WOM Report – Agnostic Front, Mordaça, Shame On You Humans @ RCA Club, Lisboa – 21.11.19
Noite de hardcore clássico, com um dos maiores nomes clássicos da cena norte-americana, e previsivelmente, noite de sala esgotada no RCA Club. Agnostic Front dispensa apresentações mas o facto de estarem a celebrar o mítico álbum de estreia, “Victim In Pain”, lançado à trinta e cinco anos atrás – um testemunho da longevidade e relevância da banda nova-iorquina. Este era nitidamente um dos grandes concertos mais aguardados pelos fãs do estilo e para tornar o evento ainda mais memorável, nada como ter duas bandas nacionais de valor acrescentado a abrir: Mordaça e Shame On You Humans.
Pena que em noite de lotação esgotada a banda de Sintra tenha tocado para uma plateia a meio gás. Isso não os impediu de nos darmos aquela dose muito característica de punk metalizado capaz de por a mexer até um morto. O sinal da sirene de ataque áreo deu o mote para as atenções se voltassem para o palco e levassem com a jarda de “Sybuya”. Apesar da sonoridade apelar ao movimento, o público mostrava-se ainda algo apático, mesmo com o incansável Carlos Matos na bateria a puxar por ele. Ou então estavam a resguardar-se para o que viria depois. Ainda assim foi possível ver a sala a encher conforme a actuação decorria, fazendo-se justiça para temas como “Wild As Fuck” e “Atheist” dois dos grandes destaques do reportório da banda. Uma boa oportunidade para a banda espalhar o seu nome que consideramos ter sido aproveitada, conquistando assim mais alguns fãs.
Já os Mordaça trazem consigo tradição e muitos fãs. Para quem não os conhecia (haveria alguém quem não os conhecesse?), as apresentações não poderiam ter sido feitas da melhor forma. Começando de rompante, não havendo propriamente uma divisão entre o soundcheck e o início das hostilidades. Som bem poderoso, quem estava antes apático, tinha agora despertado e animação foi outra, apesar do espaço vazio que separava a frente do palco do restante público, na zona de segurança mais atrás. Alternando temas já clássicos como “Demência” e “Sempre a Lutar” com as novidades de “Tiros Certeiros” (EP lançado na véspera deste concerto e que podem ouvir aqui) como “Sem Saída” e “Seguir Em Frente”, o andamento já era por esta altura intenso.
A banda de Linda a Velha agarrou a sua actuação com grande garra – “Sem Saída” foi de tal forma frenética que praticamente obrigou as portas do inferno (ou seja do moshpit) a ficarem escancaradas. Coesos como nunca, os Mordaça são sempre um ponto alto em qualquer cartaz, seja a abrir para outros, seja em nome próprio. Neste concerto em específico, foram um aquecimento de luxo para os padrinhos do hardcore que seguiriam, cortesia de uns dos mais ilustres filhos da LVHC que mostraram bem como se fazem as coisas cá por Portugal.
O momento mais esperado não demorou muito a chegar. Ou então a expectativa já era tão alta que até o próprio tempo começou a distorcer. “Are You Ready” foi o que se ouviu assim que a banda entrou. Começaram com “AF Stomp”, instrumental que serve bem de intro, da novidade “Get Loud!” e que serviu de portão de entrada para a loucura que estalou imediatamente assim que Roger Miret entrou em palco. “Victim In Pain” e “Your Mistake”, curtas e intensas foram os primeiros temas que cantou e deram início à louca batalha campal que iria durar até ao final do concerto. Já vimos muitas bandas deitarem o RCA abaixo, mas desta forma… deverá ser um recorde qualquer algures. Mas não era para menos, com clássicos atrás de clássicos. Até mesmo os poucos temas mais ovos tinham o mesmo efeito.
O frenesim em frente ao palco acabava por ser quase hipnótico, ver os corpos a mergulharem sucessivamente para o mar do público que estava constantemente a embater e a inundar o palco. Era engraçado ver como por vezes até parecia que os músicos estavam a atrapalhar – Miret foi algumas vezes empurrado para o lado por fãs mais afoitos, danados para se mandarem para a piscina. Mas é isto o hardcore, com o vocalista nunca mostrando desagrado com o caos instalado. Aliás, o vocalista norte-americano acabaria por chamar ao palco apenas as raparigas, e que era a vez delas se amandarem para cima dos homens que passaram o concerto todo a mandarem-se do palco. E assim foi.
Sobre Roger Miret, o próprio confidenciou ao público que este concerto esteve para não acontecer devido a ele se encontrar bastante doente mas que a reacção do público foi a melhor cura que poderia haver. Olhando em retrospectiva, não houve um momento em que se notasse qualquer tipo de limitação física, excepto por vezes no volume da voz conforme o concerto progrediu. Outro rosto do agradecimento foi Vinnie Stigma, o único membro original dos Agnostic Front, não se cansando de agradecer ao público por gestos, ele que se chegaria à frente para cantar por algumas vezes, sempre com grande impacto entre o público.
Para o final, um curto encore mas recebido em êxtase, principalmente a cover de Ramones, “Blitzkrieg Bop” que colocou as coisas num patamar tão elevado que não houve alternativa senão acabar por ali mesmo uma noite. Curta para todos os fãs que quereriam estar lá toda a noite mas cheia de recordações que perdurarão por muitos mais anos a fio. Palavra aparte terá de ser dada também mais uma vez ao público, pela energia e entusiasmo que literalmente resultaram no grande concerto que tivemos oportunidade de presenciar. Incansáveis como se o mundo acabasse no momento seguinte. Noites assim, de irmandade e diversão, não têm preço. São imortais
Texto por Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
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