Reportagem Neoplasmah, Karbonsoul, Burn Damage, Disthrone, Okkultist @ Female Growlers United Front Fest, RCA Club, Lisboa – 21.04.18
Noite histórica. Daquelas que ficam na memória, que vivemos de uma certa maneira, que vivemos num espírito coletivo de celebração. A celebração do talento português. Foi no profano Sábado 21 de Abril, que a alma underground aconteceu dentro das paredes do RCA, sobre a organização da Notredame Productions, num acto que juntou as bandas Neoplasmah, KarbonSoul, Burn Damage, Disthrone e Okkultist.
Esse acontecimento chama-se Female Growlers United Front Fest. Santo Growl.
E o que têm especialmente em comum as cinco bandas que oraram o caos nessa noite? Pois foi a noite de female fronted Death Metal. Todas as bandas com uma vocalista a projetar gutural desde o Inferno até além. Senhoras do metal. Esta é a segunda edição deste concerto neste formato, passados quase 3 anos desde a sucesso da primeira iniciativa. A enquadrar esta reportagem, e tudo o que viria a acontecer ao vivo neste concerto, recomendo a audição do programa Alta Tensão emitido na véspera, em que o mestre António Freitas fez um especial com as convidadas a falar sobre as respetivas bandas.
Antes de se apagarem as luzes do palco, para se acenderem de novo em momento decisivo, temos a assinalar uma notícia triste que marca este concerto: foi o último anunciado pelos Neoplasmah, o ‘concerto de despedida’. Ponto final na banda ou ponto de interrogação muito prolongado…?
Okkultist
As luzes são vermelhas. O palco é o palco do inferno. O som é o ritual. O ritual de Death Metal obscuro, caótico, intenso: bem-vindos à arte dos Okkultist! O tempo que se segue, serão 30 minutos blasfemos de ritmos desenfreados de música extrema, onde se lamina uma derradeira camada pela voz gutural de Beatriz Mariano, ela própria um anjo assaltado pelo demónio, que lhe trouxe um blend de beleza e brutalidade em palco. A front woman, também ela fotógrafa, modelo, editora. Nas suas próprias palavras, ‘porquê fazeres uma coisa, se podes fazer mil?’ Um ímpeto de juventude, de fazer acontecer.
Vem fumo e é a guitarra de Leander e a bateria de David Correia aka The Lorke que rebentam a primeira malha, ‘Plasmodium Nocturnus’. Iniciam-se as hostilidades. O som está brutal. Nesta actuação, os Okkultist visitaram 3 temas do EP ‘Eye of the Beholder’, que lançaram como edição de autor em 2017, que atualmente… se encontra esgotado no formato físico: ‘I Spit On Your Grave’, ‘Sacred Brutality’ e ’Killing’ demonstram bem o porquê.
Interlúdios com ambientes ritualísticos, sublinham algumas passagens entre as músicas, como antecede ‘B.Y.O.C.’ (Bring Your Own Crucifix), a primeira demo gravada pela jovem banda, em Outubro de 2016. A luz agora é púrpura e é vermelha. O fumo desenha o caos entre os focos. E a finalizar, apresentam-nos ‘Back From The Dead’, que creio ser um tema novo. Pura descarga de ritmo avassalador.
Foi uma grande estreia deste palco numa noite que continuaria a trilhar seu caminho memorável. Fiquem atentos, pois a banda está a preparar o lançamento do novo álbum este ano, pelas mãos da Alma Mater Records.
Apontamento final, para quem quiser rever ou quem não lá esteve: a banda criou um vídeo da atuação, que publicou no canal de Youtube. Vão ver. Sei que são curiosos.
Disthrone
Depois do ritualístico vem a música mais direta, e cheia de ação ao estilo Crust / Punk de Disthrone. Cada gig, um caos. A Carina Domingues, frontwoman da banda, energética corria todo o palco enquanto largava o gutural aos pulmões cheios, com total entrega. Apesar de não ser totalmente a minha onda, aprecio certos temas e reconheço que a banda deu o seu melhor, e a carga agressiva inspirada na sociedade e o caos apelou aos fãs do género.
Na bagagem trouxeram todo o EP Retaliação editado em vinyl de 7” pela Helldprod Records (2016) com os temas: ‘War Criminals’, ‘Escumalha’, ‘Ameaça Nuclear’ e ‘Álcool e Caos’. Tocaram ainda dois temas da Demo Tape de 2013 (Helldprod), o clássico ‘Anti-System’ e ‘Mistress Of Evil’. Ainda espaço para a malha ‘Addicted to Kill’, já anteriormente tocada ao vivo, mas ainda não editada, e o que segundo percebi, apresentaram como um novo tema ‘Necroromantic’.
Receberam os aplausos do pessoal e mostraram que estão em forma. Ainda antes deste concerto, falava a Carina que estão a trabalhar no álbum novo, com muito trabalho de estúdio adiantado, e há um disco praticamente já composto. É portanto, de ficar atento às novidades dos Disthrone, que não tardarão em chegar.
Burn Damage
É a vez dos Burn Damage incendiarem o palco. Uma introdução com música do faroeste, dá a entrada do groove de ‘Refugee’, que rapidamente passa para um speed de Death Metal e só fica mais impressionante quando a Inês Freitas molda a música com o seu bruto gutural, que assalta a sala.
Nesta noite a banda tocou quase na íntegra o trabalho mais recente, o álbum Age of Vultures, editado em Outubro de 2016 pela Raging Planet. Desta feita, continuamos ao som das malhas ’Age Of Vultures’ e ’Slaughterhouse Of Cowards’.
A rasgar, a banda bem adaptada, e a Inês a mostrar excelente forma vocal, após algum tempo de interrupção sem cantar, por motivos de saúde. Tempo para tocarem uma nova música, apenas apresentada o ano passado, ‘Fire Walk With Me’, que traz um compasso mais lento e groovy, mas muito badass com a voz da Inês a vir dos cantos do abismo. Não é brincadeira. Apresentam ainda outra malha nova, que possivelmente virá no novo trabalho de estúdio. Agradecimentos aos ex-membros da banda, já formada em 2008, os Burn Damage fecham com uma trilogia que regressa a Age Of Vultures, com a inquietante ’Acid Rain’, ‘4 Little Pigs’ e o groove / death de ‘Beyond Good And Evil’, o tema que encerra o disco.
A banda tem presença marcada em vários concertos até ao final do ano, passem na sua página de facebook, para verificar este cartaz com as datas dos concertos.
Karbonsoul
Hora de Karbonsoul. A banda da female growler Mafalda ‘Muffy’ Hortas e cheia de músicos talentosos que deu um show e tanto. Poderoso e intenso: tocaram seis temas, entre eles todo o EP ‘3LOGY’, de 2014, e três músicas novas. A voz de Muffy enche de textura as malhas, e embora cada vez mais no registo gutural, é precioso assistir à voz limpa no tema ’Decadent Empire’, que abre o último EP lançado pela banda.
Ainda deste EP, visitámos também ‘Construction through Destruction’ com aquela melodia épica a abrir e que dá o tom à malha, a contrastar com um gutural fortíssimo e partes mais aceleradas ao estilo death que eles bem sabem criar.
O som muito coeso. Muito bom. Já formados há 10 anos, é notável a boa presença em palco, e a empatia que se gerou com os presentes na missa da noite. Os três temas novos foram ‘Lost In Between’, ‘Post Lux Tenebras’ e ’Rotting in Gluttony’; sobre este último, há um vídeo gravado, que poderão assistir na página de Youtube dos nossos colegas na SFTD Radio.
Feitos já 10 anos de existência, corre que a banda está agora dedicada a lançar o novo álbum, estarão a trabalhar nisso. O último EP ‘3LOGY’, é excelente, e redefiniu a evolução da banda num sentido mais death / dark mantendo uma enorme qualidade nas melodias, sente-se a arte. Aguardamos com expetativa.
Neoplasmah
A luz é verde e azul estrelar como numa nebulosa, na guitarra do José Marreiros. Os Neoplasmah, quinteto de músicos talentosos levam-nos numa viagem sideral ao som extremo de Death Metal técnico, pontificado pelo gutural avassalador de Sofia Silva, a frontwoman da banda.
As raízes da banda remontam a 1997, originalmente como Systematic Collision. Desta época, resultaram duas gravações conhecidas, a Demo Tape ‘Interstellar Experiences’ de 1999, e uma gravação ao vivo ‘Dead Tape – Live 10.06.98’, hoje em dia daquelas raridades preciosas de colecionador na cena nacional. Foi entre 2000/2001, que se deu a mudança do nome para Neoplasmah, e a entrada da vocalista Sofia Silva e Alexandre Ribeiro no baixo. Desde 2002, teriam o line-up que viria a redefinir a temática e a essência da banda, como se manteve até aos dias de hoje, e com o qual gravaram dois álbuns épicos.
A actuação de Neoplasmah incidiu em quatro temas de cada álbum, ‘Sidereal Passage’ de 2004 (Nebula Records/Dark Music Productions), e ‘Auguring The Dusk Of A New Era’, 2014, Helldprod Records. Pelo meio, tempo de regresso a um passado de quinze anos, com ‘Ravishing Theatre Of Chaos’, tema presente no último álbum mas gravado originalmente na demo de 2003 que a banda distribuiu a título independente.
Eles demostraram desde cedo na actuação que seriam os maiores agitadores da noite. O Moshpit está lá. A acontecer. De músicas em fiada. Mosh, Mosh, é demasiado brutal para ficar sossegado. Agitação!
Não nos faltaram os temas como ‘Enter The Void Of Spectral Velocity’, ‘Auguring The Dusk Of A New Era’ ou ‘Miry Gateway Through Time’. O melhor spot é em frente ao amplificador do Alexandre. E eu corri vários spots. Aquele som. O som do baixo. O baixo. Aquela bojarda e no entanto o som nítido de todos os instrumentos equilibrados, tudo perceptível e numa viagem cósmica: porque é o som de ‘Stargate To Infinity’, uma das minhas malhas favoritas com aquela musicalidade épica e refrão catchy, diria.
E quando chegou a hora em que a Sofia diz ao público: “a próxima é a última para sempre…” tocam ‘Vortex Voyagers’. E agora que pensamos nisso, são palavras de pesar. Tanto talento. Neoplasmah será sempre um legado valioso da arte na música do metal português. Referência para muitos músicos. Uma inspiração.
Assim terminam em apoteose. Ovação, muitos aplausos, pedidos de ‘mais uma’. Acabou e ficará muito tempo nas nossas memórias. Nas nossas memórias e também no canal do Youtube do baixista Alexandre Ribeiro. Isso mesmo, os Neoplasmah tiveram a gentileza de publicar gravações do concerto que fizeram naquela GoPro ali de frente para o palco! Obrigado por isso!
Este concerto, Female Growlers United Front Fest já deixa saudades. Um formato que tem tudo para dar certo, por esse underground fora.
Texto e Fotografia por Hélio Cristóvão para a World of Metal
Agradecimentos ao RCA Club e Notredame Productions
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