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Predominance #4 – Dodheimsgard / Entropia / Isaak / Periphery / Killing Joke

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

Dodheimsgard – “Black Medium Current”Também eles formados no caótico início da década de 90, os Noruegueses Dodheimsgard a par de bandas como Mayhem, Burzum, Darkthrone, Immortal ou Enslaved entre outras transformaram o Black Metal Escandinavo num verdadeiro fenómeno mundial, todavia esta banda cedo mostrou tiques de raros de singularidade e depois de um rastilho acesso pelos seus conterrâneos Arcturus os Dodheimsgard singraram com alvoroço no espectro do Black Metal Avant-Garde primeiro como o inquietante ‘666 Internacional’ seguido pelo insano e magistral ‘Supervillain Outcast’. ‘Black Medium Current’ o seu sexto álbum de originais traz-nos uns Dodheimsgard mais provocadores do que nunca fazendo da imprevisibilidade mais uma vez a sua zona de conforto. Mais afastados da parafernália Industrial mas mais comprometidos no Avant-garde os Dodheimsgard fazem de ‘Black Medium Current’ uma espécie de viagem sideral cujo destino final é um buraco negro onde as várias camadas se destacam a cada nova audição num verdadeiro buffet sensorial simultaneamente espacial, familiar e revivalista abundante em originalidade e liberdade criativa. ‘Black Medium Current’ tem de ser ouvido como um todo tal como uma viagem em que não se pode saltar paragens contudo tenho de destacar as fantásticas ‘Interstellar Nexus’, ‘Hallow’ e ‘Abyss Perihelion Transit’. (8/10)

 


Entropia – “Total” – Se ainda houvesse dúvidas acerca da capacidade das bandas Polacas (Behemoth, Kriegsmachine, Outre) estarem na vanguarda dos subgéneros da música mais pesada em particular do Black Metal, os Entropia que são um dos mais recentes exemplos de como se pode traspor essas invisíveis fronteiras musicais sem por em causa a sua identidade vêm dissipá-las. Formados em 2009 os Entropia chegam a 2023 com o seu quarto álbum na bagagem (‘Total’) e definitivamente não desperdiçaram a oportunidade para se afirmarem em definitivo no seu domínio musical. ‘Total’ é um álbum que destila arrojo e ambição exponenciando o seu frio, desapegado e austero Post-Black Metal para uma interessante e fértil simbiose entre o já referido Post-Black, Black Metal, Post-Metal e até algumas nuances orientadas para o Avant-garde. São cinco os temas que dão forma a ‘Total’ e se o destaque principal tem de ir para ‘Retox’ e para o tema titulo, o grande factor unificador do álbum acaba por o seu ambiente dissonante e insensível envolto numa beleza inumana alicerçado em riffs de grande exigência técnica. Acima de tudo ‘Total’ mostra que os Entropia não são apenas mais uns, a sua evidente criatividade pressupõe imprevisibilidade e compromisso. (7.5/10)


Isaak – “Hey” – À célebre e batida frase “o segundo álbum é o mais importante da carreira de uma banda” os Isaak respondem com um…’precisamente’. Directamente de Génova para o mundo o quarteto Italiano Isaak lançou no ultimo dia do passado mês de Março o seu segundo trabalho de originais simplesmente intitulado ‘Hey’. ‘Hey’ é uma verdadeira bomba energética carregada de um contagiante, viciante e continuo Groove como só o Stoner pode oferecer. ‘Hey’ até começa de uma forma bastante bizarra com ‘Miracle B’, um tema suportado por riffs que mais parecem ter saído de um álbum de Amon Amarth acompanhado por vozes faladas como se de um anúncio se tratasse. Todavia a partir do tema titulo (a segunda faixa do álbum) o Stoner vertiginoso, explosivo, sacana e pitoresco toma por completo conta das ocorrências deixando uma incontornável sensação de fulgor e vivacidade. Embora sejam identificáveis algumas concordâncias com os icónicos Queens Of The Stone Age seria sempre injusta essa comparação até porque o Stoner dos Isaak é muito mais “livre”, despretensioso e arrojado, talvez faça mais sentido um paralelismo com os Norte-Americanos Droids Attack, donos de um Stoner mais pesado e sujo, uma banda que curiosamente tal como os Isaak também lançou o seu álbum de estreia em 2016. (7.5/10)


Periphery – “Peripjery V: Djent Is Not A Genre” – É no mínimo provocador e talvez até se possa considerar incendiário o título da nova proposta dos Norte-americanos PeripheryPeriphery V: Djent Is Not A Genre’, o sexto álbum da banda. Se este mesmo título fosse formulado em forma de pergunta certamente iria gerar para uma longa discussão, uma coisa parece-me factual, o Djent é de facto uma tendência que tende a radicalizar os ouvintes de música mais pesada, se os “puristas” do Metal vêm-na como uma influência tóxica, uma espécie de veneno, a facção menos dogmática acha que o Djent veio dar um novo folgo ao Metal. Tecnicamente ‘Periphery V: Djent Is Not A Genre’ mostra uns ‘Periphery’ bastante oleados, concisos e imperturbáveis debitando riffs simultaneamente dissonantes, encorpados e abrasivos acompanhados de uma secção rítmica a destilar fulgor, energia e perícia. Todavia a grande incongruência que tem pautado a carreira dos Periphery e que pode mais uma vez ser identificada neste ‘Periphery V: Djent Is Not A Genre’ é uma espécie de indecisão musical entre sonoridades pois se em certos temas pode-se facilmente reconhecer a brutalidade dos lendários Meshuggah (‘Wildfire’, ‘Atropos’, ‘Zagreus’), noutros como ‘Wax Wings’, ‘Silhouette’ ou ‘Dying Star’ o pendor dominante parece ser a de um Pop Rock completamente banal, pouco exigente e entediante. (7/10)


Killing Joke – “Hosnnas From the Basements Of Hell” – Desta vez vamos apontar a review de retrospectiva para numa direcção completamente diferente, ou seja desta vez o foco vai recair sobre o décimo terceiro álbum dos britânicos Killing Joke, ‘Hosannas From The Basements Of Hell’. Dizer que os Killing Joke são uma banda singular é uma espécie de eufemismo, se essa designação é muita vez usada inadequadamente neste caso particular ela assenta que nem uma luva. Nascidos em pleno hype do Post-Punk e tal como outras importantes bandas britânicas da altura os Killing Joke foram repartido a sua orientação musical entre o já referido Post-Punk e o Darkwave durante mais ou menos duas décadas, contudo e após o seu maior intervalo entre álbuns a banda reformulou o sua rumo musical com um segundo álbum homónimo incorporando sem hesitações uma ambiciosa vertente Industrial. Três anos depois desse álbum chega esta exótica pérola de criatividade e originalidade. ‘Hosannas From The Basements Of Hell’ mostra-nos uns Killing Joke em modo completamente liberal com completa liberdade para aliarem de forma inacreditavelmente inventiva o seu Post-Punk aprimorado a um Industrial melancólico, hipnótico e fascinante sempre guiado pela voz aflitiva, ecoante e amargurada de Jaz Coleman. ‘Hosannas From The Basements Of Hell’ não é apenas um bom álbum, é o álbum que consolidada em definitivo o novo caminho traçado pela banda mas também um dos, senão mesmo o principal alicerce das sonoridades que foram perdurando até hoje na banda. (9/10)


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