O Álbum do MêsReviewTops

Álbum do Mês – Outubro 2022

10 – A Constant Storm – “ANT”

2022 – Edição de Autor

Regresso de Daniel Laureano e de A Constant Storm, um projecto cada vez mais personalizado e ambicioso, algo que se nota bastante neste terceiro álbum. Os caminhos deixados em aberto no anterior trabalho “Lava Empire” são explorados mas de uma forma que acaba por ser tanto refrescante como surpreendente. Com a aposta na sua própria voz na totalidade pela primeira vez, Daniel Laureano (cujo timbre faz lembrar curiosamente Quorthon na sua voz limpa) tem aqui tonalidades de neo-folk embebidas num estilo que se assume cada vez mais como muito próprio mas sem deixar de lado a distorção por completo embora os tempos do death metal melódico estejam cada vez mais longe. Com um conceito rico e conceptual – onde se pode encontrar uma espécie de sátira e crítica à nossa própria sociedade talvez (numa interpretação muito pessoal deste escriba). É um disco que se poderá estranhar um pouco ao início mas tendo gosto por algumas ambiências neo-folk e até gótico, não há como não ficar preso a ele.

8.5/10
Fernando Ferreira


9 – Vexes – “Imagine What We Could Destroy If Only Given Time”

2022 – Edição de Autor

A curiosa e muito bem idealizada capa consegue conter na perfeição tudo aquilo que musicalmente este trabalho dos Vexes é. Imaginem uns Deftones mais incisivos cheios de músicas que apesar de passearem pelos lugares comuns do metal alternativo mais moderno, conseguem oferecer uma dose cavalar de sensações e sentimentos profundos onde a melancolia é indissociável da voz de Charlie Berezansky. E altamente viciante, acrescente-se. As ambiências e atmosferas também são outro elemento importante que fazem com que este álbum duplo se consuma num ápice. Sim, álbum duplo, são quase duas horas de música e isto para alguém que não é de todo o público alvo deste tipo de proposta. Claro que não estará ao alcance de todos e o maior gatilho é a musicalidade e emoção juntas da mesma forma que dá em músicas que facilmente se interiorizam mas que não são assim tão fáceis de inverter esse caminho. Excelente surpresa.

8.5/10
Fernando Ferreira


8 – Revocation – “Netherheaven”
2022 – Metal Blade Records

Havia um vazio na minha vida, o que comprova aquela máxima de que só damos valor quando perdemos o que temos. Neste caso não foi bem uma perda, foi uma ausência. E a vida passa num ritmo tão rápido que nem dá para perceber o que está ausente ou presente. É sempre a próxima missão, a próxima review, o próximo concerto. Mas a verdade é que a fórmula dos Revocation é uma daquelas que sempre gostei, de juntar o feeling de diversão do thrash metal com as componentes técnicas do death metal. Essa parte está mais apagada aqui – ou pelo menos não é tanto o foco – mas isso não retira em nada o brilho deste álbum, que lhe junta uma tonalidade mais séria e madura mas não deixa de ter muitos momentos deliciosos de death/thrash metal. Uma espécie de reinvenção pela continuidade, o que nem sempre está ao alcance de todos.

8.5/10
Fernando Ferreira


7 – The Halo Effect – “Days Of The Lost”

O que esperar de uma banda/projecto que é composto exclusivamente por ex-membros dos In Flames? In Flames? Não, até que não. Na realidade, tirando algumas melodias (como a melodia da guitarra lead da Days Of The Lost), a tonalidade da música é uma mistura entre alguns detalhes de In Flames, o tom mais moderno que os Dark Tranquillity ganharam no final da década de noventa (e é impossível não falar de D.T., principalmente quando a voz é a de Michael Stanne) mas trazendo algo que soa novo. Longe de ser o assalto nostálgico que todos pensariam que seria, “Days Of The Lost” é um álbum que tanto consegue apresentar-se como uma nova banda, válida, apesar da experiência (longa) dos seus membros, embora se admita que o facto de ser composto apenas por ex-membros de In Flames seja ouro para o marketing. Mas não há mal, a música também tem muito ouro sobretudo para quem gosta de death metal melódico.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Ephemeral – “From Our Deepest Nightmares”

2022 – Edição de Autor

Muito bem impressionado com este álbum de estreia dos gregos que nos surge como refrescantes mesmo sem apresentar nada de novo. Death metal melódico com um certo rigor sinfónico e que muitas das vezes também apresenta ares de progressivo muito graças à produção e à qualidade da guitarra lead. Guitarra incoformada e irrequieta mas que não nos queixamos por tudo de bom que traz. Este é um álbum que facilmente conseguirá cativar todos os que gostam de peso e melodia mas que não se poderá enquadrar nos gostos daqueles que esperam a fórmula habitual quando se tem o termo “death metal melódico” em mente. É nessa parte que nos conseguem conquistar, no “não apresentam nada de novo mas o que fazem é de certa forma inesperado”. Recomendado.

9/10
Fernando Ferreira


5 – Saor – “Origins”

2022 – Season Of Mist

Sendo um grande fã deste projecto praticamente desde o seu início, cada novo trabalho é recebido com grande entusiasmo, coisa que sabemos que poderá dar lugar a grandes decepções. Tentando conter esse entusiasmo, abordou-se este “Origin” a tentar focar apenas na música e no impacto que a mesma tem, sem pesar passadas glórias. E pode-se dizer que o resultado da apreciação é igualmente acima da média ainda que apresente algumas diferenças que trazem um maior impacto, nomeadamente as melodias mais folky que temas como “Fallen” tem. Pode-se dizer que é um trabalho mais acessível mas que essa acessibilidade não trai os fundamentos da sua identidade. Músicas mais catchy, não tão longas e com melodias mais fácil de apanhar, mas tudo coisas que fazem apenas com que fiquemos imediatamente apaixonados por este álbum. Se a longo prazo vai jogar contra si, ainda é cedo para saber, mas aquilo que temos até agora é entusiasmante num dos trabalhos mais fáceis de gostar de Saor.

9/10
Fernando Ferreira


4 – Trauma – “Awakening”

2022 – Massacre

Deverá ser frustrante para uma banda o maior destaque da sua carreira (ou pelo menos a razão de muitas pessoas se lembrarem do nome) ser a presença na formação, ainda antes de lançarem qualquer álbum, um músico que já não está entre nós. Falamos obviamente de Cliff Burton e dos Trauma, banda que abandonou em 1982 para se juntar aos Metallica e mudar o rumo da música pesada para sempre. A banda lançou um bom álbum de estreia em 1984, “Scratch And Scream” e viria acabar pouco tempo depois, voltando apenas no novo milénio. Este “Awakening” é então o terceiro álbum de originais desde então (o quarto no global) e surge com argumentos bastantes para que se deixe de focar num passado longínquo e se olhe para aquilo que a banda está a fazer neste momento. Um power/thrash metal bem norte-americano e com uma voz perfeita por cima, que deixa bem a nu que a banda tem muita música (boa) dentro de si bem mais para além do legado. Excelente e poderoso álbum que será certamente um “despertar” para muitos.

9/10
Fernando Ferreira


 3 – Fallujah – “Empyrean”

2022 – Nuclear Blast

Os Fallujah são uma daquelas bandas que temos que respeitar, o que também é curioso. Conforme algumas bandas evoluem o seu som, perdem o respeito dos seus fãs enquanto outras ganham respeito de novos fãs. Neste caso a metamorfose foi do deathcore para um death metal que tem tanto de técnico como de progressivo. Isto sem se sentir que seja uma mudança da noite para o dia. Muitas das suas características comuns, principalmente das melodias de guitarra continuam cá, a diferença é mesmo a abrangência superior que aponta por paragens mais progressivas e que também dotas as músicas de um cariz mais técnico. Isto, não deixando de mostrar verdadeiras canções, ou seja, não se trata apenas de complicar e de colocar ênfase em passagens mais atmosféricas e pormenores técnicos sendo uma mera colecção de pequenos gimmicks colados uns aos outros. São temas onde a emoção acaba por ser aquilo que salta mais ao ouvido. Do início ao fim, isto porque acaba em alta, com dois dos melhores temas do álbum, o instrumental “Celestial Resonance” e a bonita “Artifacts”. Estamos conquistados.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Arch Enemy – “Deceivers”

2022 – Century Media

Algum entusiasmo, confesso, para ouvir mais um álbum por parte dos Arch Enemy. Apesar de ainda considerar os primeiros trabalhos como os melhores (quão trve sou eu?), é inegável que a banda ganhou uma grande frontwoman com Angela Gossow, mesmo que para isso tenha sacrificado algum do brilhantismo musical demonstrado. Já a “nova” mudança de vocalista revelou-se entusiasmante porque embora se tenha mantido a qualidade vocal, musicalmente temos tido bons apontamentos nos trabalhos mais recentes. Apontamentos que acabam aqui por se conjugar no melhor conjunto de temas que a banda lançou nos últimos vinte anos. Sem ser propriamente um regresso às raízes, ou melhor, temos um regresso às raízes mas não as da banda e sim do metal em si. Pormenores que aponta direcção do metal tradicional. O que na prática resulta em termos finalmente riffs e leads memoráveis ao longo de todo o disco em temas que queremos ouvir mais do que uma vez – precisamente o problema dos trabalhos da banda de há muitos para cá é de que até podemos gostar do que se ouviu mas raramente permanece na memória. Também de assinalar a forma como a voz limpa resulta na perfeição, sem soar forçado e em como em ambas as frentes Alyssa domina. Ainda não é todavia o disco que nos mostre um Jeff Loomis a evidenciar-se criativamente. E se não aconteceu em três álbuns, talvez não seja mesmo para acontecer.

9/10
Fernando Ferreira


1 – Blind Guardian – “The God Machine”

2022 – Nuclear Blast

Regresso dos mestres. Vou confessar, tenho esperado por um regresso dos mestres desde o “Nightfall In Middle Earth”, álbum que se mantém como referência máxima pessoal do brilhantismo que esta maltinha consegue. Um regresso que foi sendo progressivamente adiado, sendo que cada novo álbum esbarrava com alguma indiferença apesar do entusiasmo de uma enorme expectativa. É certo que isto não aconteceu em 2015, com um muito bom “Beyond The Red Mirror”. Sete anos passaram e este acaba por ser o tão ansiado regresso aguardado há mais de duas décadas, envolto de neblina e tudo, tal e qual D. Sebastião. Um álbum que, curiosamente, não remonta ao já citado trabalho favorito mas a outros mais passados. Ou seja, temos aqui a melodia eficaz dos coros e dos leads de guitarra que são mesmo catchy, temos músicas que nos agarram logo à primeira e se tornam memoráveis. Por esta altura já não se esperava algo assim, ou pelo menos não esperava, o que faz com que este trabalho ainda seja mais impactante.

9/10
Fernando Ferreira


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