Filhos do Metal – Mundo Virtual
Por Duarte Dionísio
(Filhos do Metal – À descoberta do Heavy Metal em Portugal)
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Muitos de nós vivemos uma época em que o underground era algo de palpável e real. Há algumas décadas atrás, quem gostava e consumia Heavy Metal, descobria as novidades e tinha contato com as bandas através dos escassos meios disponíveis. Era o tempo das fanzines, aquelas fotocópias em formato revista a preto e branco. Nem sempre com a melhor qualidade, com acabamentos arcaicos, mas com um potencial enorme de gerar dedicação. Era o tempo dos programas de rádio em estações locais (algumas ainda piratas), que nos faziam rodar o botão em busca das frequências, como se fosse algo proibido. Era o tempo dos flyers, pequenos pedaços de papel fotocopiados que viajavam por todo o mundo, a espalhar a mensagem de bandas e tudo em redor. Era o tempo das demos em cassete, com gravações low-fi e capas ainda com menos qualidade. Era o tempo das tardes a ouvir e descobrir as bandas em clubes como o Rock Rendez Vous. Era o tempo de emprestar álbuns em vinil ou cassete e copiar para cassetes virgens, por vezes conseguíamos gravar um álbum de cada lado da cassete. Era o tempo das revistas de Metal estrangeiras, que comprávamos com meses de atraso, quando apareciam nas bancas – Metal Hammer, Hard Rock, Metal Forces, Kerrang! e até os artigos de Metal que apareciam na Bravo, revista alemã de cultura Pop Teenager, assim como a página “Blitz Metálico”, no jornal semanal dedicado à música, editado em Portugal. Nessa altura sentíamos que fazíamos parte de algo muito exclusivo, um clube secreto e restrito de jovens em comunhão. Mas tudo era tangível, o sentimento que nutríamos pelo Heavy Metal era refletido nos posters na parede, nas revistas, fanzines, flyers guardados religiosamente. Ahhhh! Que saudades! Ou será que não?
A realidade é que podemos ter saudades, mas não podemos ignorar uma das características mais intrínsecas ao ser humano – a evolução. Dito isto, está claro que podemos sentir falta do lado mais táctil dos objetos que víamos, cheirávamos e colecionávamos, mas a evolução tratou de simplificar e expandir tudo de uma forma mais universal e virtual. Acrescentando ainda uma maior qualidade de apresentação, ou pelo menos as ferramentas para o atingir com mais facilidade. Se este é um facto inabalável, também não podemos desconsiderar a evidente influência que o gosto pelo colecionismo e exclusividade tem na criação de modas e movimentos. Veja-se a atual voracidade pelo vinil e regresso das edições em cassete. Já aqui mencionei este assunto dos formatos de edição, assim como dos concertos virtuais. Mas faltava referir que também as revistas estão a deixar de existir em formato físico, para passarem a estar disponíveis apenas na internet, no formato digital ou virtual. Lançar uma revista dedicada ao Heavy Metal feita em Portugal demorou muito e exigiu grande sacrifício. Conseguimos, a certa altura, ter mais do que uma em simultâneo, mas a Loud! conseguiu o feito de atingir centenas de edições. Agora deixa de estar disponível nas bandas e passa a ser a irmã mais velha aqui da nossa World Of Metal Magazine no mundo virtual. Resta a Metalegion que tem edição em papel em simultâneo com a virtual. Outras houve que apareceram apenas virtualmente, mas que desapareceram tão depressa como surgiram. Penso que concordam que é para o bem de todos nós que haja diversidade, sem preconceitos ou problemas de concorrência.
Com toda a certeza a evolução não irá parar. Por isso, o melhor é fazermos um exercício de adaptação e agradecer o facto de hoje termos mais e melhor acesso à informação. Tudo ao alcance de um clique de forma imediata. Talvez todo este processo imparável esteja a desvirtuar algumas tradições com as quais nos sentimos mais próximos do nosso som de eleição. Mas esse é o caso dos mais velhos, porque os mais novos já crescem neste novo mundo virtual. Para que ambas as realidades possam conviver em harmonia, compete-nos passar a mensagem aos nossos descendentes, lembrando sempre que tudo tem uma base, um princípio. O mundo virtual só existe porque existe (ou existiu) o mundo físico. Pensei em escrever sobre NFT (Non-Fungible Token) nesta crónica, o que levaria talvez a descrições mais complexas. Mas a verdade é que o volume de negócios que está a ser gerado pelos NFTs é de tal forma impressionante, que o mundo virtual vai ganhar ao mundo físico. Possuir arte ou objetos únicos, deixou de ser táctil, apenas possível virtualmente! Eu gosto de sentir com o tato, se é que me entendem…
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