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Casaínhos Fest 2017 – 26/08/2017 @ Casaínhos, Loures

Tínhamos uma boa expectativa para esta sexta edição do Casaínhos Fest, principalmente pela reverência que era feita ao festival o underground nacional. Reverência essa que consideramos ser totalmente merecida pelo que pudemos constatar.
O início deu-se cedo (três da tarde) e como era algo expectável, a afluência do público ainda era bastante baixa. Foi com a banda de punk/hardcore lisboeta Not Enough que se deu início às hostilidades. Micro descargas acompanhados de muito movimento, principalmente pelo Félix, vocalista, que estava constantemente aos saltos – que nem sempre corriam bem. O som esteve sólido e a prestação da banda também, mesmo estando numa posição algo ingrata mas que cumpriu o seu propósito. Uma abertura adequada para uma longa maratona de sonoridades punk, hardcore e metal.
O primeiro aspecto positivo que notámos desde cedo foi a forma como o horário foi cumprido (e em alguns casos até adiantado) e como a espera foi tudo menos dolorosa. Algo de salutar e que muitos festivais mais mainstream poderiam levar como exemplo. Antes da hora prevista subiram ao palco a banda de Aveiro Soul Of Anubis. Este power trio com uma sonoridade de metal progressivo impressionou pela positiva, principalmente pelas suas capacidades técnicas. Talvez a banda não fosse indicada para aquela hora, mas tal como os Not Enough, os Soul Of Anubis cumpriram na perfeição o seu papel. Normalmente em géneros mais exigentes como o metal progressivo, poderíamos esperar que o som  final sofresse mas não foi de todo o caso. Ainda por cima um metal progressivo bem bruto. Apesar de por momentos sentirmos que uma segunda guitarra poderia beneficiar o seu som em termos de dinâmicas, a actuação baseada no seu álbum de estreia (nome do álbum) deixou-nos com água na boca e com o desejo de voltar a vê-los novamente.
Ainda dentro do metal, chegou a vez dos Burned Blood de Sintra que iniciaram a sua actuação com uma intro cinematográfica bastante épica e que chamou o ainda pouco público para a frente do palco. “Uprising”, “Existence” e “Killing Spree” foram excelentes exemplos do seu poder destrutivo que também beneficiaria de uma segunda guitarra – principalmente para alguns leads por cima do ritmo. Movimento e acção foi coisa que não faltou e a entrega da banda equivalia a intensidade da sua música. Também de salientar os constantes agradecimentos à organização e ao público pelo apoio ao underground – algo que TODAS as bandas, sem excepção, fizeram. A cada banda que subia ao palco, mais o ambiente de festa se adensava.
Também de Sintra (de nome e tudo) seguiram-se os Legacy of Cynthia com o seu metal alternativo de cariz mais progressivo, outra banda que talvez fosse mais adequada noutro horário mas ainda assim, foram a primeira a juntar uma assistência já muito composta à frente do palco. Actuação irreprensível, com um excelente som – não nos cansamos de referir esta parte, que foi mais ou menos constante de todo o festival – e da qual destacamos “Cabaret” e “Absolution”. A experiência da banda é cada vez mais notória e este foi mais um exemplo, sendo sempre um prazer revê-los em cima do palco.
Por falar em experiência, o que dizer dos Grankapo? A banda lisboeta já tem um currículo de impôr respeito na arte de espalhar hardcore e as suas actuações são sempre recheadas de poder e acção, tanto em cima em do palco como entre a assistência, com muitos circle pits a se formarem. “Left For Dead”, “Filthy Head”, “Won’t Fall Down” e “We’ll Never Die” foram apenas algumas das bombas de diversão maciça que provocaram muito movimento num concerto onde não havia nem tempo para respirar, embora tivesse havia oportunidade para cantar os parabéns ao baterista Ivan, curiosamente a primeira de duas vezes, como veremos de seguida.
Banda irmã, os For The Glory sucederam aos Grankapo e mantiveram o nível altíssimo no que diz respeito à qualidade do hardcore. Começando com “All The Same”, foi um desfilar de classe e experiência por um dos grande valores nacionais da música pesada. Não faltaram outros temas como “Survival Of The Fittest” e “Some Kids Have No Face” e não faltou também a segunda vez que se cantou os parabéns a Ivan, o baterista que toca tanto nos For The Glory como nos Grankapo, numa actuação em ambiente de festa, onde a banda revelou não ter setlist definida e ir tocando conforme o feeling – o que já diz muito acerca do à-vontade e traquejo que têm e também do ambiente descontraído e familiar que se tinha no palco do Casaínhos, algo que não afectou em nada na apreciação tanto nossa, World Of Metal, como do público presente.
Nova virada estilística do hardcore para o metal, com os coimbrenses Destroyers Of All a subir ao palco numa posição que lhes é merecida pelo excelente álbum de estreia “Bleak Fragments”, editado o ano passado. A actuação da banda baseou-se neste lançamento e no EP que o antecedeu, onde o principal problema era o som algo pouco definido que fez com que alguns detalhes, principalmente de guitarra e por vezes na voz, se tivessem perdido. Ainda assim, foram bem recebidas malhas como “From Ashes Reborn”, “Hollow Words”, o tema-título do já mencionado álbum de estreia e uma potente “Into The Fire”. Foi um regresso aos palcos bem recebido pelo público e bem vivido pela banda que mostra que o seu lugar é ali mesmo.
Se até então, Casaínhos navegou entre os mares do punk/hardcore e do metal, a próxima banda é daquelas que junta os dois como ninguém. Embora o potente thrash metal dos Switchtense seja metálico até à medula, há um grande espírito hardcore principalmente na forma como encaram o underground e como são uma banda que dá tudo em palco e que puxa o seu público para retribuir em igual medida. Como tal, que melhor forma de abrir as hostilidades com um dos seus hinos, “Face Off”? A intensidade atingia novos patamares, como apenas a banda da margem sul sabe fazer.
Tal como os For The Glory, os Switchtense tocaram sem setlist pré-definida e foram decidindo as malhas no momento, revelador do seu entrosamento e experiência. Não faltaram os discursos por parte de Hugo Andrade sobre o underground e a cena nacional. Se normalmente a visão da banda apresentada pelo seu vocalista é fácil com que nos identifiquemos com ela, neste contexto, era o reflexo daquilo que estava no ar. Uma união que era bonita de se sentir e que se assume como o espírito do festival. Espírito esse metido ao rubro com “The Right Track”, “State Of Resignation”, “Into The Words Of Chaos”, “Monsters” (a música Napalm Death da banda) e “Infected Blood”, entre outros clássicos.
Devil In Me é um dos nomes grandes do hardcore nacional, a par dos Grankapo e For The Glory – uma celebração à parte, ter estes nomes mais Swtichtense todos juntos no mesmo cartaz, facto referido por Hugo Andrade na actuação da sua banda. Um nome que, tristemente, distinguiu a sua actuação de todas as outras. Foi o último concerto da banda e por isso teve um impacto ainda maior do que o normal – que por si só já era considerável.
Pena que o som nem sempre tenha estado à altura do que a ocasião exigia, principalmente nos primeiros temas que a banda tocou. Por outro lado, a entrega e a paixão que os Devil In Me revelaram mesmo na hora da despedida, compensaram toda e qualquer falha técnica. “Break The Chain” (no seguimento das críticas à última editora da banda, Impericon, pela forma como trataram a banda nacional), “Remember My Name”, “Soul Rebel” e “Knowledge Is Power” foram os grande destaques de uma actuação emocionante e até histórica.
Seria difícil suceder a estes níveis de intensidade, por isso a melhor coisa a fazer é mesmo trazer algo completamente diferente. Os Blowfuse não são completamente diferentes ao punk/hardcore mas fazem-no de um ponto de vista mais acessível do rock. Mas acessível não quer dizer que seja menos explosivo. Com muito movimento mas sem provocar o mesmo tipo de entusiasmo entre o público, o punk rock da banda gozou de um som poderoso – um dos melhores do cartaz – que em muito ajudou a que a sua performance fosse tão boa.
Curiosidade para o facto da banda ter agradecido aos Not Enough por terem emprestado os instrumentos precisamente quando tocaram a música… “Not Enough”. Destacamos ainda da sua actuação a  “House Of Laugh”, “Man Of Opportunities”, “Ripping Out”, “Radioland” e a cover com que acabaram o concerto: anunciada como uma música dos Sonic Youth, tocaram com o início da “In Bloom”, a “Territorial Pissings”, ambas dos Nirvana. A banda espanhola também foi a primeira de duas escolhas internacionais escolhidas para fechar esta terceira edição do Casaínhos Fest, não deixando de agradecer à sua editora no nosso país, a Infected Records, responsável pelas visitas da banda ao nosso país.
A segunda banda internacional do cartaz e também pela primeira vez em Portugal, eram os alemães Dust Bolt, que deram um concerto de ficar na memória dos presentes. Com uma banda com já três (bons) álbuns editados, fica difícil de perceber como ninguém os tinha trazido cá antes. Como não acreditamos que seja tarde para o quer que seja, a banda provou estar num momento de forma demolidor, destilando thrash metal clássico de extremo bom gosto.
Foi um desfilar de malhões que começou na “Violent Abolition” e terminou na “Agent Thrash” (com o vocalista/guitarrista Lenny B. a ir para o meio do público) já em regime de encore e pelo meio com “Awake The Riot – The Final War”, “Soul Eraser”, “Blind To Art, “Distant Scream (The Monotonous)” – dedicada a Tiago Fresco, da organização, por trazer a banda a Portugal, entre outras. Foi uma actuação que impressionou como a banda se dispôs em palco, não parando o headbanging  por um segundo e não sacrificando em nada os muitos detalhes que as músicas exigiam.
Para quem viveu a cena anos atrás, este alinhamento do Casaínhos poderia soar estranho. Afinal tínhamos bandas hardcore, punk e metal (de subgéneros variados) a sucederem-se e a serem apoiadas da mesma forma. As tribos deixaram de ter o peso que tinham e ainda bem porque separações provocadas por barreiras estilísticas é algo que deixou de fazer qualquer tipo de sentido há já muito tempo. O facto de todas as bandas terem enaltecido, como já foi dito atrás, o espírito underground do festival e de união ao som nacional.e também do próprio apoio do público presente é representativo da magia e mística que este festival, apesar de jovem, já possui. Que cresça e venham muitos mais, sendo representativo do crescimento e sobretudo da união da nossa cena.Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Casainhos Fest

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