Rock Zone Reviews – Moonlight Haze, Puteaeron, Trick Or Treat, Jack Starr, Giant, NekrOmatics
Rock Zone é um programa de rádio na Rádio Alta Tensão e na Songs For The Deaf Radio da autoria de Miguel Correia e todos os meses, estes são os seus destaques.
Moonlight Haze – “Beyond”
Scarlet Records
Os Moonlight Haze regressam em grande com “Beyond”, o seu quarto álbum de estúdio, e consolidam de forma inegável a sua posição entre os nomes mais relevantes da cena de metal sinfónico contemporâneo. Três anos após o aclamado “Animus”, a banda italiana entrega um trabalho que mantém o adn que os caracteriza – uma fusão energética entre metal melódico, elementos sinfónicos exuberantes e power metal vibrante – ao mesmo tempo que arrisca com subtis, mas eficazes, incursões por novos territórios sonoros.
Com uma produção irrepreensível, assinada pelo conceituado Sascha Paeth (Avantasia, Kamelot, Épica), “Beyond” distingue-se pela sua abordagem mais orgânica: as canções foram gravadas com o mínimo de edições e manipulação digital, conferindo ao disco uma autenticidade rara nos dias de hoje. O resultado é um som mais cru, sem perder o impacto ou a sofisticação que a banda já demonstrou em trabalhos anteriores.
Chiara Tricarico, vocalista e alma da banda, parece estar no auge da sua forma. Capaz de alternar entre linhas vocais clássicas, tons etéreos e momentos de maior ousadia vocal, oferece aqui uma das suas prestações mais versáteis. A sua interpretação é emocionalmente carregada e tecnicamente impressionante, confirmando o seu estatuto como uma das grandes vozes femininas do género. Para os mais atentos, Tricarico é também presença regular ao vivo com os Avantasia e colaboradora de Manowar – feitos que apenas sublinham a sua qualidade inquestionável.
Musicalmente, “Beyond” é coeso e variado. Temas como “Tame the Storm” mostram um lado mais pesado e agressivo, enquanto “DNA” brilha como hino power metal clássico, com refrões épicos e melodias contagiantes. Mas é em faixas como “L’Eco del Silenzio” que o grupo mais surpreende, integrando de forma harmoniosa a língua italiana com o inglês, numa balada envolvente e profundamente emocional. A escolha do idioma nativo resulta em pleno, provando o quão bem o italiano encaixa no universo sinfónico.
Outro destaque é “Chase The Light”, segundo single do álbum, com o seu refrão viciante e mensagem positiva. É uma faixa solar, quase “mantra”, que certamente se tornará presença obrigatória nos concertos da banda. O álbum, aliás, vive de um equilíbrio entre temas épicos e diretos e momentos mais atmosféricos, com arranjos orquestrais que nos transportam por paisagens cósmicas e introspectivas.
“Beyond” é um disco obrigatório para quem gosta de metal sinfónico moderno, com canções fortes, produção refinada e uma vocalista em estado de graça.
Puteaeron – “Moutains Of Madness”
Mighty Music/Target Group
A icónica banda sueca Puteræon regressa em força em 2025 com “Mountains of Madness”, o seu quinto longa-duração e, provavelmente, o seu trabalho mais ambicioso até à data. Fiéis à tradição do death metal old school escandinavo, o quarteto volta a mergulhar nas profundezas do horror cósmico de H.P. Lovecraft, desta vez inspirando-se diretamente no conto “At the Mountains of Madness”.
Desde a sua formação em 2008, os Puteræon têm vindo a esculpir a sua identidade na sonoridade do death metal sueco com consistência, riffs serrados, ambiência sombria e um ataque sónico que evoca os grandes nomes do género – pense-se em Dismember, Grave ou Carnage, mas com uma assinatura própria e uma atmosfera mais opressiva. Em “Mountains of Madness”, definitivamente, essa abordagem atinge um novo patamar de maturidade.
Gravado com uma produção de alto nível, misturado e masterizado por Dan Swanö (Edge of Sanity, Bloodbath, Nightingale), o disco mostra uma banda no auge criativo. O próprio Swanö admitiu: “Este álbum apanhou-me completamente de surpresa. Brutal, épico e incrivelmente bem estruturado – é uma das melhores propostas de Swedish Death que ouvi em anos.”
Musicalmente, o álbum não perde tempo com subtilezas: riffs cortantes, ritmos arrastados que criam tensão claustrofóbica, mudanças de andamento violentas e uma parede sonora que emana gelo e escuridão. A produção orgânica mantém a sujidade necessária, sem comprometer a clareza – um equilíbrio raro no death metal atual.
Tematicamente, os Puteræon continuam a sua devoção ao universo de Lovecraft, mas aqui elevam o conceito a uma experiência imersiva. Cada faixa parece uma descida mais profunda na paisagem gelada e alienígena da Antártida ficcional onde o conto se desenrola. A atmosfera é densa, desesperadora e sempre à beira do colapso mental. É death metal com narrativa – e da melhor espécie.
Para os fãs de death metal sueco à moda antiga, este álbum não é apenas obrigatório – é essencial.
Trick Or Treat – “Ghosted”
Scarlet Records
Os Trick or Treat regressam com “Ghosted”, um álbum que marca um novo capítulo na sua carreira e celebra com orgulho o lado mais teatral, divertido e arrepiantemente encantador do power metal.
Oriundos de Modena, Itália, e liderados pela impressionante voz de Alessandro Conti (Twilight Force), os Trick or Treat mergulham de cabeça na sua própria identidade: um power metal melódico, energético e festivo, com uma sonoridade moderna e um espírito assumidamente halloweenesco.
“Ghosted” combina os elementos clássicos do género — coros épicos, solos de guitarra técnicos e melodias contagiosas — com atmosferas inspiradas no cinema de terror, nos videojogos e na banda desenhada. O resultado? Uma verdadeira montanha-russa musical, que tanto homenageia ícones como Freddy Krueger, Jason Voorhees ou Pennywise como nos leva a reviver a nostalgia de Monkey Island ou as aventuras sombrias de Dylan Dog.
O álbum arranca com “Lost In The Haunted House”, uma introdução orquestral digna de Danny Elfman e que estabelece de imediato o tom cinematográfico do disco. Seguem-se faixas como “Dance With The Dancing Clown”, um verdadeiro “earworm” dedicado ao palhaço mais assustador da cultura pop, e “Bitter Dreams”, uma balada sinistra inspirada em “A Nightmare on Elm Street”, que revela uma faceta mais sombria da banda.
Entre os destaques, contam-se também as participações especiais: Chris Bowes (Alestorm) dá voz à irreverente “Return to Monkey Island”, enquanto Adrienne Cowan (Seven Spires, Avantasia) brilha em “Bloodmoon”, trazendo uma intensidade vocal rara e poderosa que eleva ainda mais a experiência.
Musicalmente, “Ghosted” é sólido do início ao fim. A produção é limpa e polida, permitindo que cada instrumento respire, e a performance da banda é exemplar — especialmente Conti, cuja versatilidade vocal o coloca ao lado dos grandes nomes do género como Fabio Lione ou Timo Kotipelto. O seu carisma e controlo permitem que os restantes músicos brilhem também, num equilíbrio pouco comum e louvável.
Importa lembrar que os Trick or Treat nasceram como banda de tributo aos Helloween, e essa influência ainda ecoa em muitas das composições. No entanto, com “Ghosted”, conseguem finalmente afirmar-se com uma voz própria, abraçando sem pudor a estética e temática do horror, algo que já se insinuava em “Creepy Symphonies” (2022), mas que aqui explode em criatividade e identidade, tornando-se uma lufada de ar fresco, ou um lembrete de que o metal pode — e deve — ser divertido, escapista e até terapêutico. É um disco para cantar, rir, saltar… e, claro, assombrar.
Jack Starr – “Out Of The Darkness II”
Bravewords Records
O regresso em grande estilo de um dos mestres do metal melódico americano!
Quarenta anos depois do lançamento de “Out of the Darkness”, o lendário guitarrista Jack Starr regressa com uma continuação à altura: “Out of the Darkness Part II”. Mais do que uma simples homenagem ao passado, este novo álbum é uma afirmação viva da relevância e do poder criativo de Starr — um dos nomes incontornáveis do heavy metal norte-americano.
Para quem não conhece a história, Jack Starr fundou os Virgin Steele em 1981, abandonando a banda dois anos depois para seguir carreira a solo. “Out of the Darkness” (1984) foi o seu primeiro disco pós-Virgin Steele, um verdadeiro tesouro do heavy metal tradicional que contou com Rhett Forrester (RIOT) na voz. Décadas depois, Starr reúne uma equipa de luxo para dar continuidade a essa obra seminal.
“Out of the Darkness Part II” é uma aula de metal clássico com alma, coração e garra. Giles Lavery (Warlord, Alcatrazz) assume o papel de vocalista com uma performance poderosa, cheia de nuances e emoção — talvez a sua melhor até à data. A sua voz, simultaneamente épica e crua, encaixa como uma luva no espírito heroico e melodioso das composições.
A espinha dorsal do álbum é, como sempre, a guitarra de Jack Starr: riffs incisivos, solos arrepiantes e um bom gosto melódico raro. Ao seu lado está Eric Juris (Warlord) na guitarra rítmica e solista, numa combinação de harmonias que dá riqueza e dinamismo às faixas. Gene Cooper no baixo e Rhino (ex-Manowar) na bateria asseguram uma secção rítmica musculada e precisa, enquanto as participações especiais de Mark Zonder (Warlord, ex-Fates Warning) e Jimmy Waldo (Alcatrazz) elevam ainda mais o conjunto.
A produção de Thomas Mergler (com co-produção de Lavery e Starr) é acertada: moderna, mas sem cair em exageros ou polimentos artificiais. O som mantém-se orgânico, pesado, com espaço para cada instrumento respirar — como deve ser num disco que honra as raízes, mas fala com a força do presente.
A nível de repertório, o álbum não apresenta momentos fracos. “Hand of Doom” abre com agressividade e peso, um verdadeiro hino metálico. “Endless Night” e “The Greater Good” demonstram a capacidade da banda para equilibrar melodia e intensidade. “Underneath The Velvet Sky” mergulha em tons mais sombrios e atmosféricos, e “Sahara Winds” traz um toque exótico e cinematográfico que surpreende. “Rise Up” e “Tonight We Ride” pedem palcos e multidões — são canções feitas para cantar em uníssono. Já “Soulkeeper” e “Into the Pit” mostram um lado mais épico e combativo, perfeito para os fãs de Virgin Steele, Manowar ou Riot.
As duas faixas bónus, “Savage At The Gate” e “The Lesson”, mantêm o nível qualitativo e encerram o disco com muita classe.
Mais do que um revivalismo, “Out of the Darkness Part II” é uma afirmação: o heavy metal tradicional está vivo e recomenda-se. Jack Starr não só honra a sua própria história como consegue trazer frescura, emoção e poder a um género que, quando bem-feito, nunca envelhece.
Para quem procura um disco de metal com alma, técnica, energia e melodias memoráveis, este é obrigatório. Um dos grandes lançamentos do ano dentro do espectro do metal clássico. Jack Starr continua, em 2025, a mostrar por que razão é um dos pilares do metal norte-americano — e este álbum é a prova viva disso.
Giant – “Stand And Deliver”
Frontiers Music Srl.
Após décadas de um legado incontestável no hard rock melódico, os norte-americanos Giant regressam em 2025 com “Stand And Deliver”, que se apresenta como um novo capítulo poderoso, impulsionado por uma formação revitalizada. David Huff (bateria) e Mike Brignardello (baixo), membros fundadores, mantêm viva a essência da banda, agora ao lado de Kent Hilli como vocalista e Jimmy Westerlund (One Desire) na guitarra — este último também responsável pela mistura do álbum em colaboração com Alessandro Del Vecchio (que assina também os teclados em modo convidado).
O alinhamento do disco não desilude: temas como “Holdin’ On For Dear Life” e “Paradise Found”, retirados das sessões de Dann Huff com Van Stephenson, reforçam a ligação direta à sonoridade do lendário “Time To Burn”, mas é notória a vontade da banda em expandir horizontes. Com um som vigoroso, riffs precisos e produção de primeira linha, os Giant entregam um álbum que promete agradar tanto aos fãs de longa data como a uma nova geração sedenta de rock melódico de qualidade.
“Time To Call It Love” é uma canção que combina o ADN clássico da banda com uma produção moderna e cristalina. Escrito em colaboração entre o icónico Dann Huff (guitarrista e vocalista original) e o saudoso Mark Spiro, o tema transborda emoção, elegância e aqueles refrões arrebatadores que fizeram da banda uma referência desde finais dos anos 80. A guitarra melódica, os vocais apaixonados de Kent Hilli (Perfect Plan) e os arranjos refinados elevam esta faixa a um novo patamar de sofisticação rock.
Desde o estrondoso início com “Last Of The Runaways” (1989) até ao influente “Time To Burn” (1991), passando pela reinvenção com “Promise Land” (2010) e o regresso com “Shifting Time” (2022), os Giant sempre souberam reinventar-se sem trair a sua identidade. Agora, com “Stand And Deliver”, reafirmam-se como mestres no ofício — prontos a continuar a sua história com paixão, talento e, acima de tudo, alma.
Como fã de longa data dos Giant, confesso que esperei anos por um regresso assim e agora posso dizê-lo sem hesitar — valeu a pena cada segundo de espera, pois como alguém que cresceu com “Last Of The Runaways” e viu “Time To Burn” transformar-se numa referência obrigatória do género, ouvir novamente a essência da banda a ressoar com esta força é profundamente gratificante. É como reencontrar um velho amigo — maduro, mas com o mesmo coração vibrante.
NekrOmatics – “Place Of Indulgence”
Há bandas que tocam nas sombras, e há entidades como os NekrOmatics — forjadas nelas.
Nascidos no início de 2025, os NekrOmatics são uma entidade de Symphonic Black/Death Metal composta por Melek Taus (compositor e criador dos riffs) e Melkor (voz, baixo, orquestração e produção nos Studios13). Inspirados por nomes como Dimmu Borgir, Cradle of Filth, Moonspell e Old Man’s Child, o duo molda esses ecos num som próprio — cru, infernal e ritualístico.
O nome da banda, por si só, é uma invocação: NekrOmatics — uma fusão entre necro (morte) e matemáticas ocultas. Cada faixa é uma oferenda litúrgica, criada no isolamento, mas forjada em comunicação absoluta. Cada batida, cada riff, cada passagem orquestral é um golpe cerimonial pensado para atravessar carne e espírito.
Do álbum de estreia, intitulado “Place Of Indulgence”, e, entretanto, já finalizado, são nos dadas a ouvir “Land of the Shallow Graves”, “Overkill Boulevard” e “Necropolis Ablaze”, que soam como verdadeiros arquétipos de devastação sonora, deixando antever que no global poderemos estar perante um portal para um universo infernal onde o excesso, a escuridão e a transcendência caminham de mãos dadas.
“Land of the Shallow Graves” abre o ciclo como um murro direto no estômago — uma avalanche rítmica que nos enterra em solo sagrado pelos mortos. Melodia sombria e violência crua coexistem numa estrutura impiedosa, onde o equilíbrio entre brutalidade e ambiência é meticulosamente controlado.
“Overkill Boulevard”, foi o primeiro sinal da ruína que se aproxima. Um hino decadente, violento e cinematográfico onde “dark city, damned souls roam / Overkill Boulevard, blood is home” ecoa como profecia. A letra invoca uma metrópole mergulhada em trevas e neon, onde o sangue substitui o cimento e a dor é expressão máxima de arte. Riffs afiados como lâminas, bateria implacável e uma produção crua, mas meticulosa traçam o caminho desta marcha fatal.
Já “Necropolis Ablaze” encerra com caos total: um cenário apocalíptico pintado por guitarras dissonantes e orquestrações espectrais, onde uma cidade em chamas se ergue como metáfora do colapso espiritual humano.
Os NekrOmatics não surgem para entreter. Surgem para consumir. E o fogo já começou a arder.
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