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Filhos do Metal – As Vidas dos RAMP

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Trinta e três anos depois do início, os RAMP continuam a produzir música de qualidade. Bastaria esta frase para descrever uma das mais portentosas bandas do espetro metálico Português. Só que… não! Não é suficiente porque a banda tem uma carreira e uma história de resiliência, persistência e algumas pitadas de sofrimento, com muitos ingredientes e aromas. Não são, por certo, a única banda a ter passado por dificuldades e a manter a chama viva. Mas o caso dos RAMP é deveras interessante e daria um ótimo case study. Sem a intenção de dissecar o passado, presente e futuro dos “Rampazes”, o momento é apropriado para destacar a banda, que se prepara para lançar no mercado o sexto álbum de originais. “The Illusion of Truth” é o primeiro avanço do novo álbum intitulado “Insidiously”. Um pedaço de criatividade típica dos RAMP, que sempre souberam inovar sem perder a identidade. Claro que se notam algumas diferenças na interpretação, talvez a mais evidente seja mesmo a bateria, pelo menos em “The Illusion of Truth”. Com a saída do baterista e membro fundador Paulo Martins, a prestação do novo elemento João Gonçalves marca uma mudança, que é notória no ritmo marcante de duplo bombo. A composição é da responsabilidade dos elementos que restam da formação original, Ricardo Mendonça (guitarra) e Rui Duarte (voz). Há peso, agressividade, mas como sempre melodia e profundidade lírica. Talvez não seja a melhor composição jamais feita pelos RAMP, mas é um bom regresso. Por certo, o álbum mostrará excelentes momentos de Metal feito em Portugal por Portugueses.

RAMP sempre foi sinónimo de coesão, garra, persistência e qualidade. Um dos expoentes máximos do Heavy Metal em Portugal. Para muitos a melhor banda do género no nosso país. Permitam-me acrescentar que sempre estiveram à altura do melhor que se fez em todo o mundo. O início de carreira foi deveras auspicioso, isto porque lograram assinar um contrato de edição com uma multinacional logo para o lançamento de estreia “Thoughts”. Rapidamente se tornaram numa sensação pelo facto de serem uma banda Thrash Metal a subir à primeira divisão da música em Portugal. Na verdade, os RAMP não passaram pelo underground. Saltaram com relativa ligeireza para os grandes palcos e para os meios de comunicação mainstream. Os miúdos do concelho do Seixal atuaram no Pavilhão do Dramático de Cascais, na Praça Sony (Expo ’98), Estádio Nacional, Coliseu dos Recreios, com os maiores nomes internacionais do Metal. Espalharam energia e espantaram milhares de pessoas por todo o país em Festivais, Queimas das Fitas e concertos em nome próprio. Gravaram um álbum ao vivo perante uma multidão de milhares de pessoas que foi de propósito para os ver comemorar 10 anos de carreira. Com 6 álbuns de originais (contando com o de 2022), um ao vivo, uma compilação e um EP, atingiram um estatuto impensável para uma banda do género. Tudo se deveu ao talento e criatividade, mas também à força e empenho. No entanto, foram muitos os contratempos e os períodos mais difíceis. O serviço militar obrigatório (S.M.O.), as vidas pessoais, a falta de profissionalização definitiva, a constante troca de editora, a incapacidade das editoras em exportar uma banda desejosa de se internacionalizar. Nada disso parou os RAMP, mas causou abrandamentos, abandonos e uma boa dose de desilusão. Já o disse anteriormente e repito – os RAMP atingiram um nível difícil de superar em termos de estatuto, em Portugal. Faltou construir uma carreira internacional que lhes garantisse uma eventual profissionalização enquanto banda. Estiveram muito perto e mereciam.

Os RAMP do presente apresentam-se agora sem pontos. Sim! Foram perdendo alguns pontos nas letras do nome. Primeiro o “M.” de Miguel (o baixista original), depois o “A.” de António (o guitarrista Tozé) e mais recentemente o “P.” de Paulo. Resta o “R.” de Ricardo. Mas como é evidente, nada tem demovido os restantes músicos de continuarem uma carreira já extensa. Esta foi a espera mais longa a que a banda submeteu os fãs. Treze anos passaram depois da edição de “Visions”. E, tal como já é público, foi um período conturbado, onde muitas decisões tiveram de ser tomadas para chegar a este momento. Uma coisa é certa RAMP foi, é e será sinónimo de excelência. Para quem esteve por dentro de todos os processos, sabe a capacidade, o nível de exigência e o profissionalismo desta banda. No presente, apresentam-nos mais música, que no fundo é o que interessa. O futuro ainda está por escrever e não será uma ilusão, mas sim uma verdade.


 

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