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WOM Tops – Top 20 Industrial/Electronic/Noise Albums 2019

WOM Tops – Top 20 Industrial/Electronic/Noise Albums 2019

Mais um 500-em-1 tem de começar a ser um subtítulo por esta altura. Há muitas percepções diferentes do que é industrial. Para muitos industrial e música electrónica é a mesma coisa. Noise e industrial também, pelo que tentámos ao longo de 2019 capturar todas as diferentes nuances destas três facetas – sabendo que iríamos deixar passar muita coisa ao lado. Aqui está o resultado, vinte álbuns a recordar no lado mais maquinal e abrasivo da música pesada.

20 – Deathcrush – “Megazone”

Apollon Records

Cada vez mais temos tido por aqui propostas nostálgicas. E tem passado da década de setenta para a de oitenta, sobretudo na utilização dos elementos electrónicos. É o que temos aqui, numa espécie de abordagem abrasiva ao pós-punk ou alternativo que tem tanto de rock como de metal. Basta ouvir uma “PushPushPush” para se ficar oficialmente esmagado. Um trabalho mais rico do que aparenta e bem cativante aos ouvidos – mesmo aqueles que não gostam habitualmente destas coisas.

Fernando Ferreira

19 – Misery Loves Co. – “Zero”

Black Lodge Records

Misery Loves Co. finalmente de volta. O regresso da banda foi em 2016 mas apenas agora se materializou num álbum de originais, por incrível que pareça apenas o quarto. Os suecos são o exemplo de uma banda que apesar de ir mudando o seu som ao longo dos anos (na sua primeira encarnação) nunca deixaram de ter uma base leal de fãs. Agora a expectativa era para ver como é que eles iriam surgir após este “pequeno” interregno de quase duas décadas. E a expectativa não foi gorada. “Zero” é um seguimento perfeito para o que apresentaram em “Your Vision Was Never Mine To Share”, onde a melodia é cada vez mais evidente. Temas sólidos, uma certa aproximação ao vibe que nos faz lembrar Nine Inch Nails, onde o industrial continua presente. Surpreendente ideia de colocar a cover dos Garbage, “Only Happy When It Rains”, uma das minhas favoritas da banda, logo em terceiro, algo que até resulta bastante bem. Um grande regresso que implora por seguimento.

Fernando Ferreira

18 – Pander Sera – “Bothy”

Mateo Sound

Ora aqui está algo que não se ouve todos os dias. Pander Sera é o nome de uma artista multi-instrumentista que se dedicou à experimentação caseira antes de avançar para este álbum com um intuito muito forte de lhe acrescentar uma sonoridade mais pop. Não sendo um especialista em música pop, não consigo referir se conseguiu ou não mas o que me parece é que a coisa pende mais para o lado da experimentação, principalmente com um uso bruto de oscillator e de pitchshifter. É um trabalho que tem tantos efeitos em cima que quase parece industrial, mesmo que não lhe possamos chamar música electrónica. O mais interessante é que a experimentação resulta. É visceral, abrasivo mas há realmente elementos que nos cativam a atenção principalmente pela forma como os temas estão construídos. Surprendente trabalho, indicado para os aventureiros.

Fernando Ferreira

17 – Porn – “The Darkest Of Human Desires Act II”

Echozone / Les Disques Rubicon

Segundo álbum da anunciada trilogia por parte dos franceses Porn, correspondendo ao seu quarto álbum de originais. A sonoridade é anunciada como uma mistura entre o rock industrial de bandas como Marilyn Manson e Rammstein e o rock gótico de bandas como Paradise Lost nas sua fase mais acessível. É algo mais para situar o ouvinte do que propriamente como uma descrição fidedigna da sonoridade da banda. E se não se sente entusiasmados pela descrição, temos a dizer que é até um bom álbum, com temas fortes que não só vão buscar um sentido de nostalgia quando evoca os ambientes das bandas atrás mencionadas mas como trazem algo novo. O conceito em si é que não é propriamente algo que nos deixe esmagados mas… concentrem-se na música.

Fernando Ferreira

16 – Holly Herndon – “PROTO”

4AD

Inegável que Holly Herndon está uns minutos à frente de toda a gente. A música electrónica sempre foi a sua arma de eleição e embora ela se tenha afastado das sonoridades mais abrasivas do início da sua carreira, “Proto” mostra-a com um sentido de melodia único… sem dispensar um certo toque agressivo na forma como as mostra, com uma sujidade omipresente. A voz continua a ser a sua grande arma mas a parte instrumental não deixa de ser usada de forma inteligente e marcante. Não será o trabalho mais flagrante dentro do espectro do industrial (e aqui por industrial, focamo-nos obviamente no elemento electrónico) mas é sem dúvida um dos mais cativantes.

Fernando Ferreira

15 – Groovenom – “Wir Müssen Reden”

Out Of Line

Lembram-se daquele feeling electrónico que os Paradise Lost tinham no final da década de noventa e início da década seguinte? Juntem-lhe um pouco de mais agressividade de guitarras e estão bem próximos do que podemo ouvir aqui. Não propriamente uma cópia dos Paradise Lost, atenção, mas a capacidade para criar uma atmosfera bem atractiva para gosta dos seus momentos mais melódicos e depois em segundos, trazer tudo para cima com agressividade que não só faz o contraste como ainda traz mais poder às músicas em si. Sabemos que apesar de não ser revolucionário, tem qualidade suficiente para se salientar perante a concorrência.

Fernando Ferreira

14 – Heartlay – “Attack & Agony”

Edição de Autor

Há várias formas de definir industrial. Há a vertente próxima do metal, há a forma próxima do rock e há a forma mais experimental. Os Hearlay acabam por se aproximar mais do rock e fazem-no com mestria, trazendo algo de muito seu para cima da mesa. Aquilo que mais nos atraiu foi a ambiência que conseguiram criar em temas como “The Sharpest One” ou “Torn In Two”. E juntam-lhe a convergência de muitos mais elementos que em conjunto nos dão um grande álbum.

Fernando Ferreira

13 – [P.U.T] – “We Are (Br)others”

Edição de Autor

Não temos muita informação em relação ao trabalho dos [P.U.T], além de que se trata de três irmãos que se dividem entre Paris e Bruxelas e que já andam nisto há já bastante tempo, há mais de 21 anos, o que não deixa de ser algo assinalável. Este álbum em que a banda anda à procura de uma editora para o lançar é espelho da sua diversividade e da sua capacidade por nos trazer industrial orgânico, algo que nem sempre acontece. Apesar de algumas experiências à la Godflesh (como na “Possessed”), a banda tem um som bastante original pela forma como conjuga a vertente mais tradicional e a industrial, sendo que o resultado é bem elevado em termos de qualidade.

Fernando Ferreira

12 – Sólveig – “Constantly In Love”

Artoffact Records

Estão a ver aquela sonoridade que a Cold Meat Industries, a mítica editora de ambient, neo-folk, dark wave e industrial, apresentava de vez em quando? Se sim, é o estado de espírito perfeito para aquilo que podem ouvir aqui. Depois de uma estreia que trouxe a Sólveig Matthildur (conhecida por ser teclista e vocalista de apoio de Kaelan Mikla) o devido reconhecidomento, aqui está o segundo álbum a solo que nos traz aquele sentimento electrónico frio que nos aponta tanto para algo como Massive Attack como Dead Can Dance. Um trabalho surpreendente que mesmo quem não goste de música electrónica definitivamente vai encontrar pontos de atracção.

Fernando Ferreira

11 – Nekrasov – “Lust Of Consciousness”

Prosthetic Records

One-man band que nos traz uma verdadeira desafio. Gostamos de nos considerar como pessoas simpáticas que ouvimos tudo e de tudo – principalmente desde que abraçámos esta missão onde temos de, literalmente, ouvir de tudo. Apesar de ter aberto (e continuar a abrir) os nossos horizontes, isso não quer dizer que torna mais fácil a tarefa de analisar um trabalho como este “Lust Of Consciousness” que é uma autêntica salganhada musical. Barulheira infernal, como quiserem encarar. Trata-se de um projecto que tem por base a aventura de misturar o noise e power electronics ao Black Metal. Não sendo algo de particularmente novo, o que há a salientar aqui é o facto dos resultados surpreenderem pela eficácia. “Treachery Of The Yoke” é um exemplo perfeito dessa mesma eficácia. Não sendo para todos, mas recomendado para os corajosos.

Fernando Ferreira

10 – Combichrist – “One Fire”

Out Of Line

Podemos dizer que os Combichrist são daquelas propostas de industrial que vão agradar mais aos fãs hardcore do que propriamente aos de metal. Isto porque em termos vocais se aproxima mais do hardcore, mas não deixamos de ter aqui riffs que tanto nos relembram os momentos mais inspirados de um Rob Zombie como também de uns Ministry por exemplo, com uma abordagem que também vai beber ao lado mais dançante da música electrónica. O que é inesperadamente eficaz. Nem era preciso ter a participação de Burton C Bell na “Guns At Last Dawn” para aumentar a excelência do trabalho.

Fernando Ferreira

9 – Merci – “5”

Edição de Autor

Ora aí está o quinto lançamento dos Mercic, e o seu quarto álbum. Com o foco total de Carlos Maldito que largou todos os seus outros projectos e bandas, este álbum marca o início de uma nova era para este projecto industrial. E o mesmo dá-se de forma surpreendente, de uma forma que é tanto mais intimista como mais intensa. For a todas as colaborações (Miguel Tereso dos Primal Attack; Carlos Lichman, nosso colaborador e um excelente guitarrista; Miguel Ribeiro dos Askashic; César Palma e Paulo Dimal, ambos dos Cryptor Morbious Family e Inkilina Sazabra; Sandra Félix, Jorge Caldeira da Catedral do Rock e Carlos Ferraz também nosso colaborador e vocalista dos Incógnita e Shapeshifter. Os temas insurgem-se de forma sedutora como se fosse uma dança feita para nos hipnotizar, algo que consegue com relativa facilidade. Um trabalho que nos orgulhamos de apoiar.

Fernando Ferreira

8 – Ascend The Hollow – “Echoes Of Existence”

Dr. Music Records

Excelente surpresa esta dos irlandeses Ascend The Hollow. Não só apresentaram um forte álbum de estreia, como também trazem uma sonoridade refrescante, e ao mesmo tempo nostálgica. Lembram-se daquelas propostas de metal extremo no início do milénio, quando tínhamos bandas com tiques de metal melódico a surgir com arranjos electrónicos? É um bocado isso, mas sem deixar de apresentar um feeling de frescura ao longo destes temas, algo que nos faz ter a sensação de déjà vú mas ainda assim não perdermos o entusiasmo. Melódico – principalmente pela voz feminina fantástica – e ao mesmo tempo poderosamente épico. Ou épicamente poderoso.

Fernando Ferreira

7 – K-X-P – “IV”

Svart Records

E agora algo completamente diferente. Sim, eu sei, o chavão dos Monty Python já está mais que gasto mas neste caso enquadra-se perfeitamente. Temos este projecto de música electrónica que é ideal para quem gosta de viajar na maionese, mesmo que a música electrónica não seja o seu forte. A verdade é que a batida misturada com os drones vintage têm um efeito altamente hipnótico. Percebemos porque é que não será do agrado de qualquer um mas ainda assim, para quem gosta de aventuras sónicas, esta é um das derradeiras…

Fernando Ferreira

6 – Under All – “Out Of Control”

Edição de Autor

Boa surpresa, os Under All. Para estarem aqui já podem ver que foram realmente uma boa surpresa. É difícil encontrar o equilíbrio no metal industrial mas os Under All sabem bem como o fazer, ou pelo menos fizeram-no de forma exemplar em “Out Of Control”. Não só têm a atitude maquinal necessária como também evidenciam capacidade para imprimir às suas músicas um ambiente cinematográfico que acaba por nos puxar. Se os lugares comuns são perigosos, os Under All mostram que não é preciso ter medo deles ou sequer evitá-los. Apenas saber como os usar em sem proveito e é o que conseguem aqui neste que é o seu melhor trabalho.

Fernando Ferreira

5 – Dis Fig – “Purge”

Purple Tape Pedigree

Se há um termo que nos surge quando pensamos no industrial é, para além da óbvia ligação à música maquinal e electrónica, desconforto. E se há algo que temos aqui em “Purge” com fartura é desconforto. Ritmos maquinais que anunciam a vinda do anticristo ou simplesmente o nosso próprio fim, com vocalizações no pólo oposto, como se fossem sintonizações distantes de uma alma pura algures na perdição a pedir por auxílio. Isto é apenas uma das catarses que tive ao ouvir este álbum mas existem muitas mais. A cada audição, novas imagens, novas sensações e isto tendo em conta que Dis Fig é, essencialmente, uma vocalista. Mas há tantas formas, desconfortáveis, de usar a voz… aqui temos um manual para isso.

Fernando Ferreira

4 – 3Teeth – “Metawar”

Century Media Records

Impossível não pensar em Rob Zombie, Ministry e até Marilyn Manson ao ouvir este terceiro álbum dos 3Teeth que consegue ir mais além do que apenas copiar o que já foi feito. Carregado de conteúdo lírico de contestação social, temos aqui mais poder do que os últimos trabalhos de bandas como Ministry. Um álbum surpreendente – principalmente para quem não os conhecia – que além de dinâmico e pesado, prova que há espaço para a evolução do estilo nos domínios mais mainstream para além dos nomes atrás citados.

Fernando Ferreira

3 – Minority Sound – “Toxin”

MetalGate Records

Os Minority Sound são um conjunto de 4 checos que se uniram em 2007 para mostrar ao mundo o seu som de metal industrial. Com um registo de lançamentos bastante frequente, principalmente quando consideramos que há bandas que por cada álbum que lançam desaparecem do mapa durante 3 anos se for preciso, os Minority Sound apresentam o seu mais recente investimento, Toxin, um álbum tanto pesado como original e claro/moderado em tom, composto por um total de 8 faixas que se prolongam por 37 minutos. Este é um álbum que de facto motiva a escrita destas reviews, uma verdadeira lufada de ar fresco que demonstra que para se ser diferente/original não é preciso abdicar de absolutamente nada mantendo-se perfeitamente leal às origens. Por poucas palavras, o que esta banda faz neste álbum é fundir elementos de metal moderado e frequentemente extremo àquilo que penso serem maioritariamente influências do estilo ciber-gótico numa vertente mais ambiente (não tenho a certeza disto contudo – deduzo do pouco que conheço do género e do facto da banda se identificar também através do rótulo de cibermetal), havendo na maioria dos casos um maior pendor para o primeiro. Há bastantes samples, contudo são todas bem vindas, o vocal é rugido (quase bizarramente parecido a Dethklok) com alguns segmentos cantados calmamente e de forma limpa, o trabalho de guitarra fica-se mais pelo rítmico sempre bastante competente e a bateria fica-se por um estilo mais comum e minimalista mas sempre em velocidade rápida.  Num todo, tem sonoridades épicas,  do estilo de rugir nas montanhas e não propriamente de matar dragões, que partilham o panorama com sonoridades mais calmas (guitarra acústica) e com as maioritárias sonoridades de metal imponente. Não é um metal industrial comum, isto é, afasta-se bastante da imagem mainstream que temos deste subgénero na medida em que esta banda dá um particular enfoque no peso metaleiro que roça 80% das vezes no death metal, dando uma atenção menor, mas igualmente importante, às componentes “digitais” e eletrónicas. Literalmente, tanta conversa apenas para dizer que o álbum é bom. Vão lá experimentar, principalmente se gostam destes estilos híbridos que misturam ambiente, death e pedaços de industrial, porque não têm nada a perder aqui.

Matias Melim

2 – Uivo Bastardo – “Clepsydra”

Ethereal Sound Works

Podemos dizer que os Uivo Bastardo são a surpresa de 2019? Acho que sim, agora que Conan Osíris já não tem hipótese de ganhar a Eurovisão – embora isso não representasse propriamente uma surpresa. Bem, felizmente para o nosso underground temos tido muitas surpresas ultimamente mas podemos dar o destaque aos Uivo Bastardo, pela sua sonoridade que mistura (e bem) o metal e industrial assim como cantar em português – sempre, sempre, um ponto positivo. Apesar de curto – trinta e cinco minutos – este trabalho apetece dissecar vezes sem conta e o dinamismo de temas como “Eterno Retorno” faz com que se afaste aquele estigma de que o industrial tem que ser quadrado, rígido e inorgânico. Excelente surpresa.

Fernando Ferreira

1 – Black Earth – “Gnarled Ritual of Self Annihilation”

Sentient Ruin / Cyclic Law

Black Earth é uma designação mais que apropriada porque o que se tem aqui é mesmo lama, daquela negra mas não tão líquida como petróleo. Algo ainda mais pútrido e vil. Podemos dizer que Black Earth é um disco de industrial. Podemos dizer que é também ambient (ou dark ambient). Podemos dizer muita coisa com as quais poderão haver as mais variadas respostas, discordâncias ou concordâncias, no entanto, o que podemos dizer de forma consensual é que esta é a banda sonora da queda. A Queda. Do ser humano, da esperança, da luz. É um abismo sem fundo de tudo o que tentamos esconder. Ou seja, não é algo que seja propriamente agradável, não deixando de ser aliciante – porque temos sempre curiosidade em olhar para o abismo mesmo que seja entre dedos. Definitivamente não é algo que queiramos ouvir todos os dias mas um trabalho desta pujança tem de ser salientado de todos os outros.

Fernando Ferreira

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