Club, encontrámos uma fila que quase contornava o quarteirão. Não sendo algo habitual de encontrar, era sem dúvida sinal de duas coisas: a base de fãs dos Bizarra Locomotiva é enorme e fiel e este era sem dúvida um evento especial, a celebração de um álbum especial para a discografia da banda assim como para o próprio underground nacional: O “Álbum Negro”. Um dos marcos da carreira da banda que tem agora honras de ser reeditado em CD e vinil e também de acompanhar o lançamento de um livro (apropriadamente entitulado “Livro Negro” cujo evento de lançamento aconteceu no dia 7 de Dezembro na Fnac do Colombo). Tudo motivos mais que suficientes para garantir o interesse de qualquer fã da banda em particular e de boa música em geral.
Sensivelmente à hora prevista, a banda de abertura, os lisboetas She Pleasures Herself subiram ao palco ao som de uma intro que evidenciava uma sonoridade industrializada altamente marcial. A banda foi entrando aos poucos, assumindo as suas posições, tendo sido Nuno Varudo o último a posicionar-se. De indumentária extravagante e adequada à sonoridade meio nostálgica, meio cinematográfica (a lembrar os filmes da década de oitenta que tinham sempre como ambientes nocturnos espaços onde a decadência era o elemento primordial), os She Pleasures Herself revelaram-se desde cedo uma escolha acertada para o evento.
Não só conseguiram cativar o público desde o início com a sua sonoridade new wave/pós punk dançante que nos remetia para os inícios da década de oitenta e para nomes como Joy Division e Depeche Mode, como estabeleceram o ambiente propício para esta noite de celebração. Alguns dos melhores temas para nós foram “Fake”, “End” e “Visions”, não esquecendo também a versão dos Red Zebra, “I Can’t Live In A Living Room”. Apesar de não haver muita comunicação com o público no início, conforme o concerto foi decorrendo, não faltaram os agradecimentos ao público no final das músicas e os devidos agradecimentos também aos Bizarra Locomotiva, à Rastilho e ao próprio RCA Club. Não haverão muitas dúvidas que o público também ficou grato.
Uma mudança de palco a todo o vapor para o grande momento, aquele aguardado por um RCA Club já completamente cheio – arriscamos a dizer esgotado onde o calor era infernal e fazia-nos esquecer que o Inverno estava à porta e que Portugal estava com alerta vermelho para uma série de distritos pelo mau tempo que se avizinhava. O “Álbum Negro” estava aí. A introdução “Nostromo” colocou em sentido o público que já ansiava pelo momento em que a Locomotiva chegava àquela estação para que todos embarcassem numa viagem que se tinha mais que nostálgica.
O ambiente festivo cresceu a cada entrada em palco de cada um dos membros da banda mas foi com a entrada de Rui Sidónio que o público foi completamente ao rubro, algo que se manifestou na “Êxtases Doirados”, recebida de forma efusiva mas isto também uma afirmação inútil porque nesta noite não houve nenhum tempo que não tivesse sido recebido desta forma, tal era o ambiente de celebração embora tenhamos que destacar obrigatoriamente o já clássico dueto de Sidónio com Fernando Ribeiro dos Moonspell, que foi o convidado especial do evento num dos temas mais fortes do trabalho central da noite: “Anjo Exilado”. É um momento de comunhão não só entre os fãs de Moonspell e Bizarra Locomotiva, não só entre os vocalistas de ambas as bandas mas principalmente dos Bizarra e o seu público. Uma verdadeira união que arrepia sempre, sem excepção. O vocalista dos Moonspell viria a ficar presente para o próximo tema, “Ergástulo”, onde se teve também a primeira de muitas incursões de Rui Sidónio para o meio de público, acompanhado por Fernando Ribeiro.
Sem dúvida que a música (e até as actuações) dos Bizarra não tem como objectivo focar uma emoção como o afecto mas sem dúvida que esta foi aquela que mais foi sentida, pelas reacções do público, pelo carinho deste que foi sempre sentido de especial forma pelo frontman da banda, que não se importou de sair algumas vezes da personagem que encarna quando sobe ao palco, para receber esse carinho e devolvê-lo. Uma noite cheia de coisas boas como as clássicas “A Procissão dos Édipos” (e um headbang compassado a criar um belo efeito visual para quem, como nós, conseguia apreciar por estar no balcão superior), “Engodo” e “Ego Descentralizado” (com Fernando Ribeiro a viver a música como verdadeiro fã que é da banda no meio do público).
Para o encore ficaram reservados alguns temas obrigatórios fora do contexto “Álbum Negro” mas que foram igualmente recebidos, sendo que “Gatos do Asfalto” e “Grifos de Deus” são sempre temas que soam bem em qualquer ocasião. Outro momento marcante foi quando Fernando Ribeiro subiu mais uma vez ao palco para, em conjunto com Rui Sidónio, cantar uma versão de “Se Me Amas”, original dos Xutos & Pontapés, onde ambos os vocalistas pediram ao público para fazer com os braços aquele que se convencionou ser o sinal da mítica banda rock portuguesa, como homenagem ao recentemente desaparecido Zé Pedro. Um momento de magia e simbiose, mais um numa noite rica deles.
São estes os dois melhores termos para descrever esta noite: magia e simbiose. Uma noite que terminou com uma banda de coração cheio (com distribuição de setlists como recordação por parte de Rui Sidónio e onde até houve um teclado atirado por Alpha para o público) e com um público extasiado com música industrial orgânica, visceral. Por algo que ficará marcado para sempre nas memórias de todos os que participaram. Por uma banda portuguesa. Por um álbum português. Por música intrinsecamente nossa.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Rastilho Records E Alma Mater Records
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