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Reportagem – Reverence Valada 2016 – Dia 1 – 8 de Setembro, Parque das Merendas, Valada, Cartaxo

Foi no dia 8 de Setembro que se deu início à terceira edição do Reverence Valada que decorreu de 8 a 10 de Setembro e que trouxe mais uma vez a Valada, uma pequena localidade no concelho do Cartaxo o melhor que a música alternativa tem para oferecer. Tendo oferecido desde o seu início uma proposta diferente entre os festivais de Verão, a sua riqueza prende-se não só pela variedade dos géneros abraçados, mas também pela forma como enquadra e integra a própria população local (promovendo visitas guiadas aos residentes pelo recinto) e o comércio, sendo sem dúvida uma iniciativa que tem um impacto muito positivo não só em Valada em si, como no próprio concelho. É o exemplo visível de como a música, e neste caso específico, o rock e os seus subgéneros alternativos, mais do que cultura (coisa que os sucessivos governos da República Portuguesa nos últimos anos não consideram ser, já que a taxa de IVA para os CDs não é aquela que abrange os produtos de cultura como os livros, por exemplo) é um meio agregador e congregador de pessoas que por outro motivo não se juntariam. Pessoas de todos os cantos do mundo e pessoas de todos os cantos (do nosso mundo que é) Portugal que se juntaram para três dias de música que se queriam especiais e que assim foram.

Nesta terceira edição pudemos verificar algumas alterações no que diz respeito à organização do espaço no recinto, onde em vez de termos um palco enorme para os concertos das bandas cabeças de cartaz tivemos dois palcos (Sontronics e Rio) relativamente iguais (talvez o Sontronics fosse ligeiramente maior, tendo também direito a ecrã gigante no fundo do palco onde passava animações durante as actuações das bandas) e um mais pequeno (Indiegente, patrocinado pela Antena 3, a propósito do programa com o mesmo nome). Também tivemos direito a uma grande variedade no que diz respeito à alimentação dentro do recinto, assim como as ofertas à volta do mesmo eram mais que muitas. Portanto, condições mais que perfeitas para que se tivesse um festival com todas as condições para ser excelente. E assim foi.

No primeiro dia, com a curadoria de Black Bass Évora Psych Fest, a música começou à hora certa, com os 800 Gondomar a subir ao palco Rio às 17:00h e a iniciar as hostilidades do primeiro dia com o seu noise rock explosivo com raízes no punk. Como acontece sempre com as primeiras bandas, acabam por ser sacrificadas pela falta de público mas mesmo assim, aos poucos, a plateia ia ficando mais composta, enquanto a banda despejava o seu som com energia. Foi de tal forma que no final dois membros do power trio nortenho abandonou o palco quando o baterista ficou para trás a perguntar se ficava lá sozinho, nem dando conta que já tinha acabado a sua actuação.

Neste primeiro dia, as actuações ocorreram todas no Palco Rio, pelo que tivemos sempre um intervalo de trinta minutos entre cada actuação, tempo necessário para desmontar o material de uma banda e montar o material da seguinte. A vantagem de se ter mais do que um palco é o ter sempre alguma coisa a acontecer, no entanto, neste caso, também havia muita coisa a verificar nesse mesmo intervalo de meia hora, já que o recinto variedade mais que suficiente, desde o mercado que este ano estava logo à entrada como a banca de merch do festival e das bandas que iam actuar no mesmo.

A segunda banda do dia foram os Sun Mammuth e foi com peso que a banda de Lousada iniciou a sua actuação, um peso hipnótico que serviu como introdução a uma prestação praticamente sem falhas, onde tudo correu bem. O seu pós-rock musculado, arraçado de stoner, foi o primeiro grande momento do festival, tanto transitando da distorção mais dura para as melodias mais etéreas e viajantes. Muito bem recebido pelo público, que foi crescendo em número desde o início da actuação até ao final. “Cosmo”, single e tema título do último álbum, foi um bom exemplo da sua performance bem sucedida, onde nem houve muita comunicação por parte da banda, mas é dos típicos casos onde a música fala mais alto. E falou realmente mais alto.

Acalmando um pouco o registo vieram os Flavor Crystals que brindaram o público com a sua sonoridade de rock psicadélico convidativo a viajar – deverão ter havido muitas nestes três dias, mas a Gare de Valada foi mesmo inaugurada com o grupo norte-americano que proporcionou muitas e boas viagens ao público presente. Apesar de grande parte da assistência encontrar-se sentada no chão (e isso poder ser encarado como uma falta de interesse pela actuação, embora a nós nos parecesse a melhor forma de viver a música que saía do palco), a sua actuação foi muito apreciada por todos os presentes, com as três guitarras a encantar o público, não deixando de haver espaço também para o bom do feedback e distorção.

Nada como voltar à terra depois de viagens astrais. Essa tarefa coube aos The Sunflowers, o duo portuense, que nos trouxe rock sujo com fartura. O seu som remanescente do que parece ser uma fusão de Johnny Cash on drugs com os Sex Pistols de ressaca, ou seja, good stuff. Desde a batida que fazia parecer a dança da guerra por parte dos Navajo às vozes alucinadas e constantes “uhs” até ao discurso ininteligível por parte do vocalista / guitarrista Carlos nos intervalos das músicas. O à-vontade foi tanto que até se deram ao luxo de tocar uma música que segundo Carlos era nova e ainda não tinha nome. Na realidade não importava porque o público estava totalmente na sua onda o que fez com que o seu concerto se tornasse ainda mais energético. Um duo que encheu o Reverence Valada neste primeiro dia que ainda contou com a participação de Fred, vocalista e guitarrista, dos 800 Gondomar no baixo. Tocaram o tema “Zombie” em formato trio e já posteriormente a haver uma troca entre Carol na bateria e Carlos na guitarra, para nos brindar com uma versão explosiva do clássico dos The Stooges, “I Wanna Be Your Dog” que até teve direito a um momento Pete Townshend, com Carol a atirar a guitarra para o chão e a saltar para cima dela.

Blaak Heat foram os senhores que se seguiram e eram aguardados com grande expectativa, a avaliar pela reacção do público assim que entraram em palco. As expectativas não foram goradas, com o seu stoner, ora rock a pender para o psicadélico, ora metal com tiques progressivos, a conquistar sem grandes dificuldades um público que já estava rendido, hipnotizado com a sua prestação. A banda não acusou o cansaço de uma agenda muito preenchida (no dia anterior esteve no Porto e no seguinte ia para Santiago de Compostela) e conquistou muitos fãs, nós aqui na World Of Metal incluídos. “Mola Mamad Djan” é um bom exemplo de como a sua música quase inteiramente instrumental encantou e encheu de magia e misticismo o público.

Depois do stoner dos Blaak Heat, J.C. Satàn entraram em campo com o seu psych rock que foi extremamente bem recebido pelo público. A sua prestação foi tão frenética como a sua presença em palco. “Dragons” e “The Greatest Man” foram dois temas que marcaram este concerto, de um peso surpreendente e até com capacidade de levar quem estava a ver o concerto a viajar astralmente para longe dali. Foi o poder transformador e mágico da distorção ao serviço da humanidade.

Com a noite a aproximar-se do fim, dava-se a vez aos Riding Pânico que substituíram os Chain & The Gang após a seu cancelamento. Nunca poderemos saber como seria a actuação dos Chain & The Gang mas o que sabemos é que os Riding Pânico deram um concertozorro, onde nem sequer houve tempo (ou necessidade) para muitas conversas com o público, mas quando elas aconteceram, aconteceram no momento certo, como por exemplo, quando agradeceram pela presença no festival e que era uma honra estar finalmente a tocar no Reverence. Ainda queriam tocar mais mas tal não foi possível para não fugirem muito fora do horário. O público à frente do palco (bastante preenchido, já agora) protestou e a banda ainda fez um compasso de espera mas não foi mesmo possível, pelo que despediram-se do público pedindo-lhes que curtisse a vida. Era o que estávamos lá todos a fazer.

A espera pelos Thee Oh Sees foi mais dolorosa que as anteriores, não pelos preparativos para o espectáculo demorarem mais que os trinta minutos da praxe, mas mais pela escolha da música que passava nesse período. Tudo isso ficou sem qualquer importância quando os Thee Oh Sees subiram ao palco para a prestação mais eléctrica do festival até ao momento. Começando logo pelo cenário onde os quatro músicos surgem alinhados lado a lado, tendo no centro duas baterias e o vocalista/guitarrista John Dwyer do lado esquerdo enquanto o baixista, Tim Hellman, do direito. As actuações bombásticas não deveriam ser novidade já que a banda tem esse hábito em cima dos palcos, incluindo os nacionais. Para quem os viu pela primeira vez no dia 8 de Setembro poderia pensar que se tinha uma espécie de Beatles possuídos principalmente Dwyer que quando vibrava com a música, vibrava mesmo com a música. Nota ainda para a coordenação fantástica entre Ryan Moutinho e Dan Rincon, os dois bateristas, parecendo muitas vezes um só que estava a tocar ao lado de um espelho. 

E assim chegou ao final do primeiro dia, com o público a sair satisfeito com a muito boa música que se pôde ouvir e com prestações inesquecíveis.

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