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Predominance #5 – The Ocean / Predatory Void / Telos / Sunrot / Necrophagia

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

The Ocean – “Holocene” – Eles são muito provavelmente a mais entusiasmante banda do panorama da música mais pesada actual e a coqueluche da Pelagic Records, falo dos Germânicos The Ocean que acabam de lançar o seu nono álbum de originais ‘Holocene’. Os The Ocean são certamente das bandas mais difíceis de descrever e o motivo até poderia muito bem ser porque as suas sonoridades derivam de uma imprevisível simbiose entre Sludge Metal e Progressivo mas não é, é que os The Ocean são uma banda que “não se ouve” mas sente-se, aliás os The Ocean que cada vez mais apostam no Progressivo como a base para a sua receita sonora conseguem de forma insuspeita manter uma “alma” e uma vertente emocional que dificilmente deixa alguém indiferente. ‘Holocene’ reúne mais uma vez todos os atributos desta formidável e criativa banda, técnica apurada aliada a um ambiente fértil em emotividade e intensidade onde tudo parece estar alinhado na perfeição. Entre os temas mais marcantes temos o incontornável ‘Unconformities’, uma espécie de regresso a um passado muito mais abrasivo e violento ainda que a primeira metade da música seja numa cadência suave e melódica contando para esse efeito com o contributo da cantora Norueguesa Karin Park. Temos também as sensacionais ‘Atlantic’, ‘Subboreal’ e o primeiro single de ‘Holocene’ ‘Parabiosis’, qualquer uma delas é um excelente exemplo da invulgar e prodigiosa capacidade de compor dos The Ocean, uma banda que aparenta ter uma contínua habilidade de nos deixar rendidos e desarmados. (8.5/10)


Predatory Void – “Seven Keys To The Disconfort Of Being” – Paulatinamente a Bélgica vai-se transformando numa espécie de viveiro do Post-Metal e de todas as suas variações, Pothamus, Psychonaut e Hemelbestormer são apenas alguns exemplos todavia os Predatory Void não se assumem como uma banda de Post-Metal, aliás não é nada fácil compartimentalizar as sonoridades exprimidas pela banda tal não é a mescla de influências adoptada pela mesma. Formados por membros dos Amenra, Oathbreaker, Cobra The Impaler e Cross Bringer os Predatory Void fazem finalmente a sua estreia com ‘Seven Keys To The Discomfort Of Being’, um álbum que comporta a já referida amálgama sonora aglutinando subgéneros que vão desde o Blackened Sludge Metal, passando pelo Black Metal, Death Metal e Hardcore até ao sombrio e decadente Doom Metal. A principal marca de ‘Seven Keys To The Discomfort Of Being’ acaba mesmo por ser a amplitude musical expressa entre os temas ou por vezes mesmo dentro do mesmo tema, amplitude essa que liberta de forma perspicaz e sofisticada o potencial criativo do quinteto Belga. São vulgares e completamente imprevisíveis as mudanças de “humor” de ‘Seven Keys To The Discomfort Of Being’, uma suave melodia hipnótica e depressiva pode abruptamente transformar-se numa desenfreada e furiosa tempestade de hostilidade e vice-versa. Destaque para ‘Grovel’, ‘*(struggling..)’ e ‘Shedding Weathered Skin’, os mais interessantes e dinâmicos temas de ‘Seven Keys To The Discomfort Of Being’ no meu ponto de vista. (7.5/10)


Telos – “Delude” – Depois da estreia absoluta em 2016 com um álbum homónimo os Dinamarqueses Telos estão de regresso após sete anos com o segundo trabalho de originais intitulado ‘Delude’. A “receita” para a incrível “poção” patenteada pelo quinteto Dinamarquês contem partes propositadamente assimétricas de Blackened Hardcore, Post-Metal e Sludge cuidadosamente diluídas numa “sopa” primordial de Mathcore e o resultado desta fórmula é simultaneamente fascinante e enérgico. ‘Delude’ arrasta-se num ambiente de recorrente violência alimentando-se de riffs portentosos e dilacerantes detentores de uma força gravitacional quase intolerável. Com assumidas influências dos seus conterrâneos Hexis e dos icónicos Converge as sonoridades dos Telos só encontram paralelo para a sua impressionante capacidade de destilar raiva, impetuosidade, corrosividade e austeridade em bandas tão pouco indigestas como os seus “vizinhos” This Gift Is A Curse. Temas magistrais como ‘I Accept/I Receive’, ‘I’ve Been Gone For So Long’ ou ‘As Atlas Stumbled’ demostram de forma evidente que ‘Delude’ comporta o potencial para se transformar no melhor álbum de 2023, e sim, ‘Delude’ é mesmo assim tão formidável. (9/10)


Sunrot  – “The Unfailing Rope” – Depois de uma estreia algo tímida em 2018 com ‘Sunnata’ o quinteto oriundo de New Jersey Sunrot está de volta com o seu segundo álbum de originais ‘The Unfailing Rope’. Já nem é assim tão habitual o Sludge Metal não vir quase por inerência associado ao Post-Metal, ao Progressivo, ao Stoner, ao Doom ou até a todos eles em simultâneo para não falar em outras ramificações menos solúveis, todavia os Sunrot apostam num Sludge Metal muito aproximado ao seu estado mais natural com a excepção para alguns temas (‘Descent’, ‘The Cull’ e ‘Love’) onde o Noise tem claramente um generosa parcela contributiva. ‘The Unfailing Rope’ oferece-nos o Sludge indomável e destemido implorando por um mergulho no pantanoso e pestilento mar de riffs sujos, rugosos e ríspidos suportados por um ambiente com uma intensa subjectividade emocional que transita incessantemente entre a hostilidade e a consternação. Temas como ‘Trepanation’, ‘Gutter’, ‘Patricide’ e ‘Tower Of Silence’ exibem de forma evidente todo o poderio técnico e inventivo da banda e atiram claramente ‘The Unfailing Rope’ para outro patamar qualitativo em relação ao seu predecessor deixando os Sunrot com mais responsabilidade mas também com uma outra projecção para um futuro que se adivinha genuinamente promissor. (8/10)


Necrophagia – “The Divine Art Of Torture” – As minhas (in) frutíferas tentativas de surpreender com a review retro vão irremediavelmente instigar a discordância e esta em especial pode prefigurar-se como uma das mais fortes candidatas a promover essa mesma discordância. Com uma carreira pautada pela inconsistência os Norte-Americanos Necrophagia chegavam a 2003 exibindo o seu quarto álbum de originais ‘The Divine Art Of Torture’, um álbum que representava na altura uma espécie de condensado do que a banda tinha produzido até então ainda que com um filtro de exigência muito mais rigoroso e o resultado final foi na minha opinião, simplesmente genial. ‘The Divine Art Of Torture’ é uma verdadeira de ode à putrefacção, a sua base de Death Metal sólido e rugoso serve de suporte para todo uma imaginário de decomposição, horror de classe B, visões simultaneamente cadavéricas e circenses, necrofilia, tortura e monstruosidades de todas as classes, uma formidável e genuína banda sonora do esgoto. Em jeito de sinopse pode-se dizer que ‘The Divine Art Of Torture’ combina de forma deliciosamente pestilenta um Death Metal asfixiado num Groove dinâmico e aditivo (Bolt Thrower) com uma parafernália ao jeito de Rob Zombie mas numa versão ainda mais fétida e repulsiva. Destaque para a música que encerra o álbum (‘Ze do Caixão’), uma clara homenagem mais emblemática personagem do cinema de terror brasileiro. Uma última nota para o falecimento em 2018 do lendário vocalista Frank Pucci (Killjoy) um dos grandes responsáveis por esta nauseabunda obra-prima. (8.5/10)


 

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