Entrevistas

WOM Entrevista – Trinta & Um

Os Trinta & Um são uma das instituições nacionais do hardore e da cena LVHC. Algo que não tem contestação. Depois da reunião da formação original, do aniversário do seu álbum de estreia, o clássico “O Cavalo Mata”, da reedição desse mesmo trabalho (com um DVD ao vivo registado no concerto no RCA Club de dia 14 de Dezembro), a banda encontra-se neste momento a trabalhar no próximo álbum de originais, o que nos deixa cheios de expectativa em relação ao futuro. Para atenuar a curiosidade e partilhar convosco um retrato da banda nos últimos tempos – passados, presentes e futuros – fomos falar com Pedro Ataíde, vulgo Sarrufo, guitarrista da mítica banda de Linda-A-Velha. – Por Fernando Ferreira / Fotos por Sónia Ferreira

Olá Sarrufo e bem vindo ao nosso World Of Metal. Acho que a pergunta que se impõe para começarmos é: se recuarmos uns anitos atrás a reunião com os Trinta & Um era algo que julgarias possível?

Para ser sincero achei que este regresso seria totalmente impossível, porque nos tínhamos afastado demasiado uns dos outros e houve momentos bastante tensos entre nós. Nunca deixámos de nos falar mas havia sentimentos de raiva, traição etc… tal como acontece nas relações.

Como foi voltar a vestir essa pele? Qual foi a principal sensação que sentiste aquando a actuação no Bifes Fest? Além de toda a carga emocional que esse dia teve, claro…

Esse dia foi um dia em que todas as divisões foram postas de lado porque o nosso amigo tinha perdido a vida e merecia a nossa homenagem. O Bifes cresceu perto de nós no estúdio do Rações a ouvir 31. Todos gostávamos muito dele e para o homenagear fazia todo o sentido voltar a subir ao palco juntos. Esse concerto foi um turbilhão de emoções, de um lado a tristeza da partida do nosso amigo, do outro o sentimento de voltar a subir ao palco e dar tudo a um público que sempre nos dá a dobrar! Após o concerto de Homenagem ficou claro para nós que a nossa história estava mal contada e que estávamos ainda a tempo de a reescrever.

Depois como surgiu a ideia para a reedição do “Cavalo Mata”? Foi como que mostrar que os Trinta & Um estavam de volta ou também para reapresentar o clássico a uma nova geração?

Uns dias depois da homenagem ao Bifes fizemos uma reunião, falámos olhos nos olhos, dissemos o que tínhamos a dizer e resolvemos o que havia para resolver. Depois arrancaram os ensaios e começámos a pensar como reerguer a banda para a colocar num patamar que é seu por direito. Marcámos o concerto de regresso e começámos a trabalhar para fazer as coisas bem feitas desta vez. Os 31 sempre foram uma banda caótica que destruía tudo o que fazia, havia uma espécie de tendência suicida que era preciso afastar de uma vez. Esse concerto de regresso foi filmado sem um propósito definido, sabíamos apenas que era um momento histórico para nós e que merecia ficar registado. Quando se falou de reeditar o cd para celebrar os 20 anos do “O CAVALO MATA!” surgiu a ideia de adicionar ao cd esse DVD. E agora sim está aí para as novas gerações.

A ideia para DVD bónus com filmagens do concerto de reunião no RCA Club era já algo que queriam ter feito há mais tempo? Ponderam fazer mais coisas do género?

Estive vários anos fora da banda mas não estive parado, quando lançámos o disco de Rasgo conseguimos uma exposição enorme porque para além da qualidade da música apostámos também na imagem, nos vídeos, etc… É um todo, já não é apenas música. Na verdade sempre foi um todo mas nós éramos apenas uns putos de Linda-a-Velha que queriam tocar Hardcore e não tínhamos essa visão. Hoje em dia é diferente temos a visão e os meios por isso não há desculpas. Vivemos numa época em que a imagem assumiu um papel enorme e claro que tencionamos fazer muito mais conteúdos de imagem e de vídeo.

Desde o “Cavalo Mata”, o que achas que mudou mais na cena Punk / Hardcore nacional?

Mudou muita coisa mas não apenas na cena hardcore, na verdade o mundo mudou e nada ficou imune a essa mudança. Hoje é tudo muito mais descartável, muito mais imediato. É muito mais fácil aparecer mas também é muito mais fácil desaparecer sem deixar rasto. Antes não havia tantas distracções, um disco tinha outro valor, havia tempo para ser ouvido, vivido e passava a fazer parte da tua vida.

O próximo álbum já tem sido anunciado há já algum tempo, já há algum trabalho adiantado? Algo que possa dar uma indicação da sua orientação?

Estamos a trabalhar em força nisso, já há muita coisa adiantada e posso revelar algumas coisas. O disco vai-se chamar “Granada no Charco” e grande parte da composição está feita. Na altura em que regressei à banda falei com o Goblin e disse-lhe que queria compor o disco na totalidade porque tinha uma visão e precisava que ele confiasse em mim. Não queria entrar num processo difícil e demorado de fazer músicas nos ensaios. Prefiro fazer as coisas em casa, poder pensar no silêncio e levar o tema sem desvios exactamente para onde o imagino. Componho os temas, escrevo as letras e depois levo as maquetes para os ensaios para trabalharmos sobre isso. Nessa altura claro que todos contribuem e só juntos metemos aquilo a soar a 31.

Sentes alguma pressão ou responsabilidade acrescida por ser visto como o álbum de regresso dos Trinta & Um com a formação original?

Vou parecer arrogante, mas não vou estar aqui com merdas, não sinto pressão nenhuma. São anos e anos de aprendizagem, passo a vida num estúdio a trabalhar com bandas e neste momento sinto-me totalmente capacitado para elevar a fasquia nos 31. Além disso todos estão muito melhores, o Goblin esteve vários anos sozinho à frente da banda e aprendeu muito, a voz dele está melhor que nunca! O Rações nos Rasgo teve de evoluir imenso como baterista e tem hoje em dia muitos recursos que não tinha e o Rolão é sangue novo na banda.

Sempre houve um espírito de irmandade e de pertença a algo dentro da cena LVHC que se foi tornando mítica com a passagem dos anos. A união e a luta ou pelo menos crítica contra o que se considera incorrecto. No caso dos Trinta & Um, actualmente, esse também é o sentimento daquilo que podemos encontrar no seio da banda ainda hoje em dia?

Há uma frase que diz podes tirar um homem do bairro mas não podes tirar o bairro de um homem. Na verdade é um pouco isso , nós não estamos a tentar ser nada, somos os 31 como sempre fomos. O espírito é o mesmo e isso ficou muito claro logo que arrancaram os ensaios. Uma letra nossa diz “crescemos juntos desde pequenos, uns para os outros muito valemos” e eu acho que depois de tudo essa frase continua a fazer todo o sentido!

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