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Filhos do Metal – “Coisas Estranhas”

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Terminei a crónica do mês passado com a frase “O Mercado existe, é preciso conquistá-lo”. Eis que nem a propósito, o mês de julho foi pródigo em situações que provam isso mesmo. Começo pela mais evidente. “Stranger Things” é uma série produzida para a Netflix que tem tido sucesso. Aproveitando essa onda, “Master of Puppets” dos Metallica despertou interesse e curiosidade por ter passado num dos episódios da série. Para quem já estava familiarizado com o tema, foi apenas interessante ouvi-lo nesse contexto. Mas para quem não conhecia foi uma descoberta que levou ao despertar do interesse pelos Metallica e muito provavelmente pelo género musical em geral. Aliás, as redes sociais são prova disso, com testemunhos de adolescentes em busca pelos meandros do Heavy Metal. Isto é conquista de mercado. É estratégia empresarial inteligente. Para todos os que gostam de Heavy Metal deve ser motivo de orgulho. Os Metallica, através da resiliência e perspicácia de Lars Ulrich, dos seus managers e de uma vasta equipa, tem vindo a furar mercados fora do nicho do Heavy Metal, conquistando paulatinamente públicos de diferentes quadrantes. Basta ler “Enter Night Metallica The Biography” de Mick Wall para constatar isso mesmo. A prova do sucesso da estratégia está à vista – a banda é uma das maiores do mundo, a par dos grandes nomes do Rock mundial. Não, não são a maior banda de Heavy Metal, são uma das maiores bandas entre todos os géneros.

A máquina que é a empresa e a marca Metallica veio a Portugal mais uma vez provar isso mesmo. Foram cabeças de cartaz num festival que não teve qualquer outra banda de Heavy Metal no programa. O NOS Alive é um festival que atrai um público heterogéneo. É um evento para massas, que procuram entretenimento, mas também descoberta musical. No dia da atuação de Metallica estavam presentes imensos jovens. Quando digo jovens refiro-me a crianças, adolescentes e jovens adultos. Um recinto esgotado com uma avalanche de fãs, metaleiros e muitos outros a entrar na “Metallica Family” como referiu James Hetfield. Só uma banda com o calibre e exposição mediática como os Metallica conseguirá angariar mais fãs para a causa do Metal. Conseguindo, inclusive, tempo de antena na televisão pública Portuguesa! Foi isso que aconteceu no dia 8 de julho de 2022 no Passeio Marítimo de Algés. Tanta exibição de força, tem repercussão, seja ela boa ou má. Os comentários foram muitos, antes, durante e depois desta passagem por Portugal dos americanos Metallica. Houve os queixosos, os detratores, os que aplaudiram, os eternos fãs, os que elogiaram e os que simplesmente falaram por falar. Todo o falatório só agiganta a banda e divulga a marca.

Mas há coisas estranhas! Então não é que também houve quem tecesse comentários duvidosos sobre um outro festival dedicado exclusivamente aos sons pesados. O VOA teve lugar no Estádio Nacional e apresentou uma diversidade de bandas que apelavam aos metaleiros em geral. Grandes nomes do Thrash (Megadeth, Kreator), bandas de Metal mais “comercial” (Bring Me The Horizon), o Metal mais épico (Sabaton, Epica), nomes do nosso Heavy Metal Nacional (Bizarra Locomotiva, Gaerea), entre outros. O estádio nacional não encheu. Mas como poderia encher? Primeiro: não havia um grande nome no cartaz, comercialmente mais apelativo para as massas. Segundo: 17 bandas é pouco para atingir uma maior diversidade de públicos, se compararmos com os 126 artistas do NOS Alive (sem contar com o Palco Comédia) ou com os mais de 150 nomes dos festivais Wacken Open Air e Hell Fest. Terceiro: o VOA ainda não atingiu a maturidade, nem sequer é um evento para outra coisa que não seja ir ouvir Heavy Metal. Ou seja, estamos perante a tal necessidade de conquistar público com estratégias capazes de ir além da promoção de nicho dentro do Heavy Metal. Temos de ser mais arrojados, como os Metallica são. É preciso ir além do metaleiro. E depois houve ainda Manowar no Laurus Nobilis! Uma das mais icónicas bandas do Metal a tocar em Famalicão! Neste caso também foram muitos os comentários sobre a presença da banda americana. Mas é disso mesmo que se trata, falar e escrever sobre as bandas. Apesar de ser necessário mais, é de louvar e aplaudir o que está a ser desenvolvido com o VOA, Vagos Metal Fest, Laurus Nobilis Music Fest, SWR, Hard Metal Fest, Milagre Metaleiro, Under The Doom, Moita Metal Fest, Comendatio Music Fest e tantos outros. Eu fico contente só pelo facto de ver duas meninas adolescentes a curtir Metallica ao vivo, mesmo à minha frente, que por certo nunca ouviram falar de Onslaught, Sabbat, Dokken, Marduk, Tarantula, Prayers of Sanity, Gaerea ou qualquer outra banda da grande família Heavy Metal. Ele há coisas estranhas.


 

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