Predominance #19 – Bleed From Within, Rýr, Vildhjarta, Machine Head, Bolt Thrower
Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.
Bleed From Within – “Zenith” – Estiveram em Lisboa há bem pouco tempo mais precisamente no dia 3 de Outubro no LAV, um concerto em que infelizmente não consegui estar presente, falo dos Britânicos Bleed From Within a propósito do seu sétimo álbum de originais intitulado ‘Zenith’. O Metalcore não é por certo o subgénero em que uma banda mais facilmente se consegue diferenciar e a meu ver quanto mais depressa qualquer banda que se encontre neste espectro o aceitar mais possibilidades tem de maximizar outros aspectos da sua sonoridade. Com uma carreira cada vez mais consistente os Bleed From Within vêm já desde há três ou quatro álbuns a esta parte a conquistar um lugar de grande destaque no seio do Metalcore. Ora ‘Zenith’ potencia mais uma vez a soberba qualidade técnica da banda, onde sobressaem os habituais riffs orelhudos, pulsantes e aditivos, temperados de forma sagaz e furtiva pelo Djent, riffs estes que vão invariavelmente desaguar num refrão quase instantaneamente popular vociferado através da bipolar voz de Scott Kennedy. Não é que se possa considerar ‘Zenith’ um álbum exacerbadamente criativo ainda que dentro do Metalcore apresente algumas “experiências” interessantes, ‘In Place Of Your Halo’, ‘Known By No Name’ são talvez os melhores exemplos disso. Uma última nota para falar da bombástica ‘God Complex’, uma malha que incontornavelmente se vai tornar um clássico dos Bleed From Within. (8/10)
Rýr – “Dislodged” – Directamente de Berlin para o mundo, falo dos Germânicos Rýr, a banda que começou a dar sinal de vida em 2019 e chega a 2025 com o seu terceiro álbum de originais na calha. Num país muito virado para o Industrial, Power Metal e Symphonic Metal os Rýr decidiram contrariar a corrente apostando numa sonoridade muito diferente, uma eficaz e emotiva mistura entre Post-Metal e Doom. Composto apenas por cinco temas ‘Dislodged’ revela-se como um álbum imersivo, austero, dissonante e depressivo onde o fio condutor é sem dúvida o Post-Metal mas os ambientes carregados da anunciada melancolia e a ausência de vocalizações impõem uma considerável marca Doom Metal. Esta aliança nem sequer se pode dizer que seja contra natura pois bandas como Hemelbestormer ou Morne (numa toada mais Sludge Metal) já a adoptaram há algum tempo. Note-se que os Rýr são compostos apenas por três elementos ficando assim as “despesas” da guitarra entregues em exclusivo a Marius Jung que apesar da parca inventividade consegue conduzir as sonoridades da banda através de riffs intensos, crus e gravitacionais. Outro factor em destaque no álbum é a sua espessa, misantrópica e tempestuosa atmosfera espelhada em temas como o tema título, ‘Flung’ ou ‘Folied’. Apesar de estar alicerçado num Post-Metal mais simples e convencional ‘Dislodged’ é um álbum consistente e recomendável. (7.5/10)
Vildhjarta – “Där Skogen Sjunger Under Evighetens Grana” – Vildhjarta, uma banda interessante até que…o deixou de o ser. Começaram a sua carreira em 2009 e tiveram a sua estreia em termos de álbuns de originais em 2011 com o entusiasmante e promissor ‘Måsstaden’, com sonoridades altamente influências pelo Math Metal dos seus conterrâneos Meshuggah. Todavia seguiu-se em bizarro e contraproducente apagamento da banda, um hiato de dez anos até ‘Måsstaden Under Vatten’. As várias saídas da banda contribuíram decisivamente para um decréscimo de qualidade na sua sonoridade e o álbum acabou por não confirmar o potencial evidenciado em ‘Måsstaden’. Ora quatro anos depois chega-nos ‘Där Skogen Sjunger Under Evighetens Grana’ e infelizmente posso afirmar que os Vildhjarta estão condenados a não conseguir replicar o hype com que apareceram. Apesar de na sua vertente técnica não se poder apontar erros a ‘Där Skogen Sjunger Under Evighetens Grana’, pouco mais há de positivo a salientar, temas completamente enfadonhos e arrastados numa mescla de Djent e Doom desgarrada e tediosa onde predomina a ditadura dos riffs graves e corpulentos mas despromovidos de qualquer sentido de interligação com as restantes sonoridades. (6/10)
Machine Head – “Unatøned” – Afinal ‘Øf Kingdøm And Crøwn’ não é o começo do tão proclamado e ambicionado ressurgimento dos Norte-Americanos Machine Head, afinal ‘Øf Kingdøm And Crøwn’ parece ter apenas sido uma pedrada no charco numa carreira que caminha a passos largos para o seu término. “Os” (já só resta Robb Flynn) criadores do icónico e quási revolucionário ‘Burn My Eyes’ estão por estes dias presos numa óbvia teia de mediocridade e ‘Unatøned’ comprova-o de forma inequívoca. Uma soberba capa e os estilosos ø’s em vez dos o’s não conseguem esconder o aborrecido e estéril álbum que está por trás. ‘Unatøned’ mostra uns Machine Head esforçados (talvez seja mesmo essa a razão para o álbum estar um furo acima da aberração ‘Catharsis’), mas com um esforço completamente inglório, falta criatividade, alma, mística e essencialmente talento nas composições. Tema atrás de tema onde praticamente nada se destaca e tudo parece oco e facilmente condenado ao esquecimento. Na verdade a minha opinião é que nada disto é verdadeiramente surpreendente, muito mais do que algum deterioramento nas suas vocalizações o Sr. Robb Flynn tem tido um incontornável problema de gestão da banda. As infindáveis entradas e saídas de elementos aliadas a uma prejudicial e decisiva falta de consistência na orientação musical tinham forçosamente de causar impacto e mesmo sem ser um álbum de referência ter existido um ‘Øf Kingdøm And Crøwn’ aqui pelo meio é uma espécie de milagre. (5.5/10)
Bolt Thrower – “Those Once Loyal” – Para além de muito subvalorizados eles são por vezes esquecidos até, falo dos Britânicos Bolt Thrower. Oriundos de Convetry e formados no longínquo ano 1986 os Bolt Thrower cedo revelaram duas obsessões, sendo que uma delas é a temática da guerra mais especificamente do jogo de estratégia chamado Warhammer 40.000 a outra o Groove sempre o Groove, será o desafio de um vida encontrar uma banda de Death Metal com mais Groove que os Bolt Thrower. Apesar de ser seu último álbum de originais ele já remonta ao ano de 2005, ‘Those Once Loyal’ é quase unanimemente considerado o melhor álbum da banda e de facto é difícil argumentar contra esta premissa. O Death Metal Old School compassado, oscilante e gravítico que foi inspirando bandas como os Facebreaker ou Six Feet Under (ambas as bandas viriam anos depois a ter as suas sonoridades catalogadas como Zombie Death Metal devido ás temáticas escolhidas), tem em ‘Those Once Loyal’ um dos seus momentos mais entusiasmante de sempre, riffs magistrais empoderados por um Groove altamente viciante e fascinante fazem com que temas soberbos como ‘The Killchain’, ‘Anti-Tank (Dead Armour)’, ou ‘Salvo’ acabassem por entrar nos desígnios do intemporal. Ainda hoje a reflexão que fica ao ouvir-se ‘Those Once Loyal’ é: “já não existem bandas a tocar assim”. Em jeito de conclusão ‘Those Once Loyal’ “respira” Death Metal carregado de mística e genuinidade…e Groove não sei se já o tinha referido. (9/10)
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