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VOA Fest – Dia 2 – 05/08/17 @ Quinta da Marialva, Corroios

O calor apertava mas mesmo assim nada impedia da correria para o segundo dia do VOA Fest. O primeiro dia trouxe-nos muitos bons momentos de música pelo que a expectativa era igual ou melhor. O sol estava, como sempre, impiedoso para as primeiras bandas no palco principal mas a primeira deste segundo dia era uma que ri na cara da adversidade, tudo porque pôde contar com o seu thrash metal impiedoso e cheio de groove.
Interesse redobrado para todos os fãs de thrash metal principalmente porque a banda está na iminência de lançar o segundo álbum de originais (mais concretamente em Setembro), “Obscurity Rising”.  No entanto, nem isso seria necessário como chamariz já que a abordagem da banda de Coimbra é ideal para trazer caos e confusão – no melhor sentido. Um som extremamente forte e bem definido ajudou a que todo o poder destrutivo dos Terror Empire estivesse disponível. Tirando alguns problemas com a guitarra de Rui Alexandre na “Holy Greed”, uma das malhas do já citado novo álbum. Esta é uma banda que já provou por diversas vezes que já tem qualidade suficiente para surgir num lugar mais elevado em elementos deste género. Um excelente aquecimento.
Tal como se verificou no dia anterior, os horários para o palco Loud! foram alterados pelo que tivemos que aguardar pelas 18 horas pela entrada no palco principal dos praticamente desconhecidos Childrain. A banda com origem do País Basco, da vizinha Espanha já tem três álbuns de originais editados (o último, “Matheria”, foi lançado em 2015). A banda pegou onde os Terror Empire tinham deixado e mantiveram a acção com o seu metalcore bastante amigo de sonoridades mais tradicionais (nomeadamente thrash e death metal). Apesar de não apresentarem nada de novo, o seu entusiasmo foi contagiante e o seu som dinâmico, não ficando muito preso a uma fórmula específica – o tema “Blinded By Rage” é um bom exemplo disso, anunciada por Iñi, o vocalista, como a balada da banda –  para muitos foi certamente uma boa surpresa.
Se a presença de bandas nacionais é uma constante no VOA, este ano essa presença ainda esteve mais reforçada, com o palco Loud! que nos trouxe dos mais variados campos o melhor da música nacional. Primeiro teremos que referir que a mudança dos horários foi uma excelente rectificação já que permitiu a primeira banda tocar para mais público do que aquele que teria acesso caso subisse ao palco na hora previamente escolhida. Os Adamantine foram a primeira banda do dia no palco Loud! e tiveram direito a uma boa assistência. Infelizmente não puderam contar com o melhor som, como as bandas no dia anterior no mesmo palco usufruíram. Com o som demasiado desequilibrado entre os agudos e os graves, retirou-se algum do prazer que a sua actuação poderia ter trazido, actuação essa que baseou-se na maioria ao seu segundo álbum de originais, “Heroes And Vilains”, onde se destacou o tema título, a “Grudge” e “Reborn In Darkness”. Do passado e a fechar a actuação, destacamos a “Mechanical Empire”. Definitivamente terá ficado a vontade de muitos fãs de thrash metal ouvir a banda com outras condições.
Por falar em thrash metal, impossível não esconder o entusiasmo por vermos Death Angel. A banda norte-americana sofreu alguns azares na década de noventa que os impediu de terem chegado mais longe, mas a segunda vida que têm estado a viver desde o início do presente milénio conseguiram mais do que apenas recapturar a glória antiga. Injectaram sangue novo numa cena em crescendo. Essa energia e entusiasmo foram as características da sua actuação no palco VOA. Começar com um breve excerto da “Ultra Violence” (e seria tão bom ouvir esta grande malha por inteiro) foi o suficiente para levar a multidão ao rubro, estado que se manteve com a não menos clássica “Evil Priest” que continua a soar bem, mesmo com quase trinta anos de idade.
Apesar de concentrar atenções no seu último álbum, “The Evil Divide”, a banda também tocou noutros momentos da sua carreira como “Left For Dead” do álbum “The Dream Calls For Blood”, o primeiro circle pit digo do seu nome a ser formado, ou como quem diz, a primeira nuvem de pó a ser formada. Mark Osegueda, o vocalista da banda de Bay Area, não se cansou de agradecer quer pela presença do público como pela sua energia, afirmando que é sempre um país voltar ao nosso país. Também referiu como é importante o apoio dos fãs que lhes permitiu fazer o que gostam de fazer todos estes anos, um apoio que foi mais que evidente pelos circle pits épicos nas malhas “Thrown To The Wolves”, “Lost”, “Kill As One” (esta última um regresso ao já citado clássico álbum de estreia, “The Ultra Violence”) e a “Moth” a fechar uma actuação praticamente sem falhas onde até houve oportunidade para uma homenagem a Ronnie James Dio / Black Sabbath  com uma excelente rendição do clássico muitas vezes esquecido “Falling Off The Edge Of The World”.
A fasquia tinha ficado bastante elevada com a prestação da clássica banda norte-americana no palco principal mas os guerreiros lusitanos que se seguiam no palco Loud! não tremem perante ninguém. Os Cruz de Ferro, além de cantarem em português, são donos de uma sonoridade bem potente dentro dos limites do heavy metal tradicional. “Fúria Divina” foi o primeiro tema a surgir após uma introdução breve mas adequada. Fúria divina também parecia ser a forma como o som que saía do palco nos castigava. Tivesse o volume um pouco mais baixo com o som das guitarras com os agudos menos assanhados e o concerto teria sido apreciado de uma forma totalmente diferente.
Ainda assim, e como dos fracos não reza a história, os Cruz de Ferro, mostravam que apesar da adversidade, a inspiração não faltava. “A Lúcifer”, “Defensores” e “Vitória” foram debitados por um Ricardo Pombo (vocalista e guitarrista) mais contido por questões de tempo mas sempre com farpa certa na hora certa – fica como curiosidade o facto de se ter dirigido ao público do VOA com um “Vagos”, uma confusão que no dia anterior Simone Simmons já tinha feito também. Para todos os efeitos, o VOA, por muito que tenha perdido o sentido da sigla, continua a ser uma encarnação do Vagos Open Air. Questões de semântica aparte, é muito bom termos uma sonoridade tradicional num evento destes, já que acaba por ser sempre o parente mais pobre, perdendo espaço para outros estilos mais modernos e mais na moda.
Como o próprio vocalista dos Cruz de Ferro tinha dito, os Venom eram a banda pela qual se ansiava, uns cabeças de cartaz a repetir o lugar de dois anos atrás, na antiga localização, sendo inevitável fazer uma comparação. Apesar da banda liderada por Cronos, o único membro original, não ter lançado nenhum álbum desde então, ninguém no seu perfeito juízo anseia por ver o power-trio blasfemo pelas suas novidades. Os clássicos estão sempre no topo das prioridades dos fãs mas a banda não deixa de apostar nos seus temas novos, tais como “From The Very Depths”, “The Death Of Rock’n’Roll” e “Smoke”. Apesar de não terem o brilho dos temas mais clássicos, não deixam de ter um efeito positivo ao vivo. A voz de Cronos estava algo desequilibrada na mistura,a sair demasiado alta no início da actuação mas esse foi apenas um detalhe já que a perfeição nunca foi o foco da banda (muito pelo contrário).
As reacções mais efusivas foram causadas quando surgiram temas como “Blood Lust”, “Buried Alive”, Welcome To Hell”, “Countess Bathory” e “Don’t Burn The Witch”. No que nos diz respeito, recebemos muito bem um tema como “Evil One”, do álbum de regresso da banda com a formação original, “Cast In Stone”, álbum que atinge a simpática marca de duas décadas no presente ano. Não poderiam faltar também a “Warhead”, “1000 Days In Sodom”, “Black Metal” e a Witching Hour, estas duas últimas em regime de encore. Mesmo sem ser um concerto de encher o olho, a banda cumpriu a sua função, deixando para trás uma série de fãs convencidos. Curiosidade para as atribulações que a banda passou – o guitarrista Rage perdeu o vôo e teve que vir para o nosso país às suas custas.
A noite aproximava-se do fim e no palco Loud! seria a despedida com os Rasgo. Depois de terem sido uma escolha inesperada para abrir o concerto de Slayer, era chegada a hora de provarem o seu valor perante o público do VOA. Primeiro (e mais relevante) facto sobre a actuação da banda: som estupidamente alto. Mais alto do que o equipamento aguentava e mais alto do que os ouvidos humanos aguentavam. O que foi pena – aliás como em Cruz de Ferro e Adamantine – já que a sonoridade da banda merecia ser ouvido em todo o seu esplendor.
Apesar deste facto, isso não influenciou em nada a prestação dos Rasgo nem a recepção do público. A ter grande parte dos seus temas cantados em português, a vertente mais bruta e a puxar ao hardcore faz uma excelente combinação e torna o som da banda fresco e urgente. A banda ainda não tem álbum lançado – anunciou no final do concerto que a data de lançamento será dia 27 de Outubro – mas revelou algumas das malhas presentes no álbum, tais como “Homens Ao Mar (Puxa!), “Ecos da Selva Urbana”, tema-título” do já mencionado álbum de estreia, “Ergue a Foice” entre outros. Foi uma boa apresentação da banda que parece estar a agarrar todas as oportunidades que conseguem com força e entusiasmo. A forma como se apresentaram, sabendo puxar e cativar o público, também não é inesperado tendo em conta que estamos a falar de um colectivo que reúne membros e ex-membros de bandas como Trinta e Um, Tara Perdida, Pé de Cabra, Sacred Sin, Witchbreed e Shadowsphere.
Pensámos, ingenuamente, que com os Apocalyptica, banda escolhida para fechar a noite, que fosse o ideal para os nossos pobres ouvidos pararem de sangrar e apesar de ter contado com um som equilibrado e e não contarem com distorção propriamente dita – ou pelo menos como aquela que estamos habituados, isso não quer dizer que tenha sido propriamente um concerto aborrecido. Muito pelo contrário, principalmente por ser um alinhamento totalmente dedicado aos Metallica, como forma de comemoração do lançamento do álbum de estreia da banda finlandesa em 1996 – “Plays Metallica By Four Cellos”.
E na ausência dos 4 Hoursemen, contámos com quatro violoncelos impecáveis e certinhos como relógios suíços a debitar os maiores clássicos da banda de São Francisco. Como Cronos, dos Venom, tinha dito, os violoncelos dos finlandeses foram extraviados, pelo que este foi o concerto que quase não se deu. E seria pena por que é sempre arrepiante ouvir uma multidão a cantar refrães (e versos) de temas como “Master Of Puppets”, “Sad But True” e “Creeping Death. As baladas também não poderiam faltar, sendo que a “Fade To Black” teve um enorme impacto com a entrada do baterista que até então ainda não tinha tocado com a banda em palco.
A bateria não era convencional. Dela saiam sons estranhos, mais próprios de uma abordagem industrial mas que neste contexto resultaram muito bem. Eicca Toppinen foi quase sempre o mestre de cerimónias que foi contando algumas curiosidades- como o facto de para esta digressão estarem a contar com Antero Manninen, membro original que saiu após o segundo álbum, Em vez de tocarem o álbum na íntegra, que depressa tornaria a coisa aborrecida, a banda soube criar um alinhamente muito interessante, principalmente pela inclusão de temas surpresa como “Orion” e “Escape” – que Hetfield detesta – sem contar com a “Seek and Destroy” com excertos da “Ride The Lightning” e “Thunderstruck” dos AC/DC. Para o encore, as inevitáveis “Nothing Else Matters” e “One”.
O público recebeu os finlandeses quase como se tivessem sido os Metallica a tocar no VOA e mostraram ser uma aposta ganha convencendo mesmo aqueles que não tinham fé da mesma resultar. Um segundo dia que apesar de algumas questões em termos de som demonstrou estar ao nível das expectativas. Seguiu-se o descanso para o último capítulo da saga de 2017 da música pesada em Corroios.
Support World Of Metal
Reportagem por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos a Prime Artists e PEV Entertainment

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