Road To Vagos – Process Of Guilt
Por vezes tenho receio que nos entendam mal. Que tomem os nossos elogios às bandas nacionais como mero nacionalismo, como um exercício automático em relação à música apenas por partilharmos a nacionalidade. Que culpa temos nós da qualidade da nossa música mesmo que isso não se reflicta no sucesso ou no arrastamento de pessoas nos seus concertos ou que o nosso público (insista em) permaneça ignorante ao seu valor? Bem, no caso dos Process Of Guilt não podemos falar bem de ignorância por parte do público embora sintamos que o que têm cá dentro nunca é suficientemente equiparável ao seu valor.
A banda de Évora prova que há todo um Portugal de talento metálico para além dos pólos de Lisboa e Porto. Iniciaram o seu caminho em 2002, com a demo “Portraits Of Regret” que mostra já as bases do seu som, uma mistura muito única entre o doom metal e o dinamismo do sludge e do pós metal, ainda que possamos encarar este lançamento como algo muito embrionário.
“Demising Grace” foi a segunda demo, de 2004 que foi um passo em frente em relação ao seu som, algo, que aliás, pode ser apontado a todos os álbuns da banda lusitana. Os Process Of Guilt são um dos poucos casos em que evidenciam desde início um som próprio mas que conseguiram evoluir sem ficar propriamente reféns dos seus trabalhos passados.
A estreia discográfica daria-se em 2006, com o álbum “Renounce” editado já defunta pela Major Label Industries, sendo também a sua primeira edição. E é um álbum de estreia que parece que vem de por parte de uma banda veterana. Esse é o primeiro impacto. O segundo é de que somos atingidos por uma força da natureza contra a qual não temos defesas. Nem sequer queremos. A banda larga os seus elementos mais tradicionais do metal extremo e entra por terrenos novos, algo que nunca se cansaria de explorar.
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A banda sempre optou por “desaparecer” em termos editoriais antes de lançar qualquer coisa e essa forma de agir começa-se a notar desde cedo. Depois de três anos em silêncio, 2009 é ano que fica marcado por dois lançamentos. Primeiro o split com os Caîna, novamente editado pela Major Label Industries, numa edição limitada em vinil onde reinterpretariam “(But I Am) Still” dos This Empty Flow.
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Também em 2009 foi editado o segundo álbum de originais dos Process Of Guilt e tal como disse anteriormente, a banda evolui de forma impressionante mostrando que está ao nível de qualquer coisa que venha de fora. Aliás, superando qualquer coisa que venha de fora. Um álbum que poderemos afirmar como um dos melhores de sempre do metal nacional – e não é uma afirmação que fazemos de ânimo leve.
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É este seu modus operandi que nos deixa sem argumentos. Pegam na sua fórmula, na sua natureza e refinam-na de uma forma inesperada mas tão brilhantemente simples. Sentimentos, sensações, atmosferas, é aquilo que fica, é o impacto que fala mais alto, mais alto que riffs, refrães ou estruturas de canções. Como forma a encerrar mais um ciclo, a banda embarca numa experiência curiosa e pouco vulgar. É pedido a cinco entidades diferentes que reinterpretem o último tema do álbum “Circle” e o resultado é precisamente “The Circle” que conta com as reinterpretações de Sanford Parker, Echoes Of Yul, DJ Mofo, Bosque e Sons Of Bronson, remisturas por parte de entidades todas elas respeitadas e que servem de ligação ao seu próprio som.
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Esse fechar da porta também marcou o início da ligação dos Process Of Guilt com a Bleak Recordings, que também iria editar “Faemin” um outro píncaro de criatividade e excelência. Não se trata de um simples álbum, não se trata de uma simples colecção de cinco temas. É uma obra que envolve o ouvinte, mesmo que este não o queira. Um trabalho que não se encontra paralelo, seja cá dentro do burgo seja lá fora. Seja em qualquer parte do universo. Estas músicas representadas ao vivo são da experiência mais intensa que se pode ter.
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“Faemin” é um trabalho de tal forma intenso que para muitas bandas poderia significar um beco sem saída em termos criativos. No entanto estamos a falar de Process Of Guilt e fazer mais do mesmo não é opção. Como tal, e a assinalar os tempos vindouros, a banda editou um split com os suiços Rorcal onde deram a indicação de que não estavam dispostos a repetir os passos já dados. O resultado é o que se esperava, excelente.
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Três anos depois do plit e já cinco após “Faemin”, os Process Of Guilt finalmente revelam ao mundo a sua próxima obra de arte auditiva: “Black Earth”. Não sendo o impacto imediato de “Faemin” – admitamos, depois de um álbum daqueles e por muito que se ouça a banda a dizer (e a fazer) que o trabalho seguinte seria diferente, é impossível não esperar algo igualmente (ou seja, com as mesmas características) poderoso. Pois bem “Black Earth” é um monstro diferente ainda que facilmente identificável com a sonoridade da banda de Évora. Foi considerado por nós como o melhor álbum do ano na categoria Post Rock/Metal.
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Esta é uma banda que faz com que cada actuação seja única, cada riff uma catarse, uma ferramenta para nos libertarmos daquilo que nos prende. Para ficarmos livres para encararmos aquilo que mais tememos, que mais enterramos dentro de nós próprios. Não é preciso luz, não é preciso falar, apenas som. E o abismo. O abismo que vai engolir Vagos.
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