Review

Máquina do Tempo – Sinister Downfall / Tracy Vandal & John Mercy / MoE / Ronnie Abeille

Sinister Downfall – “The Last Witness”

2022 – Funere

O que será que diz de uma pessoa que adora Funeral Doom Metal? Será possível traçar um perfil completo apenas desse facto? Será que essa particularidade é reveladora de tudo o resto que essa pessoa pensa ou faz? É um mistério, mas a verdade é que adoro mesmo Funeral Doom Metal e a cada nova banda/álbum que surja no horizonte, é impossível não ficar completamente fascinado. Ainda que tenha consciência que essa obra dificilmente será algo, a bem da sanidade, que seja reproduzida bastantes vezes. Mas aqui estamos, mais uma vez, com o terceiro álbum dos alemães Sinister Downfall que mais do que ser melancólico, é pesado e macabro. E ainda assim, belo, nas imagens que evoca. Até na miséria que consegue evocar com mestria. Não sendo fácil de ouvir e dedicado a um nicho muito específico, consegue ir ainda mais longe na forma como evoca o peso do doom e a melodia (ora melancólica, ora macabra, ora ambas) num registo que constitui uma viagem ao âmago da tristeza humana.

9/10
Fernando Ferreira


Tracy Vandal & John Mercy – “Midnight Presents”

2022 – Lux

Tracy Vandal é já um nome que não esconde a excelência do seu trabalho (nos Tiguana Bibles e nos A Jigsaw, com os quais tivemos oportunidade de ver no Festival de Músicas do Mundo em Sines) e a vocalista junta-se a John Mercy que também já nos é conhecido pelo seu trabalho a solo assim como também através dos A Jigsaw. A junção destes dois músicos não deixa grande espaço para a surpresa em termos de sonoridade. Sabemos que aquele espírito Americana e blues vai-nos banhar sempre com uma enorme excelência à qual não conseguimos evitar de ficar contagiados. A particularidade deste “Midnight Presents” é que é um conjunto de covers não das músicas ou artistas que influenciaram a dupla e sim daqueles que influenciaram as suas influências. Por outras palavras, as influências de Nick Cave, Johnny Cash, Tom Waits e outros nomes incontornáveis que são parte integrante das inspirações de Vandal e Mercy. Sem dúvida que a voz de Tracy dá um tom mais doce a estes temas que não deixam de ser por isso negros e melancólicos, tornando-se uma abordagem que revitaliza temas já de si imortais. Uma bela colecção de pedaços de sonho que poderiam muito bem estar na banda sonora de um filme de David Lynch.

8.5/10
Fernando Ferreira


MoE – “The Crone”

2022 – Vinter

Um pedaço de maravilha musical intitulada MoE que tem em “The Crone” o seu quarto álbum de originais que nos faz lembrar que esta é uma das propostas mais fora da caixa do sludge. Com um sentido atmosférico que parece mais adequado ao post metal e com uma base que vai ao encontro do noise rock mais experimental, esta junção materializa-se em sete temas que são tão desagradáveis como viciantes. Como uma ferida ou cicatriz que não resistimos a passar as nossas mãos, de sentir o relevo, ou um acidente ao qual não conseguimos olhar o nosso olhar de forma sádica e masoquista, apesar de nos horrorizar. E há um groove hipnótico no meio deste desconforto todo, um desconforto que não queremos parar. Paradoxal mas altamente eficaz para quem gosta de sentir música no limite, de música que os leve a esse ponto.

8/10
Fernando Ferreira


Ronnie Abeille – “Hell Or Nothing”

2022 – Agoge

Tinha curiosidade para ouvir este álbum, sobretudo por ter notado, do pouco que conhecia, uma abordagem bem rockeira ao som mais industrial. Muitas vezes coloquei à porta do prato propostas do género mas com o passar do tempo fui encontrando alguns pontos positivos nesta abordagem, mais que não seja pela lufada de ar fresco que poderá ter. Curiosamente, não é nada que encontremos aqui, tenho que admitir. “Hell Or Nothing” faz-nos lembrar um pouco o feeling, muito menos selvagem, de uns White Zombie, nos seus momentos mais rock e compassados. Ou até mesmo nalgumas experiências electrónicas por parte de bandas conceituadas que acabaram por ser mal recebidas (Scorpions, Def Leppard, Megadeth, a lista é longa). E apesar destas não serem as melhores indicações, o álbum em si acaba por ser bastante interessante, conseguindo capturar o nosso espírito nostálgico e também pela sua própria simplicidade.

7/10
Fernando Ferreira


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