WOM Tops – Top 20 Folk Albums 2020
WOM Tops – Top 20 Folk Albums 2020
O folk é uma porta de entrada para outros mundos, para outras culturas (onde até se inclui a nossa, que actualmente chega a ser ainda mais estrangeira do que a estrangeira) e é sempre uma forma de viajar dentro de nós. Viagens de auto-descoberta onde a imaginação é igualmente valorizada. Temos aqui então vinte viagens, bastante diferentes, mas todas excelentes. Garantia de qualidade WOM.
20 – Ismay – “Songs Of Sonoma Mountain”
Edição de Autor
Ficámos desde o início fãs do trabalh de Ismay. Uma voz e uma simplicidade desarmante que mistura o folk com o indie e o resultado são retratos intemporais de memórias que já vivemos mas que ganham um outro encanto. Graças a estas músicas. Simplicidade é talvez redutor para a alma que tranporta em temas sentidos como “When I Was Younger I Cried” ou até mesmo na longa peça spoken word que é “The Song Of The Mourning Dove Spoken Word”. Não é um trabalho imediato até mesmo para quem gosta de folk norte-americano, mas para quem tiver os horizontes minimamente abertos, será fantástico.
Fernando Ferreira
19 – Hayfitz – “Capsules”
Edição de Autor
Consta que este álbum foi gravado em dezoito dias, num casa em Seattle, rodeada por uma paisagem idílica. Bem, a coisa deve ter resultado porque “Capsules” é composta por uma vibe bem relaxante que nos embala pelo seu folk Americana que chega a ser hipnótico. Facilmente entramos na onda, principalmente se estivermos naqueles dias em que o feeling indie também tem peso na conta final. E normalmente até tem. Só ficamos com uma dúvida… será que a fotografia desta capa foi tirada na dita casa? É que caso tenha sido… era melhor ter virado a câmara para o exterior. Mas se calhar já saía fora do contexto.
Fernando Ferreira
18 – Tony Reed – “Funeral Suit”
Ripple Music
Mos Generator, donos de uma sonoridade cheia de distorção e fuzz. É de lá que temos o seu frontman a arriscar-se nesta carreira a solo. O risco não será grande tendo em conta a qualidade dos temas que tem aqui. Forte feeling sulista e Americana, com a guitarra acústica a a competir a atenção com as vocalizações (e coros) quase etéreos. Um trabalho completamente acústico não é algo que seja fácil de cativar a não ser que tenha alma. E aqui temos toneladas disso. O folk une-se a uma espécie de sentido progressivo que nos faz pensar em coisas como Genesis – sobretudo pela maneira como as vocalizações estão trabalhadas. É sem dúvida um álbum surpreendente.
Fernando Ferreira
17 – Michael Malarkey – “Graveracer”
Cap On Cat / Kartel
Michael Malarkey é um nome que poderá soar familiar aos fãs da série “Os Diários do Vampiro”, onde participou como actor. Surpreendidos? Talvez não, mas eu fiquei, principalmente por ver que a sua voz é mesmo muito boa. Temos aqui uma espécie de cantautor que nos traz temas em modo crooner, conseguindo-nos cativar aos poucos com as histórias que declama. Dentro de uma toada mais folk ou Americana (ainda que saindo um bocado dos seus limites) este trabalho é surpreendentemente rico.
Fernando Ferreira
16 – Wudewuse – “Northern Gothic”
Apollon Records
Uma boa surpresa para quem gosta da fusão do progressivo com o folk. Isto trazendo algo verdadeiramente único e inesperado. Há um feeling de uma ambiência quase fantasmagórica ao longo destes temas que assumem uma inocência quase como se estivessemos na década de sessenta a ouvir temas acústicos dos The Beatles. Há um certo teor de experimentalismo também por aqui tenho de confessar, mas nada que quebre com o ambiente atrás referido, com até algum psicadelismo à mistura. Seja nos temas instrumentais ou nos cantados em norueguês, o efeito é semelhante, de espanto pela simplicidade e eficácia. O minimalismo sem o ser realmente com a excelência a ser uma certeza.
Fernando Ferreira
15 – The Pilgrim – “…From The Earth To The Sky And Back”
Heavy Psych Sounds
Os The Pilgrim sabem como as coisas boas da vida são aquelas que são simples. Algo que será bastante claro após algumas audiçoes (nem são necessárias muitas) de “… From The Earth To The Sky And Back”. O feeling folk e americana é forte aqui mas há algo mais, um espírito stoner sem ser southern, um espírito rock sem distorção ou country sem pensar propriamente nas regras muito claras do género. Um feeling de cantautor mas longe de ser minimalista. Pode-se considerar que catorze temas talvez seja algo excessivo e tenho tendência a concordar, mas estes cinquenta minutos estão longe de serem cansativos. Aliás, para quem precisa de relaxar um bocado, poderão ser bastante rejuvenescedores.
Fernando Ferreira
14 – En Minor – “When The Cold Truth Has Worn Its Miserable Welcome Out”
Season Of Mist
Fantástico. Por esta não esperava. Em minha defesa, o estilo apresentado era depressive rock, algo que não é muito claro, mas o chamariz maior era mesmo o facto de ser um projecto que Phil Anselmo queria à muito tempo materializar – consta que são composições que anda a maturar desde que começou a tocar guitarra com nove anos de idade. A voz, um misto de Tom Waits com Leonard Cohen, surge-nos quase transfigurada. Já conhecíamos o tom (cada vez mais) rouco de Anselmo e até como a sua voz tem vindo a ser ligeiramente assassinada, projecto após projecto. Pois aqui todo esse estrago é compensado e usado da melhor forma neste álbum que anda algures pelo neo folk, com muitas mais influências. É surpreendente por não esperarmos ver o vocalista nestas andanças mas principalmente por ser tão bom. Fantástico!
Fernando Ferreira
13 – Redeye Caravan – “Nostrum Remedium”
Edição de Autor
Ora aí está, a prova de como o folk nos surge de várias formas. Nesta, tal como a própria capa ilustra, temos o velho oesta como principal foco e o mesmo está tão bem feito que nem é preciso fecharmos os olhos para sentirmos o bafo quente do deserto a queimar-nos a pele assim como o gosto amargo do whiskey a queimar-nos as entranhas. São dez odes (na verdade são apenas nove, já que a “A Gallop From Afar” é um pequeno interlúdio) aos idos tempos do século dezanove, onde a percussão simples, as harmonicas, os violinos, os banjos e uma voz bem rouca estão à nossa espera para nos contarem histórias assombrosas de vida e morte (sobretudo morte) bem regadas a whiskey. Assombroso por ser tão simples, assombroso por ser tão bom.
Fernando Ferreira
12 – The Moon and The Nightspirit – “Aether”
Edição de Autor
Como todos já deverão saber, há bandas que conseguem ser metal sem ser metal. São como se adotados forçosamente pela comunidade sem eles próprios saberem. Este, tal como Heilung com quem partilha várias semelhanças, parece-me ser um desses casos. The Moon and The Nighspirit são um duo húngaro dedicado àquele estilo de folk ambiente que lida bastante com os tribalismos e os misticismos ancestrais das raízes europeias. Aether é o sétimo álbum desta banda e liga-se ao tema do Cosmos, da Natureza e da espiritualidade, tudo através de conteúdo lírico bastante minimalista mas que claramente marca o seu ponto, mesmo que cantado numa língua pouco falada por estas costas. O tom desta banda é significativamente mais radiante e positivo que o de outras, apesar de também ele assentar no manto de misticismo que este estilo de música normalmente cria (e antes que venham dizer que estes dois são cópias de outros tantos, estes iniciaram a sua carreira em 2003). Os instrumentos são muito diversificados mas mesmo assim conseguem criar uma sonoridade bastante cómoda e até familiar que certamente agradará a muitos daqueles que já se reconhecem como fãs deste sub-sub-sub género. Resumidamente, é excelente música de instrospecção e de ligação à Natureza com marca húngara, algo menos não tão comum dentro do nosso cantinho metaleiro. Portanto, agarrem nas vossas ervas daninhas e virem-se para a lua enquanto ouvem Aether.
Matias Melim
11 – My Silent Wake – “Damnum Per Saeculorum”
Opa Loka Records
Os My Silent Wake têm fama de lançarem música desafiante. Desafiante e diferente, embora os possamos encaixar no espectro do doom melódico com contornos góticos. Pois bem, apesar desse rótulo ainda fazer sentido aqui, o que temos é algo mais dentro do ambient e folk ritualista. Nomes como Elend, Dead Can Dance e Ataraxia surgem em mente, embora haja por aqui o cunho muito pessoal da banda britânica. Consegue prender do início ao fim mesmo apesar de ser totalmente diferente do que as expectativas ditariam. Uma banda com uma carreira já tão extensa arriscar desta forma e ver o seu risco dar frutos – pelo menos em termos de qualidade, em termos de recepção por parte do público ainda é uma incógnita – é sempre fantástico. Mas a música é mais.
Fernando Ferreira
10 – Old Kerry Mckee – “Mono Secular Sounds”
Icons Creating Evil Art
Folk revolução. Não por ser contra o sistema – que de certa forma, até é – mas por lhe dar com um peso rock em cima. Não chega a ser totalmente distorcido mas tem tanta raiva e impacto como se fosse. Com a aura southern rock. Consta que a carreira deste Old Kerry Mackee começou como death metal numa banda mas mandou os colegas todos passear, arranjuma guitarra acústica, uma bateria caseira e um gravador e voilá, aqui temos uma sonoridade que não sendo algo original, soa-nos fresca e sincera. Acima de tudo sincera, do coração. Claro que para isso, soa rudimentar em muitos aspectos – a percussão é um deles – mas resulta. Resulta de forma perfeita e desconcertante.
Fernando Ferreira
9 – Wino – “Forever Gone”
Ripple Music
Devo dizer que não esperava um álbum assim. “Wino” Weinrich é um dos nomes de referência do doom metal tradicional e apesar do seu segundo álbum ter sido um álbum acústico, lançado dez anos atrás, “Forever Gone” é assombroso pela forma como se apresenta despido de pretensões e como a voz assume proporções nunca antes atingidas – sempre aberto à discussão, mas é o que temas como “No Wrong” nos faz sentir, de forma honesta, mesmo que seja uma sensação errada. Apesar de não ser propriamente folk, há ago aqui em como Wino vai buscar as tradições antigas de contar histórias, que estão na base do folk, algo que não se disvirtua pela presença da bateria e baixo ou da guitarra em certos temas. Para os fãs e até mesmo para aqueles que não são fás, recomendado. Vai mudar a vossa maneira de ver o músico norte-americano.
Fernando Ferreira
8 – King Dude – “Full Virgo Moon”
Ván Records
Vou ser desde já honesto. King Dude nunca foi um artista que me impressionasse. Não que não admitisse o potencial principalmente no espectro do neo-folk, mas nunca entendi muito as constantes aclamações. Isto não deixando de apreciar pontualmente o seu trabalho. Contudo, e como sempre faço, sempre deixei a porta aberta para ser agradavelmente surpreendido. Não apenas ter um álbum que goste, mas um álbum que me fizesse ver King Dude da mesma forma que os outros o vêem. “Full Virgo Moon” é esse álbum, onde o seu folk se assume como mais subtil, mais profundo, onde a sua alma assume um aspecto incontornável e ao mesmo tempo vulnerável como nunca antes. Ouça-se a sua fragilidade num tema como “Forgive My Sins”, é desse tipo de alma que falamos. Este foi o álbum que me converteu ao culto, terá o mesmo potencial para todos os infiéis por aí.
Fernando Ferreira
7 – October Falls – “Syys”
Purity Through Fire
Não há fome que não dê em fartura. Esta interessante banda finlandesa (que por acaso até começou como uma one-man band) esteve sete anos silenciosa editorialmente (pelo menos de material original, já que em 2014 lançou a compilação “Kaarna”) e agora, em 2020 lança dois álbuns, primeiro “Fall Of An Epoch” em Maio e agora em Outubro (claro), este “Syys”. Sabia logo à partida que aquilo que teríamos aqui iria pender para o folk acústico, não só pela abordagem do já citado “Fall Of An Epoch” como também o facto do logo na capa indicar isso mesmo – é costume este logo surgir neste tipo de álbuns. Acústico e apoiado unicamente em guitarras e num violencelo (muito discreto), com a ajuda de alguns sons da natureza para dar ambiência, este é um trabalho que nos transporta para algo mais próximo da natureza. Uma viagem evocativa que não nos importamos (fazemos de questão) de repetir vezes sem conta!
Fernando Ferreira
6 – Nytt Land – “CVLT”
Edição de Autor
Da Sibéria, com amor. Nytt Land chega com “CVLT”, o seu sexto álbum de originais que chega em força para todos os fãs de folk. A particularidade do seu som é que, além de usar de instrumentos tradicionais, também têm algumas experimentações electrónicas em que a música de dança não fica muito longe. É uma mistura estranha mas garanto que funciona. Também não deixa de ser impressionante a técnica vocal – estrangulamento das cordas vocais – que tem uma aproximação com a música tradicional da Mongólia. Uma viagem por uma outra cultura, cheia de mística. Uma viagem que tem um enorme impacto para quem está aberto a ela.
Fernando Ferreira
5 – Me And That Man – “New Man, New Songs, Same Shit, Vol.1”
Napalm Records
Aposto que uns cinco anos atrás, nunca se pensaria que Nergal, dos Behemoth, teria um projecto de folk/americana. Aposto até que três anos atrás, quando este projecto foi criado, se pensaria sequer que agora estariam a lançar o seu segundo álbum. Mas a verdade é essa e ainda bem, porque este trabalho acaba por ser ainda mais interessante do que aquilo que Nergal tem feito, criativamente falando, na sua banda principal – não estamos a comprar géneros, atenção. Apenas o impacto que ambos os trabalhos têm nos géneros em que respectivamente se inserem. Luxo de convidados (de Ihsahn a Matt Heafy, passando por uns tais de Niclas Kvarforth, Corey Taylor e Nicke Anderson – e muitos mais), luxo de música, luxo de álbum que tem mesmo tudo para ser uma das coisas mais adoráveis dentro do espectro do folk.
Fernando Ferreira
4 – Kari Rueslåtten – “Sørgekåpe”
Edição de Autor
Este nome poderá soar pouco familiar à maior parte dos fãs de música pesada. Provavelmente só aqueles que começaram a aventurar-se por domínios mais folk na década de noventa é que se lembrarão do nome de Kari ao lado de Satyr nos Storm ou da sua participação nos Third And The Mortal. Tendo focado-se numa carreira a solo, a vocalista conseguiu tanto explorar o folk como também as sonoridades mais electrónicas, tal como, aliás, o fez na sua estadia no metal, principalmente nos Third And The Mortal. A cantar em noruguês pela primeira vez desde a sua estreia, este é um trabalho que se sente intimista, nas canções, na entrega e nas sensações que prova. Algures entre o folk e o indie, está aqui um trabalho de beleza impressionante.
Fernando Ferreira
3 – Hexvessel – “Kindred”
Svart Records
E algo completamente diferente, saberia bem, não? Claro, principalmente quando falámos de mais um álbum dos Hexvessel, que nos traz uma sensibilidade única e tocante. “Kindred” é aquilo mesmo que o título descreve, um trabalho onde o folk se une a um certo espírito esotérico que nos vai encantando e envolvendo como se fosse um feitiço a ser conjurado lentamente onde não temos outra hipótese senão nos deixarmos ir. E não há problema nenhum com isso porque a viagem é fantástica. Místico de uma forma hipnótica.
Fernando Ferreira
2 – Ye Banished Privateers – “Hostis Humani Generis”
Napalm Records
Os nossos piratas favoritos estão de volta. Piratas acústicos, para que não existam confusões. Os Ye Banished Privateers deram à costa com mais um álbum que nos traz contos de aventuras pelos sete mares, com aquele feeling folk único. Sabemos que o alcance disto é limitado – relembro que é acústico e que não tem qualquer elemento de metal – mas mesmo assim não nos cansamos. Este tipo de folk (tipicamente celta/irlandês/inglês, o que não deixa de ser curioso já que a banda é sueca) é intemporável e esta alegria e vida é contagiante deixando-nos sem qualquer reacção. Fantástico trabalho e mais um vício para os próximos tempos. Diz a previsão que até os Ye Banished Privateers voltarem a visitar-nos com mais música nova.
Fernando Ferreira
1 – Myrkur – “Folkesange”
Relapse Records
Como é que pode haver alguém que não gosta disto? É incompreensível. Ok, faz fernicoques chamar ao que Myrkur black metal. Concordo e faz sentido. Mas para quem gosta de folk, é simplesmente perfeito, de uma beleza contagiante. Aliás, o que temos aqui até é mesmo puro folk, acústico, onde não temos qualquer vestígio da componente metal (seja de que tipo for). O que, reforço, para nós é perfeito, já que o grande trunfo da sua música era a forma como a ambiência era criada e como nos conseguia transportar para dentro da mesma. Esse efeito ainda está mais acentuado e esta é uma magia que tanto é difícil de criar como de igualar. Uma obra-prima que apenas que gosta mesmo do folk escandinavo irá gostar.
Fernando Ferreira