O Álbum do MêsReviewTops

Álbum do Mês – Setembro 2022

10 – Black Magnet – “Body Prophecy”

2022 – 20 Buck Spin

O industrial é, pessoalmente, um caso de amor e ódio. Um desconforto que por vezes se entranha mas que algumas vezes se abomina e evita. Começando a audição deste “Body Prophecy” com o segundo caso (de uma forma não tão violenta) depressa se dá a transformação para o primeiro: entranhou-se como se fossemos velhos amigos, algures entre o encanto mais industrial e violento de um Marilyn Manson (nos seus melhores momentos) e o desesperância apocalíptica de uns Ministry. Não sendo o disco ideal para celebrar o Verão, é um daqueles trabalhos que tem a função de um portal. Abre a porta (ou janela) para um mundo distópico e frio, do qual até não estamos assim tão distantes, talvez. No final, um daqueles acidentes que se demora a perceber o que se passou mas que durante esse processo e até mesmo depois, não conseguimos desviar o olhar. Tal como a própria capa.

8.5/10
Fernando Ferreira


9 – Daidalos – “The Expedition”

Devo dizer que este disco deu uma boa luta para chegar aqui. O trabalho de estreia da one-man band alemã quase que passava ao lado devido a uma dinâmica unidimensional e que dificulta ver as nuances, que as há, deste trabalho conceptual. É mesmo pelo conceito que fomos capturados. “The Expedition” conta a história da expedição britânica de 1845 ao Ártico composta pelos navios “Erebus” e “Terror” que ficaram presos no gelo durante mais de um ano e cuja tripulação decidiu abandoná-lo para tentar chegar ao Canadá mas desapareceram sem deixar rasto. Musicalmente temos um black metal sinfónico, onde o interesse recai sobretudo sobre as orquestrações. As limitações do formato “one-man band” sente-se sobretudo na bateria onde não existe grandes dinâmicas, mas as composições acabam por fazer com que todas as limitações percam o seu peso e acaba-se por se entrar na história como se estivessemos a ver um filme (ou até mesmo a série “The Terror” inspirada sobre este acontecimento). Surprendentemente bom.

8.5/10
Fernando Ferreira


8 – Soulfly – “Totem”

2022 – Nuclear Blast

Muita curiosidade para ouvir este álbum dos Soulfly. Principalmente para ver (ou ouvir) como é que a banda de Max Cavalera iria soar após a saída de Marc Rizzo. A primeira impressão muito superficial é que não muda assim tanto. Continuamos a ter aquele death/groove dos últimos discos – na versão inspirada dos dois últimos e sem ir a um ponto menos interessante como “Enslaved” – e melhor ainda, mesmo sem Rizzo, continuamos a ter solos bem interessantes ao longo de todo o disco. Apesar do núcleo central da banda ser um trio, há uma série de convidados que asseguram a qualidade da guitarra solo. Resta saber como será ao vivo mas isso já é uma outra questão. Não será o trabalho mais memorável da banda, mas é sem dúvida um disco agressivo e inspirado nos clássicos – o riff daquela “Ancestors” é gamadíssimo da “Procreation Of The Wicked” dos Celtic Frost, da qual os Sepultura, com Max, fizeram uma cover – mas não deixa também de apostar (como esperado) no groove e no midtempo que o alimenta. Um disco de transição, mas que pertence à categoria dos bons.

8.5/10
Fernando Ferreira


7 – Naked Soldier – “Naked Soldier”

2022 – Sixteentimes Music

Naked Soldier é uma nova força do rock suiço e porque não dizer já do rock europeu. Raça rebelde como aquela que nos remonta à década de noventa quando inspirada pela década de setenta, principalmente na vertente mais stoner. Podemos que aqui temos o mesmo, uma inspiração da década de noventa que nos traz algo minimamente novo num ar que se respira sempre melhor no underground do que no maintsream. Dinâmica estilística que vai do já citado stoner ao alternativo e que no fundo resulta num rockão fantástico e ao qual é impossível de não bater o pé e cantar. Stoner rock que se preocupa mais com o som do que com a imagem e onde a alma, esse factor impossível de pesar e medir, está omnipresente em todos os temas. Grande estreia.

9/10
Fernando Ferreira


6 – Haunt – “Windows Of Your Heart”

2022 – Iron Grip / Church Recordings

O ritmo editorial dos Haunt continua a ser impressionante, afinal desde o primeiro álbum em 2018, este “Windows Of Your Heart” é já o oitavo. E, antes que digam, a qualidade também acompanha a regularidade. Ainda que estes últimos trabalhos não tenham sido tão imediatos como se esperaria. Este álbum até que consegue contrariar a tendência, apesar de ser ainda um trabalho discreto para quem não fale a linguagem do puro heavy metal tradicional. As melodias, os riffs, tudo aqui transpira os elementos primordiais do som sagrado e não são precisas muitas passagens para comprovar isso mesmo, trata-se de um disco que apesar de não surpreender e no fundo não apresentar nada de novo – em relação ao que a banda fez no passado, traz-nos mais um conjunto de canções de heavy metal com uma sensibilidade própria de quem vive e respira o estilo. Um daqueles vícios sleeper que vai ficar nas nossas listas no final do ano.

9/10
Fernando Ferreira


5 – Sacred Sin – “Storms Over The Dying World”

2022 – Lusitanian Music

Finalmente o álbum de regresso dos Sacred Sin. Apesar dos cinco anos desde “Grotesque Destructo Art”, parece que passou muito mais tempo e este álbum sente-se como a continuação ao clássico “Anguish… I Harvest”, provavelmente pelo facto de Tó Pica estar de volta ao estúdio com a banda. Sente-se como Sacred Sin clássico, sabe a Sacred Sin clássico com muitos temas disponíveis para se juntarem à galeria de malhas emblemáticas como o tema-título (que a banda já tem andado a rodar nos últimos concertos que tem dado) e “Shroud Of Broken Promises” e “Defy Thy Master” onde a melodia e ferocidade das guitarras imperam, num excelente trabalho de Luís Coelho e Tó Pica nas guitarras. A voz de José Costa é inconfundível e aqui surge com ainda mais dinâmicas. Interessante notar que apesar da bateria ter sido gravada por Fernando Dantas, quem se senta atrás do kit de bateria agora é Ricardo Oliveira (ex-Attick Demons).

9/10
Fernando Ferreira


4 – Ósserp – “Els Nous Cants De La Sibil La”

2022 – Eternal Juggernaut / Kremón / Catábasis / Hecatombe / Lost Merch / Brutal Arratia / Cruzade

A melhor pedrada é aquela que surge não se sabe de onde. Os Ósserp não são novatos na coisa mas o cinco anos de silêncio editorial é quase o suficiente para algumas coisas ficarem enterrados no fundo da memória. Das profundezas da consciência. E é mesmo das profundezas que surge este terceiro álbum, que é um coilosso de death metal enegrecido, enraivecido e apocalíptico. É literalmente a banda sonora para o final do mundo, em toda a sua plenitude, onde tudo o que é negativo se sobrepóe a tudo o resto. E apesar do quadro (negro) pintado, este é um trabalho que não é tão unidimensional como se espera. E até mais viciante do que se poderia julgar para quem gosta de dinâmicas e de nuances. Poderá não haver nuances, mas está longe de ser um álbum sem profundidade e sem coisas a revelar a cada passagem. E são muitas que vai exigir.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Decapitated – “Cancer Culture”

2022 – Nuclear Blast

Os caminhos mais groove dos recentes trabalhos poderão fazer com que alguns fãs dos primórdios tenham colocado os polacos Decapitated de parte. Não é crível que eles voltem com este “Cancer Culture” que, posso já adiantar, é dos melhores trabalhos que a banda lançou nos últimos anos. E também, provavelmente, o mais acessível. Melódico ao ponto de facilmente o podermos colocar nessa categoria (death metal melódico) embora tal possa parecer estranho mas a música fala mais alto do que qualquer tipo de dogma dos rótulos. É um conjunto de músicas que cativa facilmente e ao qual queremos voltar muitas vezes mesmo que tenhamos alguns assomos mais modernos como a curta “Locked” que servem para tornar o álbum mais dinâmico ainda. “Cancer Culture” não é só um trocadilho pertinente brilhante como um álbum que estabelece os Decapitated em definitivo como uma das forças criativas do death metal mais interessantes vindas do leste da Europa.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Toxik – “Dis Morta”

2022 – Massacre 

Existem regressos que desiludem e outros que surpreendem. “Dis Morta” pertence ao segundo grupo. Os Toxik foram um daqueles nomes do thrash metal técnico cujo culto foi crescendo muitos anos depois de encerrarem actividades. Regressaram já em 2013 mas apenas agora, nove anos depois regressam com este terceiro álbum. A primeira impressão é totalmente inesperada, a de estarmos perante uma banda totalmente diferente. E é tão avassalador que primeiro precisamos de absorver com calma e cuidado estes temas até perceber que fazem todo o sentido. Provavelmente aquilo que iríamos esperar seria um sucessor lógico a “Think This” e não a algo que demonstrasse uma evolução criativa em mais de trinta anos. “Dis Morta” é esquisito, estranhamente melódico e muito técnico e complexo mas ao mesmo tempo clássico. Provavelmente se a banda tivesse continuado no activo, por esta altura estaria a lançar um álbum muito semelhante ao que se encontra aqui. Longe de ser conformado ao saudosista, “Dis Morta” é um álbum arrojado e que obriga a olharmos para eles da mesma forma como olhávamos no final da década de oitenta, como uma banda única do thrash metal.

9/10
Fernando Fereira


1 – Process Of Guilt – “Slaves Beneath The Sun” 

2022 – Alma Mater

Não haveria nenhuma surpresa em relação à aclamação deste novo álbum dos Process Of Guilt, pois não? E sim, estou a fazer tudo mal, não é assim que se deve começar uma review. Fuck it. “Slaves Beneath The Sun” poderá ser acusado como aquele álbum previsível de uma banda que já não engana ninguém. Sem problema. Tudo bem. No entanto, essa previsibilidade em relação ao ambiente não se prolonga até à intensidade e qualidade. E até mesmo dentro dessa previsibilidade, foi um dos álbuns mais imprevisíveis, com algumas toadas a convidar ao pós-punk e com algumas faixas mais curtas mas nem por isso mais acessíveis. A abertura “Demons” é um excelente exemplo disso mesmo. Interessante reparar que apesar das mudanças, continuamos a ter um disco para ouvir de seguida, um disco de intensidade que nos esmaga o espírito e nos retira qualquer brilho de esperança em relação ao presente e ao futuro. Essa desesperãncia crónica já expectável num trabalho dos Process Of Guilt assume proporções épicas aqui mas também uma certa beleza e finesse que antes não surgia de forma evidente. Mas pronto, divago, porque como eu disse, não havia surpresa nenhuma, pois não?

9/10
Fernando Ferreira


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