O Álbum do MêsTops

O Álbum do Mês – Abril 2023

10 – Carbellion – “Weapons Of Choice”

2023 – Eclipse

Grande sonoridade que a capa antevê logo, aquele feeling bem norte-americano do bom rock, com aquele cheirinho a combustível, temperado com areia do deserto e muita cerveja e whiskey barato. E é o caso em que a capa não engana em nada e consegue representar na perfeição o que vamos ouvir embora não nos tivesse talvez preparado para a qualidade com que estes temas misturam o rock com o feeling stoner e até um pouco espírito alternativo – ou talvez o espírito alternativo é que tenha ido beber muitas vezes a esta fonte. Músculo com fartura e inspiração que resulta num álbum que não vamos conseguir parar de ouvir. E ainda bem. Faz falta vícios destes.

9/10
Fernando Ferreira


9 – Dark Sanctuary – “Cernunnos”

2023 – Avantgarde Music

Regresso em grande dos Dark Sanctuary, uma das mais importantes europeias do som ambient/darkwave, cujo culto por vezes poderá dar-nos a falsa noção da sua música ser algo sobrevalorizada e depois vamos ouvir aquilo que fazem e é impossível não nos rendermos. “Cernunnos” é um trabalho ambicioso que é perfeito para quem gosta da componente gótica que bandas como Cradle Of Filth adicionaram à sua música como também para quem gosta de ambiente e dungeon synth. A atmosfera continua densa e negra assim como também misteriosa e evocativa, num álbum que representa, para a banda, o seu renascimento literal já que tinham acabado algures em 2009. Como muitos regressos, por vezes as expectativas e o culto poderiam colocar as expectativas altas demais para que pudessem ser correspondidas. E apesar das expectativas estarem mesmo altas, este regresso não as defrauda. Pelo contrário, é mesmo aquilo que se queria e desejava. Obrigatório.

9/10
Fernando Ferreira


8 – Haken – “Fauna”

2023 – InsideOut Music

Depois de um excelente Virus, as expectastivas estavam enorme para o próximo álbum dos Haken, cada vez a crescer mais no panorama do progressivo. Curiosamente este é um álbum que os vê dar mais um salto cheio de ambição com uma abordagem cada vez mais moderna mas também mais abrangente. As melodias são o ponto forte deste trabalho e a forma como as mesmas estão presentes em todos os momentos, quer nos mais pesados quer nos mais acessíveis. Essa abrangência acaba por ser o que mais impressiona aqui, com a passagem de um rock à la Muse com o peso das guitarras de oito cordas (ou qualquer coisa parecida que seja grave o suficiente) a salientar-se Mais de uma hora de música e um álbum que dá muito material para digerir durante uns bons tempos. O que é basicamente o que qualquer fã da banda poderia pedir.

9/10
Fernando Ferreira


7 – Hypno5e – “Sheol” 

Nos últimos anos tenho sentido uma constante actualização nas minhas próprias definições daquilo que o prog é como estilo. Isto porque essa definição assenta (ainda assim é na maior parte das vezes) naquilo que foi feito na década de noventa. A estética de bandas como Pink Floyd, King Crimson e Yes (apenas para citar alguns exemplos) fizeram, estética essa que cortaram com muito do que era efeito, ou pelo menos elevava o que era feito a um novo patamar de ambiência, megalomania e até profundidade temática e lírica. Essa progressão da música depressa se tornou o que era esperado – ou seja, na prática deixou de haver propriamente uma progressão enquanto género musical. Depois temos todas as bandas que têm surgido nos últimos anos onde usando um pouco da ambiência (uma espécie dela) e pegando na estética do metalcore e djent começaram a ser chamadas de prog. Algo que não fazia sentido, porque não havia propriamente uma progressão com os seus temas apenas a serem invulgarmente técnicos (por vezes) mas sem alterar aquilo que outras bandas djent e metalcore faziam. Luta de Sísifo, onde todos os dias se fazia o mesmo com o resultado a ser o mesmo, sem nenhuma conclusão verdadeiramente permanente em relação à discussão. E depois temos aqui “Sheol”, o sexto álbum dos Hypno5e que tanto aceitamos que seja chamado de progressivo como de outra coisa qualquer. Moderno, sim, mas com capacidade de se alinhar pela concepção clássica do prog tal como entendemos, assim como a capacidade de criar verdadeiros épicos que vão muito mais para além dos lugares comuns do metalcore e djent (nada de errado com eles). São setenta minutos onde temos um álbum completo, desafiante e viajante que vai para além daquilo que é esperado de uma proposta de metal moderno, nem se encaixando bem na concepção que o termo nos traz. Um álbum onde temos verdadeiramente a sensação de estarmos perante um álbum forte e coeso que nos leva numa viagem e onde não só a música evolui conforme a viagem decorre como também nós próprios. Se procurarmos por clássicos de prog metal moderno, onde se sinta que o género não é atirado à toa, este é verdadeiramente um deles.

9/10
Fernando Ferreira


6 – God Disease – “Apocalyptic Doom” 

2023 – Gruesome

Há qualquer coisa de belo no abismo, há qualquer coisa de belo na forma como este nos pode assustar ao mesmo tempo que nos fascina. “Apocalyptic Doom” é o segundo álbum dos finlandeses God Disease e deixa muito claro esse fascínio paradoxal, tal como aquele de ficarmos completamente fascinados perante a forma como trazem peso e melodia, ambos com uma melancolia que desarma. Sim, terá de haver amor pelo doom metal, sem o mesmo, obviamente que todo este impacto vai passar ao lado. E quem tem esse mesmo amor vai sentir a forma como este está muito bem construído. De referir que a banda também coloca os seus pés no death metal, trazendo assim muita mais dinâmica. O álbum em si é à antiga, ou seja, mal chega aos quarenta minutos, os temas não se perdem em devaneios e soa bem conciso. Num tema como “Remembrace” a banda explora o seu lado mais soturno enquanto logo de seguida, em “Leper By The Grace Of God” consegue mostrar algo mais uptempo e energético. Isto tudo sem alterar a ideia que temos da sua identidade. Um daqueles álbuns que vai directamente ao encontro das nossas expectativas. E isso é bom.

9/10
Fernando Ferreira


5 – Litost – “Pathos” 

2023 – Blood Fire Death

Segundo álbum dos Litost, banda de Valência da vizinha Espanha que tem uma sonoridade que nos impressionou logo ao primeiro momento. Falar que eles tocam Death metal enegrecido é algo geral demais para o que fazem, até porque são nas nuances do seu som que está a sua maior riqueza. Juntar a violência do metal extremo com algumas nuances world music, não chega para transformar o seu som em algo como folk metal mas traz realmente uma riqueza adicional que é muito bem vinda não só na “Barján de Céfiro”, um interlúdio instrumental, como também nas músicas ditas “normais” como na “Simún”, uma das nossas favoritas. E como tal é impossível não pensar nos Melechesh como uma das referências, embora o fundamental é senti-los como uma banda que tem uma identidade própria apaixonante. Excelente surpresa!

9/10
Fernando Ferreira


4 – Asphagor – “Pyrogenesis”

2023 – MDD

Este “Pyrogenesis” será uma revelação para quem ainda não conhecia o som dos austríacos Asphagor. Um black metal que não se importa de ter um som bem forte – produção poderosa mas com aquele gostinho orgânico ao ouvido que fica sempre bem – ao qual se junta uma capacidade melódica que está mesmo no ponto. De uma perspectiva metálica, é sem dúvida o equilíbrio perfeito para se ter gosto em fazer headbang. Este é um dos pontos que faz com que “Pyrogenesis” transcenda as barreiras do black metal. Não por ser algo fora do estilo, mas simplesmente porque vai bem mais além daquilo que é esperado. Níveis de brutalidade acentuados, sem que a atmosfera se perca e sem sacrifício de nenhuma das suas componentes. Isto ao longo de uma hora, o que em si é outro triunfo. Longe de soar aborrecido ou de dar passos mais largos do que as pernas que tem, este é um álbum completo numa altura em que o público quer apenas encher os ouvidos à primeira sem ter grande capacidade para apreciar o resto. Pois bem, enquanto tivermos bandas como os Asphagor apostadas em fazer verdadeiras obras-primas como estas, então ainda resta esperança para dias vindouros.

9/10
Fernando Ferreira


3 – Rezn – “Solace” 

2023 – Edição de Autor

Que trabalho tão épico este e que banda tão fantástica. Começa logo pela capa e depois musicalmente parece que somos transportados para o mundo que nos é apresentado visualmente. Parece, não, somos mesmo. O sentido de atmosfera e ambiência aqui apresentado é algo de fantástico. Tão sensível, mas ao mesmo tempo tão denso que nos parece por vezes como uma parede. Apesar da proximidade com o doom e até com o psicadélico, é-nos completamente difícil para não dizer quase impossível tentar definir um estilo musical. Em caso de dúvida cria-se um novo – Atmospheric Doom Ambient é algo que faz todo o sentido e ainda assim não explica toda a beleza esmagadora que temos para aqui, um dos grandes álbuns de 2023, definitivamente.

9/10
Fernando Ferreira


2 – Carma – “Ossadas”

2023 – Monumental Rex

Sempre bom vermos bandas nacionais a surpreender-nos. “Ossadas” é o segundo álbum dos portugueses Carma que se tinham estreado em 2015 com um álbum homónimo. “Ossadas” é uma obra que nos deixa logo rendidos, tendo a noção de que se dedica a uma franja reduzida dos apreciadores de música pesada. Funeral doom é o estilo que abraçam, um estilo que não encontramos muito entre os projectos nacionais (Bosque e Desire são aqueles que serão sempre referenciados) e que não será certamente popular para ver ao vivo, mas que musicalmente continua a ter um enorme impacto em todos os apreciadores de beleza, peso e melancolia. E devo dizer que o forte dos Carma nem é encaixarem-se na categoria do Funeral Doom Metal, ou seja, de simplesmente tocarem lentamente. É precisamente a forma como conseguem injectar a sua música de dinâmicas, apesar de tocarem lentamente. Nem sempre o fazem, e as músicas, mais curtas ou longas, têm todas o seu diferente impacto. É assim um álbum apaixonante ao qual nos rendemos por completo.

9/10
Fernando Ferreira


1 – Cruachan – “The Living And The Dead”

2023 – Despotz

Não existe qualquer tipo de dúvida em relação ao posicionamento dos Cruachan na cena Irlandesa. São, a par dos Primordial, o expoente máximo, sendo que se estes últimos conseguiram sobressair na cena mundial por uma proposta muito individualizada de black metal pagão que se foi tornando progressivamente mais épico, os Cruachan parece que não conseguiram passar do título de banda de culto. Algo que será sem dúvida difícil de mudar hoje em dia (prever hypes e coisas virais é um exercício fútil fadado ao fracasso), no entanto é impossível não se ficar entusiasmado por este “The Living And The Dead” que apresenta um número absurdo de canções fantásticas, não só sendo um dos álbuns mais coesos da sua carreira como também assume por inteiro a costela folk e se isso pode tornar a coisa mais previsível, sem dúvida que a torna deliciosamente parzeirosa. Um álbum que se assume como um enorme vício e que será sem dúvida um dos discos de 2023.

9.5/10
Fernando Ferreira


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