Review

WOM Reviews – Ragnarok / Kafka / Urn / Suspiral / Abhor / Abysmal Grief / Monarque / Nrvk / Hoofstomper

Ragnarok – “Non Debellicata”

2019 – Agonia Records

Saída da 2.ª vaga de Black Metal, na Noruega, os Ragnarok nunca foram muito mais que uma banda regular. A consistência no trabalho apresentado ao longo destes 25 anos deu-lhes um estatuto de banda “leal” às bases que definiram o que tomamos hoje como Black Metal Noruguês.
É, claramente, Black Metal forte e agressivo! Não foge da fórmula do Black Metal clássico, de modo algum, mas quando a fórmula é repetida, mas com um acréscimo de qualidade, há que ficar de sobremaneira satisfeito com tal. Há apontamentos que fogem ao Black Metal, como é o início de “Gerasene Demoniac”, com aquele trabalhado de guitarra, perfeito! Mesmo a “Jonestown Lullaby” apresenta elementos que há 20 anos nunca ouviriamos numa música de Black Metal… para de seguida nos agarrar pelos colarinhos e sacudir com toda a força possível! “Bestial Emptiness”… potente e imediata!

Há muitos anos que um álbum de straight forward Norwegian Black Metal me agarrava desta maneira. É Melodic Black Metal, mas é bom! As faixas seguem uma fluidez que a muitos álbuns de bandas ditas grandes, falta. Tem aquela produção limpinha que nos permite escutar todo e cada momento de cada um dos instrumentos, ao mesmo tempo que a voz, forte e agressiva q.b., guia a música, qual Viking prestes a entrar em batalha! Melodia, senhores e senhoras, Melodia. O álbum ganha muito com todos os momentos repletos de melodia. A banda não se privou de incluir pequenos solos de guitarra, quase despercebidos, que enriquecem as malhas! O início do álbum não poderia ter sido outro: um imediato murro no estômago!
Reinventam a roda? Trazem algo para o género que tocam desde sempre? Não, de modo algum. Seguem a linha daquilo que fazem há mais de duas décadas, mas fazem-no bem, muito bem! Álbum que agradará a todos aqueles que têm, ainda, a cena Noruguesa como a base do Black Metal.

Nota 8/10
Review por Daniel Pinheiro


Kafka – “No Return”

2019 – Wooaaargh 

De Patras, Grécia, chegam-nos os Kafka. Black Metal infused Hardcore/Crust. Esta mistura pode soar um tanto ou quanto estranha, mas resulta bastante bem. Este Post Hardcore, com elementos mais acelerados, quase Punk ou Crust, associados a linhas de guitarra e vocalizações mais (Soft) Black Metal, dão-lhe uma vitalidade e um crescendo constante.
Grécia, esse país imerso em (ocasionais) tumultos sociais e políticos, casa de bandas com um enorme sentido de contestação social, usando a Música para propagarem a sua mensagem! Vindos da cena DIY Punk/Crust, estes Kafka editam este ano o seu primeiro trabalho (“No Return”) e mostram-nos do que são capazes.
Ritmos lentos, descaradamente roubados a bandas como Cult of Luna ou Fall of Efrafa, talvez inclusive um pouco de Oathbreaker, não fazem destes gregos os criadores de algo nunca antes ouvido, mas sim um grupo de jovens que conseguiu recolher elementos e criar uma sinergia robusta e consistente. Momentos acelerados, claramente reminiscentes do Crust, interligam-se para criar esta estrutura.

É Fast, é Slow, é Mellow e é Heavy! Os vocais são fortes – mais Crust que Black Metal – mas encaixam muito bem na construção instrumental.
Nada de novo? Não, nada de novo, sem dúvida. Mas bom? Sim, isso sim, concerteza! Quase que nos coloca numa qualquer demonstração de desagrado social, num qualquer ponto deste globo. A punch to the stomach, a kick to the teeth!

Nota 7/10
Review por Daniel Pinheiro


Urn – “Iron Will of Power”

2019 – Season Of Mist Underground Activities

Chegados a 2019, somos obsequiados com um novo álbum dos finlandeses Urn. Formados em 1994 por Sulphur, ex-membro de Barathrum, têm neste “Iron Will of Power” o quinto álbum da banda, sendo que a  marca se mantém: Black Thrash Metal como estipulado nas Escrituras. Rico em força e raiva, com riffs acutilantes e melodiosos q.b. Um pormenor que considero “engraçado” em alguns dos temas deste álbum, e que lhe dá um pouco mais de algo, é a inclusão de solos de guitarra que me remetem para o Traditional Heavy Metal! Bem, prestando atenção ao álbum, essas referências estão presentes um pouco pela totalidade do álbum. Desaster ou Destroyer 666 são duas das referências que podemos encontrar em Urn, sendo que o Black Thrash destes não se mostra uma cópia descarada, de modo algum! Quiça seja esta a razão pela qual este trabalho me agrada mais do que alguns, editados pelos “simbolos” do Thrash mundial: a diversidade que se consegue encontrar. Não considero que haja Thrash à lá Slayer, de modo algum. Conseguimos discernir a origem da banda, de certo modo, pela música que esta cria. Como já refeido anteriormente, em momento algum os temas dão mostras de fraquejar, deixando bem claro qual o mote da banda e do novo trabalho.

“Prayers” e a bateria que dá o mote para a mesma, imensamente bem estruturada. O groove pesado que balanceia os temas, é pesado e sobremaneira bem vincado. As vocalizações são perceptíveis o bastante e, adicionadas ao intrumental, bem equilibradas. “Gates of Hyboria” marca a diferença: pequeno interlúdio melódico… imenso! Inpensável num qualquer álbum de Thrash! Mas resulta tão bem, mas tão bem, com o seu riff Traditional Heavy Metal. Esqueçam! “Demonlord” leva-nos de novo para aquilo que a banda faz melhor: Black Thrash Metal… com apontamentos Traditional Heavy Metal! O Thrash dos Urn não segue a linha do Thrash tido como… Tradicional, sendo que a banda dá mais foco à melodia que à velocidade e/ou brutalidade aplicada à música. “Spears of Light” é quase Punk… mas de novo os riffs Traditional Heavy Metal. Chegamos ao fim e percebemos que estamos perante algo mais que somente um álbum de Black Thrash. Estamos perante um álbum que sim, se pode catalogar/rotular, na sua essência, como Black Thrash, mas que mostra ser um pouco mais que isso, um pouco mais rico e diversificado.

Nota 8/10
Review por Daniel Pinheiro


Suspiral – “Chasm”

2019 – Sentient Ruin Laboratories

Formados em 2014, os Suspiral são uma banda espanhola, mais precisamente da Galícia, dedicada ao black/death metal ambiente e, basicamente, sem letra (a voz aqui apenas se dedica á sua função mais ruidosa e ambiente). Com 1 EP e 2 álbuns lançados, decidimos mergulhar naquele que foi o seu mais recente projeto – Chasm. Lançado em Maio deste ano, este álbum é composto apenas por 4 faixas mas expande-se pelo tempo normal de um álbum como outro qualquer, situando-se á volta dos 39 minutos. Neste álbum, os Suspiral demonstram o seu estilo através de mecânicas que, embora extremamente repetitivas, fazem bem o seu trabalho de criar o caos metaleiro sendo que para destabilizar estes momentos de alta repetição, surgem uns poucos segmentos bastante explosivos de solos de guitarra igualmente caóticos. Contudo, ao chegar à 3ª faixa do álbum já começam a surgir as críticas ao álbum e que aqui também já foram expostas. A repetição torna-se extremamente perceptível e aliando isso ao facto de que o estilo musical dos Suspiral ser tão pesado e caótico, acaba-se por determinar esta experiência como algo cansativa… com qualidade, mas extremamente cansativa, circular e ausente de momentos diferenciadores que permitam ao ouvinte esperar por mais. Como diz o outro: “vai sempre dar tudo ao mesmo”. Apesar desse aspecto, este é um álbum que muito provavelmente irá agradar ás legiões do metal mais pesado e meta, contudo a falta de ritmos mais explosivos e sentidos, acaba por deixar de parte a generalidade do público que não costuma buscar muito este estilo.

Nota 7/10
Review por Matias Melim


Abhor / Abysmal Grief – “Legione Occulta / Ministerium Diaboli”

2019 – Iron Bonehead Productions

Split que junta duas bandas de metal extremo italiano, sendo que os Abhor são mais voltados para um black metal levemente melódico mas bem cru que consegue criar uma atmosfera bem propícia – os samples de um exorcismo em “Legione Occulta” ajudam também a esse efeito, ou os teclados macabros de “Possession Obsession”. Já os Abysmal Grief apresentam-se com apenas um tema, “Ministerium Diaboli” onde também adoptam a abordagem crua e primitiva do metal, neste caso do doom. Com um grande foco nas ambiências criadas pelos teclados, o som é tão (ou mais) podre como os parceiros de split mas os resultados não são tão memoráveis. Ou pelo menos o impacto não é tão forte. Todavia, este não deixa de ser uma boa junção de dois nomes fortes do underground italiano.

Nota 7.5/10
Review por Fernando Ferreira


Monarque – “Jusqu’à la Mort”

2019 – Sepulchral Productions

Os canadianos Monarque são um nome forte do black metal mais épico que até 2014 teve presença assídua no underground, sendo que foi este “Jusq’à La Mort” que quebrou esse mesmo silêncio de cinco anos. E em boa hora, porque os resultados foram muito bem conseguidos nestes três temas que seguem a linha tradicional da banda, com uma pequena surpresa, neste caso o épico de onze minutos de “Le Grande Deuil”, que conta com a participação de Lambert Segura dos Saor no violino. Um regresso que implora por um álbum.

Nota 9/10
Review por Fernando Ferreira


Nrvk – “Thghtlss Lght”

2019 – Ván Records

Já vimos muitas formas peculiares de acentuar a individualidade e já vimos muitas – desde máscaras, capuzes até mesmo a ausência de qualquer tipo de informação – mas destacar por não usar vogais no nome de banda, que neste trabalho ampliam até ao título do EP, é uma novidade. Faith divers aparte, o que interessa é mesmo a música e a banda alemã apresenta-nos um black metal claustrofóbico devido a teia de dissonâncias que vão construindo. Não é dos trabalhos mais fáceis de ouvir mas é dinâmico o suficiente para manter o ouvinte agarrado. Dinâmico e desafiante.

Nota: 7.5/10
Review por Fernando Ferreira


Hoofstomper – “Chapter I”

2019 – Edição de Autor

Som forte e poderoso com contornos bem familiares do nu-metal disfarçados apenas pela voz mais rasgada e arraçada de algo mais extremo que é intercalada com uma bonita voz feminina, essa sim, mais adequada ao instrumental que nos é apresentado. Ainda assim, e para quem não comecem já a colocar esta banda e este EP de parte, temos alguns preciosismos técnicos interessantes e alguns pormenores que até estariam mais adequados numa banda de metal progressivo mas que aqui acabam por enriquecer e fazer o contrabalanço com a faceta mais imediata. É uma boa mistura e um bom EP.

Nota 7/10
Review por Fernando Ferreira


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