O Álbum do MêsReviewTops

Álbum do Mês – Novembro 2022

10 –  Lost In Kiev – “Rupture”

2022 – Pelagic

Este álbum surge do desafio que a banda francesa colocou a si mesma de escrever temas mais curtos. E para os conhece, este até poderia ser um motivo de preocupação, sendo que grande parte da sua identidade residia precisamente nos temas épicos – algo que faz todo o sentido no contexto do pós-rock. Chegado aqui a “Rupture”, o seu quarto álbum, nem podemos dizer que seja uma ruptura muito grande em relação ao passado tendo em conta que a banda continua mais eficaz que nunca em criar aquelas adoráveis tapeçarias sonoras que nos transportam para uma outra realidade. Viajar à conta das nossas emoções e até surpreender num tema com voz, que neste caso é nada mais, nada menos que a voz de Loïc Rossetti, dos The Ocean, no tema “Prison Of Mind”, um dos muitos pontos altos deste disco. “Rupture”, como já disse, não corta com o passado mas não deixa de apresentar novos caminhos e novas formas de atingir a mesma excelência. Quando há um disco que não se consegue parar de ouvir, até mesmo depois de chegar ao fim, então é porque alguma coisa (tudo) está a ser bem feito.

9/10
Fernando


9 – Languish – “Feeding The Flames Of Annihilation”

2022 – Prosthetic

Se antes tinha alergia a trabalhos com menos de meia hora (desperdício de dinheiro pensava eu que quanto mais o CD fosse ocupado, mais se justificava a sua compra) agora tenho alegria principalmente quando é (e normalmente é) sinónimo de porrada no lombo em forma de death/grind. No caso dos Languish de blasfémia black metal que só serve para tornar a coisa mais negra. Vinte cinco minutos e estamos despachados. Ou melhor, não estamos porque o mais provável é voltarmos a dar uma voltinha. Unidimensionalidade em termos de atmosfera mas que também torna a coisa ainda mais intensa e interessante, o que se alia também à dinâmica de riffs e tempos que se pode encontrar nestes temas. É disto que a minha malta gosta.

9/10
Fernando Ferreira


8 – Black Widows – “Among The Brave Ones”

2022 – Inverse

Confesso que tinha as expectativas baixas para este regresso das Black Widows. Sobretudo pela estreia “Sweet… The Hell” nunca me ter cativado especialmente. Passadas duas décadas e muitas mudanças de formação, a banda chega ao segundo álbum “Among The Brave Ones” que garantiu um contrato com a finlandesa Inverse Records. Não só é um trabalho mais maduro como também mais pesado e visceral. Tudo aquilo que se pede de uma banda de gothic metal é entregue de forma sublime. O peso está cá mas como também a melodia e ao contrário do que é mais comum no estilo, não se sente que a música esteja presa aos lugares comuns que a atmosfera dita. Nota particular para a abrangência vocal de Rute Fevereiro que tem aqui um dos seus grandes registos em disco. Bem vindas de volta!

9/10
Fernando Ferreira


7 – Aenaon – “Mnemosyne”

2022 – Agonia

Longa ausência dos gregos Aenaon que regressam em grande. “Mnemosyne” quebra o jejum de seis anos (ignorando a compilação do ano passado) e representa também uma nova fase da carreira da banda grega, sendo o primeiro para a Agonia Records, uma editora referência na música extrema. Este trabalho faz jus à ideia que tinhamos deles, de metal progressivo, extremo e fora-da-caixa. Mas ao contrário de álbuns ou bandas que se assumem assim, este não custa nada a entrar. A musicalidade é impressionante assim como também a forma como conseguimos interiorizar estas melodias e estes temas. Um daqueles álbuns capazes de impressionar logo à primeira e que dificilmente vamos conseguir largar, com a profundidade das suas composições a superarem qualquer impacto imediato que tem – e que é enorme. O tempo provará aquilo que sentimos agora, que este é um grande álbum de metal extremo.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Stormruler – “Sacred Rites & Black Magick”

2022 – Napalm 

Depois de uma estreia impressionante no ano passado, os Stormruler estão de volta este ano com um trabalho que mantém a fasquia bem alta. Temos a mesma estrutura de álbum – vinte temas em que metade são intros/interlúdios/outros instrumentais. Também temos aquele gostinho muito bom de black metal melódico e épico onde de vez em quando lá vem à memória Dissection, se bem que o espectro aqui está muito mais alargado. Na realidade, não há surpresa nenhuma, porque já todos ouvimos isto desde de meados da década de noventa. O que há é um talento descomunal para pegar no óbvio e fazer algo viciante sem nos importarmos com fórmulas mais ou menos batidas. É ficarmos presos pelas melodias e pelo efeito de contar uma história que esta estrutura nos traz. Claro que para isso também é preciso eliminar o botão do descartável, ou seja, é um disco para apreciar e deixar fluir, algo que é cada vez mais difícil nos dias de hoje.

9/10
Fernando Ferreira


5 – Soilwork – “Övergivenheten”

2022 – Nuclear Blast

Este era um álbum para o qual tinha algumas expectativas, principalmente pelo impacto que teve o EP “A Whisp Of The Atlantic” que veio a trazer alguma frescura e interesse redobrado para a banda que teve alguns períodos desinspirados e até de indecisão criativa. A abordagem conceptual demonstrada no dito EP encontra aqui um eco fantástico que faz com que este seja sentido como um dos grandes álbuns da banda na (pelo menos) última década. Uma abordagem algo progressive mas que também não esquece também a costela mais agressiva, sendo um complemento fantástico para um álbum que se sente como complete. É facilmente um trabalho ao qual voltaremos repetidas vezes e onde se sente bem a ambição que a banda tinha em fazer algo superior. Acabou por ser o canto do cisne por parte de David Andersson, que é responsável por metade da composição do mesmo. Uma despedida de génio, e um dos grandes álbuns do ano.

9/10
Fernando Ferreira


4 -Gaerea – “Mirage”

2022 – Season Of Mist

Não é estranho encontrar os Gaerea nesta lista. E não me refiro a isso devido à antecipação que este terceiro álbum tem causado e pelo impacto que tem tido os singles de avanço perante os fãs e imprensa. É mesmo porque apesar de todo o hype, apesar de todas as críticas e até apesar de todas as polémicas, a música continua ainda a falar mais alto. Confesso que “Limbo”, o anterior álbum de originais, acaba por ser um trabalho que não envelheceu tão graciosamente quanto “Unsettling Whispers”, mas ainda assim não deixa de ser um álbum que conseguiu preparar o terreno da melhor forma para “Mirage”. Longe do impacto e do mistério do início, tudo aquilo que fica é mesmo a música e é essa que fala mais alto ao longo de quase uma hora com o conjunto de temas mais inspirado da banda portuguesa. Os temas mais concisos (mesmo os mais longos) onde se sente que só está aquilo que é importante estar. Apesar de continuar a não considerar a banda como black metal, consegue usar muito bem alguns dos seus elementos primordiais, como o minimalismo na composição e o paradoxo que faz com as melodias grandiosas e memoráveis. Este é o principal ponto, ser um dos álbuns mais memoráveis dentro deste género, sem perder pitada de peso e violência. Um novo patamar atingido, veremos como a banda se transfigura para o próximo.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Firtan – “Marter”

2022 – AOP 

Sabendo do calibre das apostas da AOP Records, tinha expectativas para ouvir este “Marter”. Isto apesar de não conhecer os Firtan, mesmo sendo este o terceiro álbum. E aqui começamos pelo primeiro mérito. Quando se conhece uma banda a meio do caminho, se o impacto for positivo, vamos querer sempre andar para trás. É precisamente a vontade que fica após (tentar) esgotar as audições destes oito temas. Carácter pagão e melódico mas longe de ser adocicado e sempre em primazia para o facto épico. É o segundo mérito, este é um álbum impressionante onde somos embalados pela melodia e pelo contar de uma história – mesmo que não saibamos qual é mas é de certeza épica. O terceiro mérito é ser sóbrio. A sua fórmula não é inovadora mas a música é memorável dentro de um género que nem sempre consegue fazer isso. Um dos álbuns do ano no estilo em que se insere. Agora com licença que tenho de ir ouvir o que está para trás.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Ellende – “Ellenbogengesellschaft”

2022 – AOP 

O quarto álbum dos Ellende é uma obra de arte. Comecemos por aqui simplesmente. E até apetece deixar por aqui porque dificilmente se encontram palavras para este quarto álbum mesmo sabendo que na sua forma, a banda continua a debitar o seu pós-black metal atmosférico mas que também não é apenas “mais uma forma” de pós-black metal atmosférico. A beleza e a emocionalidade que as suas composições trazem impressionam assim como o carácter épico das mesmas e isso só resulta pela inteligência em saber criar nuances que trazem dinâmica do primeiro ao último momento. Um disco ao qual facilmente nos rendemos e também ainda mais facilmente voltamos. E voltaremos muitas mais vezes no futuro. Obra prima da música extrema.

9.5/10
Fernando Ferreira


1 – Orm – “Intet ● Altet”

2022 – Indisciplinarian

Por parte dos Orm já se esperava um álbum épico, mas não tão épico a este ponto. Quatro temas  em que apenas um não chega aos vinte minutos – e é por meros segundos. Logo à partida que parece ir contra a maré da música contemporânea onde a imediatez e os ganchos constantes continuam a ser a arma preferida para atrair a atenção de milhões. Ao invés disso, os Orm apresentam quatro longos temas (um álbum duplo) que em si são pequenas obras de arte, que nos obrigam a uma atenção profunda ainda que a mesma seja difícil de manter quando se tenta absorver o todo. Na realidade cada um dos temas funciona como um capítulo representando uma fase distinta da vida de uma pessoa, sendo elas juventude, idade adulta, o tornar-se heremita na velhice e por fim a ascensão a outro estado de existência. Algo que aumenta exponencialmente quando se tenta ter uma percepção global do trabalho mas nada que não se resolva com a devida dedicação – uma que provavelmente raramente temos que dispender nos dias de hoje. A base continua a ser o black metal épico e melódico mas há tantos mais elementos aqui que trazem profundidade ao género que torna-se complicado reduzi-lo apenas a isso. Ainda que não exista rótulo melhor para o inserir. Sem dúvida um dos álbuns do ano.

9.5/10
Fernando Ferreira


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