Report

WOM Report – Soilwork, Kataklysm, Wilderun @ Hard Club, Porto – 14.02.23

Competir contra o S. Valentim não é fácil e se em termos de números foi o santo dos enamorados que ganhou, duvido que tenha superado no que respeita a emoções ao rubro. Os rapazes atrás de mim nem conseguiam decifrar o logo de Wilderun no backdrop; já o moço ao meu lado estava a “realizar um sonho” ao ver a banda de Boston, de quem era fã desde o álbum de estreia “Olden Tales & Deathly Trails” (2012). Fiquei com a ideia que o resto dos presentes estava igualmente dividido, mas no final, a avaliar pelos aplausos, quem desconhecia gostou de passar a conhecer.

Fundados pelo vocalista/guitarrista Evan Anderson Berry em 2008 como um projecto de folk metal, evoluiram gradualmente para uma sonoridade progressiva, resultando em temas intrincados e longos – o que explica um alinhamento de apenas quatro músicas. Berry expressou como estavam felizes por tocar pela primeira vez em Portugal, agradecendo a hospitalidade antes de apresentar a última música, “Far From Where Dreams Unfurl”.

A vida é engraçada: os Kataklysm estiveram 13 anos sem vir a Portugal e depois, no espaço de sete meses, visitaram-nos duas vezes. E embora esta seja a tour oficial de promoção a “Unconquered” – editado no ano da pandemia e, por isso mesmo, qualquer concerto para apresentá-lo ficou suspenso – assumiram a mesma posição que em Vagos, trazendo uma selecção aprimorada de toda a sua discografia em vez de se focarem apenas no último trabalho.

Maurizio Iacono disse saber que aquela era uma noite com “bastante concorrência” pelo que queria agradecer a todos os que tinham escolhido estar ali (mais à frente, ficaríamos a saber que uma dessas pessoas era um fã da terra natal da banda, com quem Maurizio, divertido, trocou algumas palavras no francês próprio do Québec). A garra com que tocaram temas como “Underneath The Scars”, “Crippled & Broken” ou “As I Slither” fizeram valer a pena essa escoha. “Blood In Heaven” encerrou um possante concerto de melodic death metal, não sem antes os elementos da banda serem apresentados (não posso dizer todos pois ninguém apresentou Maurizio – desvantagens de ter o monopólio do microfone).

Se os Soilwork estavam desapontados por um público menos numeroso no regresso da banda à cidade do Porto duas décadas depois, não se notou minimamente. Aliás, atrevo-me a dizer que das quatro vezes que os vi, foi aquela em que Björn Strid pareceu entregar-se mais à performance e à comunicação com o público. Até brincou a dada altura, perguntando se o baterista deles estava a tocar bem, uma vez que estava cheio depois de ter comido algo que não tinha percebido que pertencia a Björn. E quando mencionou os referidos 20 anos e alguém falou no Laurus (edição de 2019, que a banda encerrou depois do cancelamento de última hora dos Hypocrisy), Björn sorriu e disse que não, que isso tinha sido um festival e aquilo era “something else”. Referia-se ao concerto de 2002 no Teatro Sá da Bandeira, com In Flames e Pain. Ou então ao que tocaram no ano seguinte, no Hard Club original, com Children Of Bodom, mas uma vez que o outro lado do rio é Gaia e não Porto, estou em crer que era do primeiro que falava.

“Övergivenheten” saiu em Agosto passado e, ao contrário dos Kataklysm, foi deste trabalho que mais músicas incluiram no alinhamento – sem, claro, negligenciar os clássicos “Stabbing The Drama” (“you know this one!”), “Nerve” ou “Bastard Chain”. Pessoalmente (e muitos outros, pelos vistos, pois berraram a letra do princípio ao fim), fiquei contente por terem escolhido “Death Diviner” do EP “A Whisp Of The Atlantic”, e que “This Momentary Bliss” tenha sido uma das que trouxeram de “The Living Infinite” (o que não tinha acontecido da última vez). E confesso que fiquei tão emocionada à menção de David Andersson que já não tenho bem a certeza qual música Björn dedicou ao falecido guitarrista, mas creio ter sido “The Living Infinite II”.

“Verkligheten” tem pouco mais de quatro anos, mas “Stålfågel” possui todas as características que justificam deixá-la para fim, o que têm feito desde a edição do álbum, pelo que Björn não precisava dizer que tinham “mais uma” assim que a intro do tema ecoou pela sala. Metal pesado, cheio de melodia e groove, tipicamente sueco, a carimbar com 5 estrelas a memória de quem foi ao Hard Club naquela noite.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos Notredame Productions


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