WOM Reviews – Ashes Of Life / Ashtar / Death. Void. Terror. / Bismarck / Kiss The Goat / The Ditch And The Delta / I, The Weapon / Sorcia
WOM Reviews – Ashes Of Life / Ashtar / Death. Void. Terror. /
Bismarck / Kiss The Goat / The Ditch And The Delta / I, The Weapon / Sorcia
Ashes Of Life – “Seasons Within”
2020 – Edição de Autor
Não é novidade nenhuma sermos surpreendidos por bandas sem contrato que lançam o seu álbum de estreia. Acontece frequentemente. Mas sempre que temos uma banda portuguesa, não deixamos de ficar tanto surpreendidos quanto esmagados, principalmente quando a qualidade é aquela que os Ashes Of Life evidenciam neste “Seasons Within”. Não é muito claro se estamos perante uma verdadeira banda ou de projecto (até porque o vocalista é sueco – Stefan Nordström dos Ending Quest, Desolator e Soliloquim) mas aquilo que interessa mais, é pela música mesmo. Doom melódico, com uma sensibilidade gótica que parece que já não se encontra nos dias de hoje. E não é apelo nostálgico, é simplesmente fascínio pela beleza melancólica que nos surge através destes seis temas. Certamente que apelará aos adeptos da melodia no doom, mais ainda que do peso, mas peso também é coisa que não falta por aqui ao longo de quase quarenta e cinco minutos. Que, resta dizer, soa a pouco. Mesmo a pouco!
9/10
Fernando Ferreira
Ashtar – “Kaikuja”
2020 – Eisenwald
Black e doom metal é uma mistura que nem sempre bate bem, mas no caso dos Ashtar temos que dizer que funciona na perfeição. Mais do que ter os dois elementos à luta entre si, conseguimos sentir uma harmonia completa e o resultado é um conjunto de temas que têm o equivalente a um tranquilizante para cavalos. Não por ser aborrecido ou desinteressante mas principalmente por ter um groove gigante e por instaurar uma espécie de mantra que nos endromina por completo do início ao fim. Não há drogas que consigam bater o estalo que isto manda.
9/10
Fernando Ferreira
Death. Void. Terror. – “To The Great Monolith II”
2020 – Repose Records
Nunca uma designação de uma banda se enquadrou de forma tão perfeita com o seu som. Os Death. Void. Terror. tocam um doom metal enegrecido pelo sentiment de claustrophobia, desespero e até alguma loucura. É um mistério quem está por trás do projecto e sinceramente nem interessa muito. Estes quatro temas não têm um título propriamente dito [“(- — -)”, “(- —)”, “(– – –)” e “(– –)” são os títulos e não sabemos será algum tipo de código morse] mas também não interessa muito. O que interessa mesmo é a forma como isto nos bate em cima e nos deixa completamente à toa sem saber bem de onde viemos, o que queremos e até mesmo porque raio respiramos. Cheira-nos que eles também não estão propriamente preocupados com isso.
8.5/10
Fernando Ferreira
Bismarck – “Oneiromancer”
2020 – Apollon Records
Os noruegueses Bismarck estão de volta para o segundo round, após “Urkraft” em 2018. Nesta segunda volta encontramos a banda com maiores abrangências sonoras. O doom continua a ser a sua forma de expressão mas no entanto evidenciam-se uma maior eficácia na parte da ambiência. Não é um requisito essencial para o género, mas ajuda em muito e temas como “Hara” fazem a diferença por isso mesmo. Há por aqui um certo psicadelismo também, mas de forma suave. Não é o equivalente a andar a navegar com ácidos. É mais canhamo. Do puro. Cativante e dinâmico como poucos.
8.5/10
Fernando Ferreira
Kiss The Goat – “Insalubrious”
2020 – Edição de Autor
Uma boa maneira de provar que o inglês safa muita coisa é repararmos nos nomes de bandas oude álbuns. “Beija a Cabra” ou “Beija o Bode” é bem caricato. E estas são as preocupações que surgem antes de analisarmos o quer que seja, o que se pode ver por aqui como a mente é mesmo deviante. E nem sempre pára. Se a música for desinteressante. Se a músicca tiver a qualidade de “Insalubrious”, o foco muda por completo. Doom metal com pitadas de sludge que nos deixa bem satisfeitos por termos finalmente uma banda sonora à altura dos dias complicados em que vivemos. Não será algo nos colocará num estado de disposição diferente, mas ficaremos anestesiados para melhor suportarmos este. Desespero reconfortante. “Dying Light” é especialmente eficaz neste aspecto.
8.5/10
Jorge Pereira
The Ditch And The Delta – “The Ditch And The Delta”
2020 – Prosthetic Records
Oriundos de Salt Lake City (Utah) os The Ditch And The Delta acabam de lançar o seu segundo álbum de originais com o titulo homónimo ‘The Ditch And The Delta’. O Sludge Metal aparenta proliferar naturalmente nos Estados Unidos, mas enquanto outras bandas similares vão apostando essencialmente em híbridos de Sludge com outros subgéneros os The Ditch And The Delta congeminam composições musicais numa vertente mais autêntica do Sludge, não descurando ainda assim o experimentalismo e as ténues e circunscritas manifestações de Noise. ‘The Ditch And The Delta’ pode-se caracterizar pelos riffs austeros e ruidosos, o permanente groove do baixo e as imprevisíveis mudanças de agressividade, tudo envolto num ambiente inóspito, sóbrio e implacável, são também notórias as influências de bandas como os emblemáticos Neurosis ou os virtuosos Mastodon no Sludge habitual da banda. A sua incontornável qualidade “obriga-me” as destacar as faixas ‘Maimed’, ‘Mud’ e ‘Bleed The Sun’ como pontos bem altos deste interessante, criativo e intenso álbum.
8/10
Jorge Pereira
I, The Weapon – “The Ivy”
2018 – Edição de Autor
A estreia dos argentinos I, The Weapon, só nos chegou agora mas cada vez mais acreditamos que nunca é tarde – principalmente porque teríamos de ter muitas mais horas por dia para conseguir chegar a todo o lado e mesmo assim um ano não chegaria. Adiante. “The Ivy” é um daqueles trabalhos que nos conseguem causar um impacto forte pelo ambiente que criam. Um ambiente frio e desolado mas ainda assim que nos atrai como se falasse a um lado negro nosso, um lado mais (ou menos) oculto que transportamos sempre connosco. Apesar de não ser nenhum passeio no parque, é sem dúvida algo que puxa a audição diversas vezes. Sludge/ambient? Não sei se existe mas se não existir poderá estar aqui um primeiro exemplar.
8/10
Fernando Ferreira
Sorcia – “Sorcia”
2020 – Edição de Autor
Dos E.U.A. e apenas um ano após a demo que inaugurou a sua discografia, os Sorcia editam este álbum auto-intitulado que nos traz um stoner pesadão que depende dos seus riffs para nos deixar num estado de letargia bem intenso. Letargia não causada por aborrecimento mas por ter um groove que nos entorpece os sentidos tal como se estivessemos num tratamento de fumos – daqueles para purificar os espaços de espíritos impuros. Sentimos uma vontade enorme de nos enconstarmos e apenas apreciar o momento, tal como ele é. Talvez não seja o melhor elogio, mas acreditem, a sensação é boa.
7/10
Fernando Ferreira