WOM Report – Vagos Metal Fest Dia 2 @ Quinta do Ega, Vagos – 10.08.2018
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Crónica Editorial – Vagos Metal Fest 2018
O balanço do primeiro dia foi positivo (como podem verificar no link acima para a reportagem do primeiro dia), mas para muitos o festival começava verdadeiramente hoje, com mais bandas e com mais festivaleiros que, na sua grande maioria, não lhes foi permitido marcar presença no dia de recepção ao campista devido aos seus compromissos profissionais. E essa diferença de pessoas foi bem notória, onde depois de termos uma moldura humana muito boa no dia anterior, agora tinhamos um mar de gente que eleva a fasquia para os próximos anos. Noutros pormenores também ainda existe muito trabalho a fazer mas já lá vamos.
A festa iniciou-se com os In Vein no palco Stairway, uma banda que também já passou pelas nossas páginas mas que ainda não tinha tido oportunidade de conferir ao vivo. As honras não poderiam ter corrido melhor. Se tínhamos inicialmente a preocupação que a banda nortenha não tivesse o número de espectadores que o seu som merece, imediatamente a mesma se desfez, já que o seu som poderoso chamou para a frente do palco muitos fãs ávidos de começar logo o dia/tarde da melhor maneira. E da melhor maneira efectivamente começou com a sonoridade da banda a ser muito bem tratada pelo o que pudemos ouvir. Teremos que salientar o autêntico monstro que é António Rocha, tanto a cantar como a conduzir o público. A banda revelou estar a trabalhar neste momento no seu segundo álbum que terá o título, pelo que pudemos perceber, “Ways Of God”. Terminaram com “Satan” que provocou um autêntico rebuliço em forma de circle pits.
Durante a actuação dos In Vein, o recinto recebeu a visita dos idosos do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo que como prometido vieram provar o melhor da música pesada, percorrendo o recinto e absorvendo toda a mística do Vagos Metal Fest. Por muito que não se dê valor a este tipo de iniciativas, continua a ser importante desmistificar a imagem criada (e já há muito ultrapassada) quer da música que todos nós apreciamos, quer dos convívios que a mesma nos proporciona. Será sempre um símbolo de união, sendo que a separação será sempre feita por quem alimenta preconceitos ignorantes.
Continuando no palco Stairway, subiam ao mesmo os Blame Zeus, uma banda que também já há muito tempo deviam a sua presença neste festival. Como já tinhamos verificado no Episode II do Louder Than All, a banda de Sandra Oliveira está incrivelmente coesa e a sua actuação no Vagos Metal Fest não nos fez mudar a opinião. Apresentaram o tema novo “Déjà Vú” e estamos convencidos que conseguiram conquistar mais fãs. O excelente trabalho e evolução que têm vindo a demonstrar merece que a sua música chegue a todos, mesmo que o seu estilo musical assente mais no rock do que propriamente metal – mas o espírito de Vagos não se divide em tribos, certo? O cartaz desta edição é bem representativo disso mesmo.
Chegada a hora da inauguração para o Palco Vagos, com os Invoke, banda de Pedro Dias, actual vocalista dos Gwydion, também presentes nesta edição. Confesso que não deixei de sentir um nervoso miudinho já que no dia anterior o som do palco principal deixou muito a desejar. Infelizmente, não se verificou uma alteração muito grande neste ponto. O som além de estar muito alto, estava verdadeiramente caótico com flutuações (inclusive de voz que ia e vinha conforme o vento) que tornava quase impossível perceber o que se estava a passar em termos sonoros. O que foi uma verdadeira pena já que o black metal melódico da banda tem uma qualidade que merecia melhor tratamento, assim como os nossos ouvidos. Apesar de ter sido corrigido aos poucos (no final estava a ficar como deveria ter começado), temas como “Hall Of Mirrors” não tiveram o impacto desejável, o que não deixa de ser frustrante. De qualquer forma a entrega da banda, que contou também com a participação de Muffy dos Karbonsoul, foi exemplar.
Do black metal ao stoner musculado dos Dollar Llama foi um tirinho e a banda de Tiago Simões tem poder suficiente para meter todos os que ainda se encontravam a chegar ao recinto a mexer. “Juggernaut” é um disco monstruoso (não foi um dos trabalhos escolhidos pela World Of Metal para figurar entre os melhores do ano de 2017 por acaso) e apenas um dos motivos para meter todos a mexer – Tiago também exigiu isso do público porque para ter um bom festival não basta ter boas bandas e boas condições. É preciso que o público esteja à altura e o público do Vagos é o melhor de todos. Incansáveis e com malhões a acompanhar, está aqui uma das melhores bandas nacionais quer em música quer em entrega.
Um infortúnio com o vôo dos Masterplan fez com que a banda se atrasasse e tivesse que tocar de hora e de palco com os Ratos de Porão. O palco Vagos recebeu então a mais mítica e histórica banda de punk/hardcore/crossover a cantar em português e o resultado foi aquilo que todos esperávamos – um ensaio de porrada sonora do início ao fim. Com quase quarenta anos de carreira, é incrível como a banda continua relevante musicalmente e até em termos de mensagem, onde temas como “Brasil” e “Crucificados Pelo Sistema” soam assustadoramente reais hoje em dia tal como na década de oitenta. Não faltou também “Beber Até Morrer” e “Aids, Pop, Repressão” (ao ritmo de “Another One Bites The Dust” dos Queen), e ainda a excelente surpresa na forma de “Suposicollor”, do muitas vezes esquecido “…Another Crime In Massacreland”. João Gordo não se cansou de dizer que cantam em português com orgulho e como é sempre um prazer voltar a Portugal. Daquilo que nos diz respeito, o prazer continua e continuará a ser sempre nosso.
Os Masterplan foram então colocados no palco Stairway e deram uma autêntica lição de como fazer power/heavy metal melódico. A banda já sofreu muitas mudanças de formação ao longo da sua carreira mas a sua identidade permanece inalterada. Também ajuda a esse facto que Roland Grapow (ex-guitarrista dos Helloween) e o teclista Axel Mackenrott (sempre brincalhão) permaneçam como colunas fundamentais no som da banda assim como a proximidade de Rick Altzi (também nos At Vance) a Jorn Lande, o vocalista que ajudou a solidificar essa mesma identidade. O tempo era curto mas mesmo assim ainda tivemos oportunidade para ouvir entre temas da banda como “Enlighten Me” e “Keep Your Dream Alive” o clássico épico dos Helloween, “The Time Of The Oath”.
A terra tremeu no Palco Vagos e nem sempre pelos melhores motivos. Se o som dos Moonspell foi um dos melhores do dia, o mesmo mal que afligiu os Orphaned Land voltaria para assombrar uma actuação que tinha tudo para ser perfeita. “Em Nome do Medo” (a versão de “1755” que depois de fundiu com a versão original do “Alpha Noir”) abriu o mote para uma actuação que começou por se basear nos temas do novo álbum, onde se incluiu “1755” e “In Tremor Dei” como alguns regressos ao passado, muito aplaudidos como “Opium” e “Awake”. A banda vinha de um grande concerto na República Checa, segundo as palavras de Fernando Ribeiro e disposta a fazer a festa quando a interpretar o tema “Ruínas”, o que se temia acontecia novamente: faltou a luz no palco. A banda abandonou o palco voltando quando a situação estava regularizada e seguindo em frente porque o tempo já era curto. Era visível o aborrecimento do vocalista que fez a questão de salientar que o Vagos Metal Fest são os fãs que estão presentes todos os anos e que mantém o festival vivo. “Alma Mater” colocou o ponto final numa actuação que não deixou de ter um sabor amargo mas que mesmo assim demonstrou que seja em que condições forem, Moonspell não deixam de ser a maior banda portuguesa de metal.
Para o palco Stairway estava reservada uma das mais aguardadas bandas deste segundo dia. Os norte-americanos Converge não só são uma instituição do hardcore norte-americano como lançaram um dos grandes álbuns do género onde se inserem do ano passado, “The Dusk In Us” que acabou por ser o grande destaque da actuação da banda e com os temas “A Single Tear” e “Under Duress” a ter um grande impacto no público. Tendo em conta que esta é uma banda com quase três décadas de carreira, não deixa de ser impressionante a forma como a banda se movimenta em palco. Incansável e até de meter inveja principalmente para nós, comuns mortais, que já estávamos a acusar o cansaço. Nota também para o som que estava um pouco mais baixo mas que fez com que a qualidade fosse superior.
A banda que maior expectativa e interesse reunia era sem dúvida Cradle Of Filth, que já há muito ,demasiado, tempo não nos visitava, algo que Dani Filth partilhou com o público mais para o final do concerto. Os britânicos começariam com os níveis de intensidade bem altos com a “Guilded Cunt” passando para a já clássica “Beneath The Howling Stars” que na sua recta final teve a participação da… falta de luz. Com um início tão fulgurante, com uma qualidade sonora (pelo menos do sítio onde nos encontrávamos, junto ao P.A.) tão boa, isto seria o pior que poderia acontecer. Quando nos virámos para trás, o técnico meteu as mãos à cabeça e penso que este era o sentimento geral. Felizmente não se voltou a repetir e Dani até brincou/ironizou com a situação dizendo que não gostavam do final da canção e que por isso tinham acabado ali a mesma, referindo que não deviam culpar o festival pelo sucedido.
Seguindo em frente, a banda passeou confortavelmente pelos seus trabalhos mais recentes sem esquecer temas mais clássicos, uma combinação que funcionou muito bem como o caso de “Blackest Magick In Practice” ao lado do clássico “Dusk And Her Embrace”. As incursões ao mais recente trabalho “Cryptoriana – The Seductiveness Of Decay” foram feitas através de “Heartbreak And Seance” e “You Will Know The Lion By His Claw”, esta última dedicada aos Moonspell (uma de muitas dedicadas à banda portuguesa, por quem Dani Filth se referiu bastante, denotanto a ligação forte entre as duas entidades). Tivemos direito a algumas surpresas como a “Bathory Aria” (do álbum “Cruelty And The Beast” que faz no presente ano duas décadas em que foi editado e que será alvo de uma reedição remisturada ainda no final deste ano ou no próximo) e o clássico “The Forest Whispers My Name”. Uma actuação longa, para lá do previsto mas que em jeito de compensação pela quebra de luz, ninguém se pôde queixar. O público certamente não o fez.
Os Attic começaram logo de seguida, assim que os Cradle Of Filth finalizaram a sua actuação e deram uma autêntica lição de heavy metal segundo o evangelho King Diamond e Mercyful Fate. A proximidade vocal entre Meister Cagliostro e o mítico vocalista dinamarquês é assombrosa mas o heavy metal debitado é de uma qualidade tão elevada que nem chega a ser uma questão. Com uma produção de palco fantástica, a fazer com que se entre no imaginário muito próprio dos Attic e malhões como “The Invocation”, “Die Engelmacherin” e “There Is No God”, terminando com “The Headless Horsemen” a sua estreia em Portugal. Não nos importávamos que eles voltassem em breve, em nome próprio.
Para a última actuação do palco Vagos, tivemos uma actuação especial por parte dos Serrabulho, aqui baptizados como Orquestra Serrabulho, com muitos convidados à mistura. O público estava preparado para a festança com bolas, boias e colchões da praia. Uma constante animação onde se misturaram grindalhadas como “Quero Cagar E Não Posso”, “B.O.O.B.S. (Best Objects of Baby Sucking)” e “Pentilhoni Nu Culhoni” com bandolim (cortesia de Sérgio Páscoa) ou com gaita de foles e percussão tradicional portuguesa (que soa especialmente bem a interpretar o riff principal da “Thunderstruck” dos AC/DC). Também ainda houve tempo para um tema novo a sair no próximo álbum e para uma homenagem à nossa colaboradora Fátima Inácio que fazia anos. Guerras de almofadas, crowdsurf em cima de um circle pit por parte do vocalista Carlos Guerra e um comboio humano gigante conduzido pelo mesmo por todo o recinto. Um ponto de final extravagante e único.
A finalizar tivemos os Abaixo Cu Sistema, que entreteram os resistentes com versões dos System Of A Down até o mestre António Freitas entrar em acção até madrugada.
Um segundo dia povoado por grandes actuações e por problemas de som que segundo muitos os que estavam à frente ou a meia distância foram constantes em ambos os palcos, sem falar das já mencionadas faltas de luz no palco. Ainda assim, e pela experiência que tivemos, o resultado final foi bem positivo.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
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