Entrevista – Morcrof
São anos dedicados ao lado sombrio do Metal, mais precisamente 25 anos de carreira. De lá pra cá, a banda enfrentou todos os percalços comuns dentro do underground, porém se estabelecendo como um grande nome do Dark Metal brasileiro. Não se restringindo apenas a este estilo, os Morcrof, divulgam actualmente o álbum ao vivo “Live at the Brazilian Swamp” (2017). O baixista Paullus Moura falou à World Of Metal sobre este novo disco e outros assuntos que envolvem a banda, que hoje é completada por Eziel Kantele-Väinö (vocal), Brahmss Kermanns (teclados), R’Bressan (guitarra) / C’ Borges (guitarra) e R’Herton (bateria).
Por Vitor Franceschini
Quando vocês sentiram que o ‘bootleg’ “Live at the Brazilian Swamp” (2017) deveria ser lançado de forma oficial e por quê?
Paullus Moura: Quando escutei a primeira vez, pensei ser interessante materializar algo que eternizasse aquela memorável noite! Extraí os áudios do vídeo original gravado pelo Rog666, o Dog masterizou no KW Home Studio e em seguida mostrei ao restante da banda sugerindo a ideia de lançarmos um ‘live’. Não é um áudio perfeito, mas aceitável, o foco desse lançamento não é a limpidez das notas, mas a essência que permeou naquela noite! Ademais, gostamos de bootlegs, há diversos materiais nossos com ‘live’ bônus track.
E o que vocês lembram e podem falar sobre aquela apresentação do dia 25 de julho no Hangar 110?
Paullus Moura: Lembro que estávamos ansiosos, o Hangar 110 estava cheio, cerveja gelada no camarim… Muito movimento nos bastidores entre as bandas, organizadores e produtor, um pouco de tensão pairava no ar para que tudo saísse dentro do esperado e, ao mesmo tempo, franca irmandade e a sensação de realização por ter participado daquela noite histórica pra cena brasileira!
Este é o segundo disco da banda, apesar do single “Codex Gnosis Apokryphv: Porta Ex Solis Svrsvm Aqvilonem” (2015) estar entre os lançamentos, o anterior também era um álbum ao vivo, no caso “In Tenebris Vitam Traho” (2010). Vocês acreditam que a verdadeira essência da banda está nos palcos?
Paullus Moura: Acho que temos dois universos peculiares: Quando lançamos álbuns de estúdio, se evidenciam características sonoras diferentes das apresentadas em um álbum ao vivo. No estúdio se tem outra pegada, outras pressões, outra proposição, oportunidade de regravar trechos, a possibilidade de corrigir imperfeições. Nos álbuns ao vivo a banda está desnuda, crua, sem muito efeito, interpretando as músicas na hora, com ou sem improvisos. Ambos são distintos e essencialmente diferentes no contexto; diria que são dois lados de uma moeda. Mas sendo bem sincero, não considero o “Live At The Brazilian Swamp” com status de segundo álbum. É apenas um ‘live’. Importante para nós como os demais materiais que lançamos anteriormente, cada qual momentos específicos da carreira da Morcrof, mas igualmente importantes eu diria.
Até o momento, Morcrof lançou apenas um álbum completo de estúdio, “Machshevet Habriá (Myths and Conjectures of Creation)”, lançado em 2005. Por que o grupo ainda não soltou mais um full-lenght? Há previsão de lançamento de algum trabalho inédito?
Paullus Moura: Sofremos a maldição de nunca termos fechado o ciclo de compor, gravar e tocar com a mesma formação. Por vezes compúnhamos e gravávamos com uma formação, mas tocávamos ao vivo com outra. Teve situações que compomos com uma formação, gravamos com uma segunda e fizemos shows com uma terceira. Enfim, a constante troca de integrantes somado com problemas paralelos e a forma como compomos levou a uma discografia cheias de demos, ‘lives’, compilações, vídeos e single, mas com apenas um full-lenght. Atualmente estamos trabalhando nos finais do novo álbum, mas sem uma previsão exata de lançamento.
E vocês podem adiantar como o novo trabalho inédito irá soar, enfim, falar um pouco mais sobre isso?
Paullus Moura: O novo álbum continuará seguindo o complexo conceptual originado em “Machshevet Habriá (Mythas And Conjectures Of Creation)”, este, com temática referente ao “ser” e o “não ser” e o novo álbum, a consciência imersa e desperta na própria existência. O novo full-lenght apresentará letras cantadas em latim e trará o título “.:.CODEX. GNOSIS. APOKRYPHV .:.arcano. verba.revelatio.:.” e apresentará 7 faixas num total aproximado de 50 minutos. A produção da capa também está adiantada e estamos aguardando apenas o processo final da mixagem e masterização.
Aliás, lá se vão doze anos desde o lançamento de “Machshevet Habriá (Myths and Conjectures of Creation)”. O que ele representa hoje para a banda e como vocês o vêem atualmente?
Paullus Moura: Representa um ótimo momento de uma das mais criativas formações que tivemos. Este álbum foi feito com muita dedicação, comprometimento, dignidade e, ao cabo, nosso limite pleno. Ainda me emociono quando o escuto e me traz óptimas recordações!
O Morcrof tem como sua particularidade suas letras em latim. Como e quando vocês surgiram com essa ideia e como é compor nessa língua? Enfim, quais dificuldades e vantagens em relação a compor em latim?
Paullus Moura: É verdade… Sempre flertamos com o latim desde o início e, o primeiro trabalho que batizamos foi a DT 1996 “SCIENTIA AB MORTVVS”. Mas o bem da verdade é que só agora conseguimos compor todas as letras de um álbum nesse idioma. O latim é uma indumentária poética, uma ferramenta que complementa a atmosfera e o clima que queremos ao dar ao significado aos nossos temas que é assim envolvido com uma película misteriosa. Não foi fácil escrever, exigiu algum tempo me debruçando, tomando aula, estudando e pesquisando o idioma para que pudesse cometer menos equívocos possíveis.
E o que vocês procuram passar em suas letras?
Paullus Moura: Uma interpretação existencial contra si mesmo em direção ao sentido de nascer, crescer, procriar e morrer, indagando, libertos em prismas metafóricos transmitidos de inconsciente para o inconsciente.
Por fim, o Morcrof é uma banda que está há 25 anos na ativa. Qual balanço vocês faz desses anos de banda e o que esperam e/ou preparam para o futuro?
Paullus Moura: É estranho se dar conta que este ano completaremos um quarto de século. Tudo que vivemos e fizemos parece que foi ontem. Tudo que aprendemos, conquistamos, compomos, amigos que fizemos, tudo absolutamente, devemos ao Morcrof e ao underground nacional. Tudo que nos pareceu difícil em diversas épocas passadas hoje só nos faz ratificar de que valeu a pena! E o futuro, esse eu não sei… Talvez cheguemos nos 30 anos, quem sabe?
Muito obrigado pela entrevista. Podem deixar uma mensagem final aos leitores.
Paullus Moura: Muito obrigado meu irmãos pelo espaço cedido, pela oportunidade de informar um pouco mais sobre a Morcrof, os nossos planos futuros, a nossa história, enfim… Quem puder e se interessar, poderá nos encontrar nas redes sociais, YouTube, BandCamp, SoundCloud, MySpace, onde tem um bom acervo histórico de nossas atividades. Eternas considerações a todos!
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