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Predominance #7 – Pupil Slicer / The Gorge / Dearhead / La Nausée / Defecation

Jorge Pereira é um amante de música pesada e de cinema. Colabora com a World Of Metal e tem o seu próprio covil de reviews – Espelho Distópico. Predominance será a sua coluna mensal onde nos vai trazer reviews todos os meses.

Pupil Slicer – “Blossom” – Depois da onda de choque provocada pelo seu álbum de estreia ‘Mirrors’ em 2021 o trio Londrino Pupil Slicer está de regresso com o seu muito antecipado segundo álbum de originais ‘Blossom’. Se ‘Mirrors’ foi uma espécie de “aperitivo” para fãs de Dilinger Escape Plan ou Converge o que dizer deste ‘Blossom’?! ‘Blossom’ mostra-nos uns Pupil Slicer sem qualquer receio de arriscar incorporar as mais variadas influências à sua mescla de Mathcore/Noise cedendo ligeiramente na sua vertente técnica em prol de uma abordagem mais inovadora e audaciosa. A ideia da banda para ‘Blossom’ aparenta ser uma deambulação por entre descargas supersónicas interrompidas abruptamente por atmosferas melódicas e perturbadoras numa imprevisível, caótica e distópica viagem. Destaque para os temas ‘No Temple’, ‘Terminal Lucidity’ e a ElectrónicaDim Morning Light’. ‘Blossom’ não se pode considerar uma confirmação da qualidade apresentada na sua estreia, é mais do que isso, é um álbum que comprova que os Pupil Slicer estão ainda no início do processo de potenciar a sua imensa criatividade, ainda muito estará para vir. (7.5/10)

The Gorge – “Mechanical Fiction” – Progressive e Sludge Metal, uma aliança cada vez mais solidificada no panorama da música mais pesada da actualidade e uma conciliação que me entusiasma particularmente devo confessar. “Nascidos” em 2016 no improvável estado do Missouri mais precisamente em St.Louis os Norte-Americanos The Gorge chegam a 2023 com o seu quarto álbum de originais na calha após uma longa paragem de oito anos. ‘Mechanical Fiction’ é o novo petardo gravitacional dos The Gorge, impoluto e complexo na sua face de Progressive em contraste com os riffs monolíticos e corrosivos da sua vertente de Sludge, outrora insolúveis os dois subgéneros estão cada vez mais próximos e interligados. ‘Mechanical Fiction’ transporta-nos para uma fase inicial dos Mastodon (‘Leviathan’),evidenciando influências de outras bandas não menos importantes como Meshuggah, Animals As Leaders e Misery Signals. Temas como ‘Beneath The Crust’ ou ‘Wraith’ mostram que além do notório manancial técnico os The Gorge têm uma abordagem musical guiada pela sua capacidade inventiva, mostrando que o peso pode estar energizado pelo Groove mas mesmo assim incluir uma ténue mas importante camada emocional. (8/10)

Dearhead – “The Grey Zone Phobia” – Derhead é um projecto do músico italiano Giorgio Barroccu, projecto esse que apesar de ter sido iniciado há mais de duas décadas (2001) só agora tem a sua estreia em termos de LP’s com ‘The Grey Zone Phobia’. ‘The Grey Zone Phobia’ acaba por ser o resultado de todos estes anos de fermentação, Derhead aposta num Black Metal Avantgarde sujo e ritualístico ondem sobressaem os riffs hipnóticos e doentios alicerçados por um ambiente decadente e deprimente. ‘The Missing Stars’, ‘Containing the Whole’ ou a sensacional ‘Drops of Storm’ são verdadeiras descidas de sentido único a um inferno pestilento e intimista onde toda a esperança termina e todos os medos se aglutinam num monstro de proporções colossais. Também na vertente lírica ‘The Grey Zone Phobia’ prefigura-se como um álbum bastante interessante explorando de forma acutilante e orgânica as interligações entre as memórias e os sonhos e de que forma as nossas experiencias pessoais chocam com a realidade. Especialmente fãs de The Great Old Ones e Blut Aus Nord, mas não só certamente não vão ficar desiludidos com este ‘The Grey Zone Phobia’. (7.5/10)

La Nausée – “They Prey Disorder” – Formados em 2021 na cidade de Ghent (Bélgica) os La Nausée são um caso de estudo no que toca a hiperactividade. Depois do lançamento de dois EP’s em apenas nove meses (‘Battering Ram’ e ‘Disorder’) a banda chega a 2023 com ‘They Prey – Disorder’, o seu primeiro LP onde se incluem (como o próprio nome nos indica) os temas de ‘Disorder’. Com temas altamente austeros e cáusticos os La Nausée mostram o seu grande fascínio pelo Sludge Metal, um Sludge viscoso e pestilento associado a um Groove lento, ardiloso e perverso rebuscando influências no Hardcore. Temas curtos e pungentes como ‘They Prey’, ‘Spectre’ e ‘Venom’ fazem de ‘They Prey – Disorder’ um álbum coeso, alicerçado em ritmos graves, arrastados, violentos e incansáveis alheados de qualquer obsessão técnica. Uma última nota para as temáticas políticas e sociais que servem como fonte de inspiração para a banda. Ainda em claro processo evolutivo os La Nausée parecem reunir os atributos necessários para recuperar um Sludge (perdido) dissociado do seu aliado natural (Post-Metal) mas sim harmonizado com um Groove sórdido e temerário. (7/10)

Defecation – “Intention Surpassed” – Foi precisamente dois anos antes de se juntar aos lendários Napalm Death que o icónico guitarrista Mitch Harris criou o seu projecto a solo intitulado Defecation contando com uma estreia absoluta em 1989 através do álbum ‘Purity Dilution’. Cerca de duas décadas depois Mitch Harris volta a “recuperar” os Defecation para uma espécie de segunda vida com ‘Intention Surpassed’. ‘Intention Surpassed’ dificilmente pode ser considerado um álbum de excelência ou um marco da música mais pesada, no entanto a meu ver é um álbum altamente subvalorizado. Muito influenciado pela matriz sonora dos Napalm Death (como não poderia deixar de ser) ‘Intention Surpassed’ é um verdadeiro petardo de violência e hostilidade assente numa arrebatadora duplicidade sonora (Death Metal e Grindcore). Temas como ‘2/3 Pure’ , ‘Granted Wish’ ou a insana ‘Protective Rage’ são uma espécie de injecções de mosh pit instantâneo, tal não é o frenesim de brutalidade e fúria gerado pelo poder dos riffs impiedosos e cruéis debitados a uma velocidade vertiginosa. Tal como o seu colega de banda Shane Embury nos fantásticos Lock Up também Harris nos Defecation mostra a sua abordagem mais pessoal ao Grindcore fora do seio dos preponderantes Napalm Death. (8/10)


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