Rock Zone Reviews – Nighthawk, Vallorch, Imperishable, Reinforcer, The Dead Cowboys
Rock Zone é um programa de rádio na Rádio Alta Tensão e na Songs For The Deaf Radio da autoria de Miguel Correia e todos os meses, estes são os seus destaques.
Nighthawk – “Six Three O”
Mighty Music
O rock melódico sueco volta a provar que está em plena forma com os Nighthawk e o seu novo álbum “Six Three O”, lançado a 1 de agosto pela Mighty Music. Gravado nos lendários Rockfield Studios em Gales, onde já nasceram clássicos de nomes como Queen e Oasis, este disco respira tradição, mas com aquele toque moderno que só músicos deste calibre conseguem dar. A formação é de luxo: Robert Majd (Captain Black Beard, Metalite) na guitarra, Björn Strid (Soilwork, The Night Flight Orchestra) na voz, John Lönnmyr nos teclados, Rasmus Ehrnborn no baixo e Magnus Ulfstedt na bateria. Uma autêntica constelação sueca pronta para disparar refrões memoráveis e riffs que ficam colados ao ouvido.
E o que encontramos em “Six Three O”? Exatamente o que os fãs de rock clássico e AOR adoram: melodias irresistíveis, coros para cantar em uníssono e aquele sabor inconfundível dos finais de 70 e inícios de 80. “Hard Rock Warrior” abre o álbum com energia contagiante, “Home Tonight” mostra a química perfeita entre guitarra e teclados, enquanto “Angel of Mine” poderia muito bem-estar no catálogo dos Europe. Já “Can’t Say Goodbye” traz ecos de Rainbow e “Too Good To You” acelera sem piedade, lembrando que os Nighthawk também sabem soar pesados quando querem. O fecho com a versão de “Man on the Silver Mountain” é a cereja no topo do bolo, homenageando a herança que os inspira. É verdade, por vezes os títulos e letras soam um pouco cheesy, mas sejamos honestos, não é isso também que adoramos no rock desta época? “Six Three O” não tenta reinventar nada, mas faz tudo com uma classe tremenda e uma produção moderna que dá frescura às influências clássicas. É um álbum divertido, vibrante e cheio de alma, daqueles que nos fazem sorrir e lembrar porque nos apaixonámos pelo rock em primeiro lugar.
Vallorch – “Hellpath”
Rockshot Records
Os Vallorch regressam com “The Circle” e, sinceramente, é daqueles discos que mostram como o folk metal pode ser tudo menos monótono. Vindos de Veneza, os italianos decidiram pegar em mitos alpinos, lendas cimbricãs e noites carregadas de simbolismo, e transformaram-nos num banquete de guitarras pesadas, orquestrações cinematográficas e melodias tradicionais que tanto dão vontade de dançar como de levantar o punho no ar. A grande estrela aqui é Sara Tacchetto. A vocalista alterna entre momentos delicados e explosões épicas com uma facilidade irritante (daquelas que nos faz pensar “como é que esta mulher consegue isto e eu mal atinjo a nota do chuveiro?”). Juntam-se-lhe riffs musculados, um baixo que nunca deixa o chão parar de tremer, bateria galopante e um arsenal de instrumentos folk que vão desde a gaita-de-foles ao bouzouki.
O alinhamento tem de tudo. “Circle of the Moon” é praticamente obrigatório para qualquer concerto da banda, daqueles refrões que ficam colados à cabeça como pastilha no nosso cabelo. “Dyssomnia” é o épico de nove minutos que mostra Vallorch no auge da criatividade, cheio de mudanças de andamento e momentos orquestrais que podiam facilmente ser banda sonora de um filme. “Drink Some More!” é exatamente o que o título promete: um brinde sonoro à camaradagem, com direito a harpa celta e guitarras a faiscar. E “Antermoia” é a balada que mostra Sara em modo voz-de-arrepiar, com um solo de guitarra que arranca lágrimas a qualquer coração mole.
Resumindo, os Vallorch afinam melhor que nunca o equilíbrio entre o peso metálico e a melodia folk. “The Circle” é forte, variado e envolvente. Se gostas de música que sabe contar histórias e ainda por cima te faz mexer o corpo, tens aqui uma bela escolha para a tua colecção.
Imperishable – “Revelation In Purity”
Everlasting Spew Records
Se ainda achavas que o death metal sueco e americano já tinha cuspido tudo o que havia para cuspir, pensa outra vez. Os Imperishable chegam com “Revelation In Purity”, estreia marcada para 29 de agosto pela Everlasting Spew Records, e isto é um murro no estômago com botas de aço. Não é death metal polido, nem com produção plastificada. É cru, visceral e gravado à moda antiga. Ou seja, exatamente como deve ser. A banda junta Brian Kingsland (Nile, Enthean) na voz e guitarra, Alex Rush (Olkoth, Enthean) no baixo e o lendário Derek Roddy (Hate Eternal, Malevolent Creation) na bateria. Se este trio não te diz nada, provavelmente estás perdido na secção errada da loja de discos. Aqui não há espaço para brincadeiras: blast beats sem piedade, riffs que cortam como serras enferrujadas e um peso que te faz duvidar do chão onde estás a pisar. O single “Spewing Retribution”, por exemplo, foi o cartão de visita perfeito. É rápido, agressivo, cuspido de forma quase poética, mas sem floreados. Até há espaço para um solo que junta Dimebag e Ihsahn no mesmo copo de whisky imaginário antes de voltar à violência sonora.
Não é música para estar a contar quantas notas soam, é para sentir o impacto. E isso, meus caros, está aqui em doses industriais. Liricamente, o disco rejeita a violência gratuita e prefere provocar pela interpretação. Sim, é anti-religioso, mas feito com cabeça e metáforas. E há um detalhe importante: não ouvirás aqui baterias quantizadas ou guitarras editadas até ao osso. Ouves performance real. Há notas que podem escapar, mas a convicção fica. E num género como este, a convicção é tudo. Inspirados por monstros como Morbid Angel, Emperor, Angelcorpse e, claro, Nile, os Imperishable não vieram reinventar a roda. Vieram pôr gasolina, atear fogo e mandar a roda colina abaixo. “Revelation In Purity” é bruto, é direto e é honesto. É a estreia de uma banda que já soa veterana e que, se mantiver esta fúria, vai deixar um rasto difícil de ignorar.
Reinforcer – “Ice And Death”
Scarlet Records
O power metal é daqueles géneros que, se fosse uma série de TV, já teria umas vinte temporadas, todas com dragões, guerreiros em troncos de árvores e refrões que nos fazem levantar o punho no ar mesmo que estejamos a carregar sacos do supermercado. Os Reinforcer sabem isso muito bem e, em “Ice And Death”, assumem-se sem vergonha como os continuadores dessa saga.
Para quem os conhece desde “Prince of the Tribes” (2021), a evolução é clara. Ainda há ecos das grandes escolas do género, de Blind Guardian a Running Wild, mas agora nota-se mais confiança, mais garra e até mais personalidade. Logan Lexi, na voz, já não soa a aprendiz, soa a general que manda avançar tropas em plena batalha. E as guitarras de Niclas Stappert e Tobias Schwarzer continuam afiadas como lâminas prontas a cortar o gelo do gigante Ymir, inspiração para o título.
As letras vão da peste negra a flautistas marotos, passando por caçadas às bruxas em nome da Inquisição. Tudo embrulhado em riffs velozes, refrões de levantar coros e aquela produção polida, mas sem perder peso, assinada por Kai Stahlenberg no estúdio dos Powerwolf. “The Witch Mayor”, com o seu refrão pegajoso e riffs de aço, é um belo exemplo de como contar histórias sombrias com espírito épico.
Não, os Reinforcer não são donos épicos de um estilo, mas também não estão aqui para isso. Estão aqui para mantê-lo a rodar, veloz e cheio de chama metálica. “Ice And Death” é daqueles álbuns que não te vão mudar a vida, mas que te vão pôr a cantar com um sorriso cúmplice porque sabes bem ao que vens. É divertido, é sólido, é honesto. E no power metal, isso vale ouro.
The Dead Cowboys – “Heavy Western”
Shotgun Records
Se já achavas que o metal tinha ido a todo o lado, enganas-te. Faltava o saloon. Os The Dead Cowboys chegam finalmente com o seu álbum de estreia, lançado pela Shotgun Records, e trazem consigo um estilo que batizaram de “Heavy Western”. Imagina Motörhead a atravessar um deserto poeirento ao pôr do sol, com um cavalo cansado de um lado e uma garrafa de bourbon do outro. É isso. Bobby Jensen, voz da coisa e figura maior, mistura o drama e a narrativa do country clássico com a fúria e o músculo do metal. O resultado é uma colecção de malhas sobre camionistas, cowboys, carros, demónios e tudo o que possa ser servido num steakhouse barulhento ao som de guitarras em chamas. É tão sério quanto divertido e funciona surpreendentemente bem.
Sim, isto podia ser uma daquelas ideias de ressaca que nunca deviam sair da garagem. Mas não é. “Heavy Western” é coeso, cheio de energia e com personalidade para dar e vender. Há riffs que te fazem querer acelerar pela autoestrada e refrões que te obrigam a bater o pé no chão em modo cowboy bêbedo. Os The Dead Cowboys estão aqui para curtir, disparar riffs certeiros e, pelo caminho, criar uma sonoridade que pode soar bizarra no papel, mas que ganha vida com uma autenticidade bruta. Se a ideia de ver Lemmy a tocar numa taberna fantasma te arranca um sorriso, então este disco é para ti. No fim do dia, “Heavy Western” é isto mesmo: poeira, álcool, riffs gordos e histórias que dão para cantar a plenos pulmões. E sabes que mais? Funciona!
