Reportagem – Týr, Cruz de Ferro, Inner Blast @ RCA Club, 25/09/16, Lisboa
A noite era de festa, afinal não é todos os dias que se tinha a oportunidade para se ver os Týr no nosso país e este pensamento foi partilhado por muitos fãs da banda, apesar do seu último álbum de originais já datar de 2013. Esta digressão tem se revelado problemática, dado a alguns boicotes a osconcertos da banda das Ilhas Faroé que felizmente não se verificaram no nosso país – depois da situação exposta pelo seu vocalista Heri Joensen, só mesmo alguém incongruente poderia ir para a frente com esses protestos absurdos. Como se esperaria, a noite foi de festa, tendo ajudado para esse facto as duas bandas portuguesas (Inner Blast e Cruz de Ferro) que compunham o cartaz e que estiveram muito bem no seu papel de aquecer o público.
Comecemos pelos Inner Blast, banda de metal gótico que tem como figura central a vocalista Liliana Silva e que lançou ainda este ano o seu álbum de estreia (excelente estreia, diga-se, como pudemos analisar ainda nas páginas da Metal Imperium) e onde baseou praticamente toda a sua actuação – exceptuando pela cover dos A-Ha, “Take On Me”, que, embora tenha resultado bem, parece que não encaixou totalmente no fluir do concerto. Ainda assim foi um concerto muito sólido, com a banda entrosada e que já gozou de uma assistência extremamente bem composta, com o público a corresponder muito bem, mesmo sendo uma sonoridade mais desviada do heavy metal das duas bandas seguintes. “Feel The Storm”, quanto a nós, foi o grande momento da actuação dos Inner Blast onde o público e a banda portuguesa funcionaram como uma só unidade. No final, ambas as partes estavam satisfeitas.
Os senhores que se seguiam eram os Cruz de Ferro que além de estarem mais próximos da mistura de heavy metal e folk dos Týr, também tinham muitos fãs na plateia, fazendo com que estivessem a jogar em casa. Com a recente participação no lançamento de comemoração dos trinta anos dos Alkateya e com o álbum de estreia lançado no ano passado, a banda desfilou bom gosto no que diz respeito ao heavy metal. Escolhendo temas tanto do EP “Guerreiros do Metal” como desse mesmo álbum de estreia, “Morreremos de Pé”, cujo tema-título foi mesmo o primeiro da sua actuação.
O som estava alto e bem definido (deu-nos ideia até que estava mais alto que o de Týr) e o heavy metal da banda portuguesa é para lá de empolgante. Costuma-se dizer que só quem gosta é que consegue entender, noutras que só estando lá é que daria para saber. É uma boa forma de resumir a actuação dos Cruz de Ferro, com os temas a serem entoados pelo público, como “Glória Ao Rey” e o “Guerreiros do Metal”, este último que até levou o vocalista/guitarrista Ricardo Pombo a soltar um “a minha mãe devia estar aqui para ver isto”. Foi realmente um dos pontos altos da noite.
Depois de uma excelente actuação dos Cruz de Ferro, um RCA Club cheio e em efervescência aguardava a entrada em campo dos cabeças de cartaz com a intro “Gandkvæði Tróndar” à qual se seguiu imediatamente uma melodicamente épica “Sinklars Vísa” a mostrar o lado mais folk da banda, o qual é largamente apreciado pelas suas hordas, mesmo que seja algo difícil de reproduzir – o dialecto das Ilhas Faroé não é propriamente acessível, notando-se depois no acompanhamento (ou falta dele pelo público). Felizmente as guitarras falam uma linguagem universal – e a dupla esteve muito sólida neste departamento. Não faltaram também temas cantados em inglês, sendo “By The Sword In My Hand” o primeiro, marcando também a primeira vez que o vocalista/guitarrista Heri Joensen se dirigiu ao público, ele que esteve bastante falador, principalmente nos momentos em que o outro guitarrista Terji Skibenæs teve que se ausentar do palco e um compasso de espera surgiu.
“Hold The Heathen Hammer High” foi o primeiro grande momento de comunhão entre a banda (e também a primeira música do martelo, uma private joke que qualquer fã da banda percebeu) e o público e a prova de que a banda ao vivo é um verdadeiro colosso, puxando pelo público mas nunca descurando a parte músical que esteve sem dúvida imaculada – já sem mencionar o bom espírito de disposição que os músicos vivem em palco entre eles, demonstrando que estão mesmo a divertir-se e que não se trata de apenas mais um concerto. Depois de uma visita pelo passado da banda, seria a altura de visitar o último álbum de originais, onde destacaram a raçuda “Blood Of Heroes” e a melódica “Grindavísan”. A banda já tinha o público do RCA Club completamente rendido, pelo que as melodias de “Regin Smiður”, “Ramund Hin Unge” e “Turið Torkilsdóttir” foram entoadas em uníssono.
Para o final ficou reservado o melhor com “Mare Of My Night”, “Hail To The Hammer”, “By The Light Of The Northern Star” e “Hall Of Freedom” e “Shadow Of The Swastika” já em regime de encore (que não deve ter chegado a dois minutos de ausência da banda em cima do palco), duas sequências de temas que marcaram uma actuação inspirada da banda das Ilhas Faroé que não deixou nenhum dos presentes insatisfeitos e com vontade de repetir a dose. Uma noite de domingo que provou que para ter sucesso basta ter boa música – onde a presença de duas bandas portuguesas não foi certamente indiferente – e tudo o resto são desculpas, quer o dia da semana, quer o facto da banda já ter lançado o último álbum de originais três anos atrás. Heavy metal, boas bandas, um bom espaço… é o que se precisa para se ter uma grande noite e foi efectiviamente isso que se teve.