Predominance #17 – Opeth, Five The Hierophant, An Axis Of Perdition, Dragunov, Damage Plan
Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.
Opeth – “The Last Will And Testament” – Foi porventura o álbum mais antecipado de 2024, falo de ‘The Last Will And Testament’, o décimo quarto álbum de originais dos lendários Suecos Opeth. A polémica instalou-se ainda antes do lançamento do álbum consequência do prometido regresso dos guturais por parte do vocalista Mikael Åkerfeldt. Muitas têm sido as críticas acerca da ausência dessas mesmas vocalizações guturais desde ‘Watershed’ mas Åkerfeldt que sendo igual a ele próprio consegue de uma forma muito peculiar ir provocando os fãs mais “die hard” da banda tem teimosamente prologado essa ausência…até agora. ‘The Last Will And Testament’ não é um álbum “orelhudo” (mas será que algum dos álbuns da banda encaixa nessa designação?), são precisas várias audições para absorver todas as particularidades do álbum, contudo depois de nos deixarmos embriagar pelas várias camadas de ‘The Last Will And Testament’ conseguimos perceber que o meticuloso, orgânico e inconfundível Progressivo dos Opeth está mais equilibrado do que nunca, como se todas as personalidades sonoras da banda estivessem agora numa perfeita harmonia. Destaco ‘§1’, ‘§3’ e ‘§7’ como os temas mais fascinantes de ‘The Last Will And Testament’. Uma ultima nota para a concepção do álbum pois o símbolo § representa os parágrafos da leitura de um testamento no contexto familiar algures no pós primeira guerra mundial. (8/10)
Five The Hierophant – “Apeiron” – É possivelmente uma das mais bizarras bandas do espectro da música mais pesada, falo do trio Britânico Five The Hierophant. Formados em Londres algures em 2015 a banda lançou no passado mês de Outubro o seu terceiro álbum de originais intitulado ‘Apeiron’. Toda a envolvência da banda tem contornos insólitos e exóticos desde o próprio nome com inspiração numa conhecida carta do tarot, passando pela estética da banda até às suas sonoridades e é precisamente nelas que nos vamos concentrar. ‘Apeiron’ é o terceiro capítulo de uma peregrinação que começou em 2017 com ‘Over Phlegethon’ e que pelo meio teve ‘Through Aureate Void’ em 2021 (o mais conseguido álbum da banda a meu ver). Com uma consistência e coerência assinaláveis os Five The Hierophant vão conseguindo exponenciar a sua estranhíssima fusão de Jazz com Post-Metal e Avantgarde Metal, uma mistura onde vários instrumentos pouco comuns nos subgéneros em questão têm um importante destaque com particular destaque para o Saxofone. Temas formidáveis como ‘Initiatory Sickness’ e ‘Uroboros’ mostram na perfeição toda a capacidade criativa da banda, duas alucinantes e hipnóticas viagens sensoriais compostas por múltiplas camadas orgânicas que se vão alternando ou entrelaçando conforme o critério delineado para o momento específico. É verdade que as outras quatro faixas que compõem ‘Apeiron’ apesar de interessantes não confirmam na plenitude todo potencial dos Five The Hierophant todavia ‘Apeiron’ estará certamente entre os melhores e mais refrescantes álbuns de 2024. (8/10)
An Axis Of Perdition – “Apertures” – Os autores do formidável ‘Tenements (Of The Anointed Flesh)’ estão finalmente de regresso, falo dos An Axis Of Perdition outrora chamados The Axis Of Perdition que voltam a dizer presente com o seu quinto álbum de originais ‘Apertures’, lançado no passado mês de Dezembro. Despertados do seu coma profundo de 13 anos os Britânicos An Axis Of Perdition estão finalmente de volta com ‘Apertures’, um álbum que apesar de mostrar que a banda não perdeu as suas características essenciais não convence na totalidade. Ao contrário de bandas como Dodheimsgard ou Ihsahn os An Axis Of Perdition (ainda por cima considerando a duração deste hiato) não tiveram a mesma capacidade de reinvenção. O Black Metal Avant-Garde é um subgénero que pode ser apaixonante mas simultaneamente incerto pois é assente numa habilidade camaleónica que não convém perder. ‘Apertures’ oferece-nos uma sedutora e envolvente atmosfera intensificada por riffs inumanos e distópicos adornados por uma vasta e contante panóplia de arranjos de matriz Industrial, destaque para a parca alternância de vertigem nas faixas, factor que contribui para um inegável síndrome de réplica presente no álbum. Um enfoque particular nos temas ‘Metempsychosis’ e ‘Chant Of The Worshipful Prey’, os mais assertivos e pungentes presentes em ‘Apertures’. (7.5/10)
Dragunov – “Vepr” – Foi por volta de 2013 que o bateria da dos Gauleses Abysse de seu nome Seb decidiu mudar de instrumento passado para a guitarra e juntar-se a outro baterista (Tristan) e formar os Dragunov. O nome é sugestivo e provem de uma conhecida arma de longo alcance da extinta União soviética, aliás toda a envolvência dos Dragunov esta de alguma forma ligada à temática militar da União Soviética e ‘Vepr’, o quarto álbum de originais da banda também não é excepção. Da perfectiva de conteúdo ideológico ‘Vepr’ acaba por ser uma espécie declaração de suporte à Ucrânia neste conturbado período da sua curta história pois todos os temas de alguma forma comportam um apoio explícito à causa Ucraniana. Musicalmente ‘Vepr’ é suportado por uma interessante, enérgica e apelativa combinação de Post-Metal com Sludge Metal com alguns pontos de contracto com bandas como LLNN ou Hemelbestormer. Quase totalmente instrumental com excepção feita para o tema ‘The Great Hour‘ que conta com a contribuição vocal de Stefan De Graef (Psychonaut e Hippotraktor), ‘Vepr’ é um álbum onde prevalece uma atmosfera de austeridade e melancolia por vezes intercalada por violentas e oportunas infusões de agressividade e esporádicos elementos electrónicos. (7.5/10)
Damageplan – “New Found Power” – Foi pouco depois da viragem do milénio que se deu o desmembramento de uma das mais icónicas bandas de sempre do Metal, falo dos lendários Pantera e se o seu carismático vocalista Phil Anselmo abraçou uma verdadeira torrente de projectos a partir daí os emblemáticos irmãos Dimebag Darrell e Vinnie Paul também rapidamente encontraram um novo rumo. Formados em 2003 no Texas os Damageplan lançaram um ano mais tarde o que viria a ser o seu único álbum com o sugestivo nome ‘New Found Power’. Estaríamos longe de adivinhar que a carreira dos Damageplan fosse reduzida a este singular álbum, pois foi também foi ainda em 2004 que a tragédia se abateu sobre a banda, o prodigioso Dimebag Darrell foi baleado em pleno palco com o infeliz desfecho que todos nós conhecemos, pouco depois a banda declarava o seu término. ‘New Found Power’ tem muito de Pantera (como não poderia deixar de ser), todavia enquanto os Pantera foram progressivamente abraçando uma tendência mais Hardcore os Damageplan optaram por uma abordagem de volta ao Thrash Metal, um Thrash Metal impuro e moderno a transbordar Groove, aliás, não será exagero dizer que ‘New Found Power’ será certamente um dos álbuns com mais Groove da história do Metal. Com uma formidável, pulsante e virtuosa colecção de riffs Dimebag Darrell deu em ‘New Found Power’ a sua derradeira exibição de genialidade quer em termos técnicos quer na vertente de capacidade de composição, temas como ‘Explode’, ‘New Found Power’, ‘Breathing New Life’ ou o fabuloso ‘Crawl’ são simultaneamente geniais e intemporais. (8/10)
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