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Filhos do Metal – Festa ou Concerto

Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Numa altura em que temos algumas das nossas mais prestigiadas bandas nacionais de peso, a promover os seus últimos álbuns em digressões por Portugal e no estrangeiro, ocorreu-me um assunto pertinente. Há muito que penso e falo entre amigos e colegas sobre a diferença entre os concertos em nome próprio e as atuações em festas e romarias. Em Portugal há uma forte tradição de festas pagãs e religiosas. Esses eventos, assim como comemorações de dias especiais têm por norma uma componente de animação com um programa musical. Há de todos os géneros: Passagem de Ano, 25 de Abril, São Pedro, Santo António, Queimas das Fitas, Festa das Maçãs ou até Festa do Arroz Carolino. São inúmeras por todo o país. Estes eventos foram, são e serão a principal fonte de rendimento dos nossos músicos e artistas. As autarquias, comissões de festas, associações, entre outras entidades suportam as despesas de produção, incluindo os cachets dos grupos e artistas. Isto porque na maioria dos casos estes eventos são de acesso gratuito para o público, salvo algumas exceções. Aliás, houve uma evolução gradual, tendo algumas organizações optado por cobrar entradas e alterar um pouco o conceito de alguns desses eventos. A verdade é que sem este enquadramento sociocultural não seria possível aos músicos serem profissionais e terem carreiras firmadas. Refiro-me, claro está, ao universo da música Ligeira, Popular, Fado, Pop Rock e nas décadas mais recentes também o Hip-hop e a música eletrónica entraram nesse circuito.

É verdade que o crescente número de festivais (são já mais de 200 em Portugal) ajudou a aumentar as datas dos espetáculos anuais para muitos músicos. Mas há uma verdade incontornável – são raras as digressões em nome próprio realizadas por grupos e artistas Portugueses. Realizar uma tour de promoção a um álbum acabado de lançar, com datas em recintos apropriados para espetáculos, com entradas pagas é algo pouco comum. Há exceções que confirmam a regra! Já houve quem o fizesse e com relativo sucesso. Lembro-me dos The Gift, por exemplo. Os grandes nomes do Fado fazem digressões internacionais em nome próprio com casas cheias. E depois há as bandas de Heavy Metal, como são os casos atuais dos RAMP, com uma digressão em Portugal a promover o álbum “Insidiously”. Os Moonspell a atuar um pouco por todo o mundo, como têm feito há já bastantes anos. Os Gaerea com o crescente sucesso na sequência do álbum “Limbo”. Os Holocausto Canibal, Corpus Christii, Heavenwood, entre outros que lograram tocar foram de Portugal em recintos específicos, muitas vezes juntos com outras bandas do género.

Houve e há bandas do Heavy Metal nacional que também tocaram e tocam nas festas, romarias e outras comemorações. Aquelas que atingiram maior visibilidade como os Ibéria, Tarantula, RAMP, Moonspell, entre outros e que se tornaram apelativas para preencher um espaço no “programa das festas” dedicado aos fãs dos sons mais pesados. No entanto, o que está em causa é a motivação do público. Quero com isto dizer que as pessoas assistem aos concertos das bandas porque vão a uma festa gastronómica ou outra coisa qualquer. Se o mesmo artista que está inserido no programa da festa realizasse um concerto em nome próprio numa sala, na mesma localidade e com bilhetes pagos, muito provavelmente teria uma audiência significativamente inferior. As bandas de Heavy Metal em Portugal, na sua maioria, não têm a sorte de fazer carreira profissional porque não são atrativas para integrar os cartazes das festas, por isso fazem concertos em nome próprio pelo país. Este facto deve ser motivo de orgulho ou por outro lado é preocupante? Fica a questão.


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