Entrevistas

WOM Entrevista – Vëlla

Os Vëlla são uma das grandes revelações de 2020, embora não sejam propriamente desconhecidos do público da música pesada nacional. “Coma”, o álbum de estreia surgiu ao público numa altura em que o Covid-19 se estava a espalhar por todo o mundo e os planos da banda, tal como muitos outros eventos, acabaram por ser apanhados de forma desprevenida. Para fazer justiça à banda e ao trabalho que merece o destaque – assim como também merece ser celebrado ao vivo – a World Of Metal foi falar com Oz Vilesov, guitarrista e membro fundador dos Vëlla. – por Fernando Ferreira

 

Olá Oz e obrigado ao nosso World Of Metal. Vamos começar pelo início. Vëlla começou o seu caminho e tomou forma bastante rápido. Da tua perspectiva também foi assim? Algo que se sucedeu rápido, o passar do querer fazer algo até ter encontrado o rumo e principalmente as pessoas que se pudessem juntar a ti?

Antes de tudo quero agradecer esta oportunidade que nos dão de podermos falar um pouco acerca do nosso projeto e do nosso trabalho e agradecer-vos também por tudo o que têm feito pelo metal nacional.

Em relação à tua pergunta a resposta é que foi algo que aconteceu no seu devido tempo, mas de uma forma muito espontânea. Como sabes maior parte da banda já se conhecia de um projeto anterior e após quatro de nós termos saído desse projeto como somos amigos fomos falando e surgiu a oportunidade de fazermos umas jam sessions juntos. Daí até sentirmos que podíamos criar algo diferente do que já tínhamos feito foi um pequeno passo e decidimos fundar os VËLLA, a quem se juntou pouco tempo depois o nosso vocalista Pedro Lopes.

Sei que o principal objectivo seria não haver barreiras estilísticas e isso nota-se no resultado final de “Coma”. Tenho curiosidade em saber se houve algum tipo de ideia que achassem que já fosse ir longe de mais.

Nem por isso. Nós escrevemos este disco em tempo record e aproveitámos a maioria das ideias. No entanto nem sempre foi fácil conjugar de forma coesa todas as paletas sonoras que incorporámos no álbum. Acho que conseguimos fazer isso e o resultado até acaba por ser surpreendentemente positivo.

Estilisticamente vocês são um pesadelo para qualquer jornalista mas apesar disso, há um fio condutor e uma personalidade estabelecida logo neste primeiro álbum. Sendo ainda provavelmente cedo para falar nisto, mas antevês que esta personalidade musical ainda se possa expandir para além daquilo que encontramos em “Coma”?

Nós nunca vamos fechar portas a qualquer tipo de ideia que um de nós possa ter. Gostamos muito de experimentar as coisas na sala de ensaio para que cada um de nós possa dar o seu input sobre o que estamos a criar, a partir daí depois vemos o que resulta melhor. Posso garantir que a nossa criatividade não será limitada por barreiras de estilo musical e que faremos o que nos soar bem, seja isso um riff de guitarra pesado com um blast beat ou uma linha de acordeão com uma voz cantada.

Sendo Vëlla compostos por músicos experientes, as gravações foram por isso mais rápidas, ou o facto de quererem também algo diferente fez com que houvesse um maior trabalho em estúdio para alcançar a visão que pretendiam?

Correu tudo num ritmo muito elevado porque tínhamos de enviar o disco para a fábrica a tempo de ser lançado em março. O Caesar esteve focado a full-time nas gravações e depois na mistura e master do disco. Isso foi o que talvez lhe tenha consumido mais horas porque queríamos algo com qualidade sonora que fizesse justiça aos temas que escrevemos. Pessoalmente acho que este é um dos seus melhores trabalhos, soa muito equilibrado e ele soube dar destaque às partes que o mereciam.

O facto de Caesar Craveiro ser o vosso baixista e também produtor ajudou a que o processo fosse um pouco mais relaxado ou havia a pressão do tempo em cima da banda?

O nosso ambiente a gravar com o Caesar é familiar, embora exista sempre pressão de fazer as coisas bem. O curioso é que o Caesar durante o processo de gravação procura acrescentar algumas coisas extra que um ou outro tema ainda não tinham, seja isso uma nova harmonia de guitarras, um efeito no baixo, um sintetizador ou uma mudança na dinâmica das linhas vocais. Há sempre espaço para se ser criativo mesmo aquando da gravação, o que acaba por fazer os temas crescerem ainda mais, acrescentando-lhes uma espécie de tempero que lhes faltava.

Os nossos leitores não sabem mas nós tínhamos combinado fazer uma entrevista no estúdio antes de do lançamento do álbum mas por indisponibilidades, esses planos tiveram de ser alterados e depois… todo o mundo mudou. E parece que desde então uma vida inteira passou. Com o concerto de apresentação a ter de ser adiado, com todos os vossos planos a serem alterados… o que queria saber era, como foi o vosso estado de espírito perante este cenário? Sentiram que tinham morrido na praia depois de tanta luta?

Sentimos que o mundo nos roubou uma oportunidade para a qual trabalhámos meses e meses a fio. Sentimos um certo sabor a injustiça pois escrevemos o disco, preparámos o concerto de lançamento ao ínfimo detalhe, investimos uma soma monetária considerável e uma semana antes de subirmos a um palco pela primeira vez tivemos de cancelar tudo. Óbvio que compreendemos o estado das coisas e a ideia de cancelar tudo partiu de nós e da nossa editora (Raising Legends Records). Fizemo-lo porque a saúde de todos nós está em primeiro lugar e seriamos altamente irresponsáveis se levássemos o concerto adiante. Além do mais nem sequer havia mood para se fazer uma festa de lançamento de um disco, que é um ambiente que queremos que seja de festa e de confraternização. Certo é que com todo este cancelar de atividades se fossemos uma pequena empresa já tínhamos aberto falência.

Obviamente que teremos sempre que pensar positivo e que tentar planear o futuro por muito incerto que seja. Neste momento têm algo já definido ou ainda estão a aguardar que as coisas se tornem um pouco mais claras?

Temos vários planos para o futuro, mas repara que a incerteza da situação actual pode modificar tudo de um dia para o outro. Todos nós estamos a navegar em águas desconhecidas. Todos os concertos que tínhamos até ao verão foram adiados ou cancelados, felizmente que boa parte dessas datas serão remarcadas para 2021 e faremos parte desses cartazes. Além disso estamos a tentar agendar o máximo possível de datas para o próximo ano e continuamos a promover o disco ainda que de forma mais digital e através da imprensa especializada. Mas uma coisa é certa, e deixo aqui a garantia que, haverá uma festa de “lançamento” do “Coma”, onde vamos podemos celebrar este disco com todos os nossos amigos. Estamos a trabalhar junto com o André Matos da nossa editora para em breve revelar mais coisas acerca dessa festa.

Tendo esta pausa forçada, será que conseguiram começar já a pensar em música nova, ou ainda precisam de tirar “Coma” do vosso sistema? Pergunto isto porque teria muita curiosidade em saber como é que seria o trabalho seguinte e que barreiras iriam deitar abaixo desta vez.

Antes de tudo queremos rodar o “Coma” ao vivo e sentir as músicas em conjunto com o público. Ainda não sabemos que temas resultam melhor em concerto e estamos muito curiosos para o fazer. Mas aproveitámos esta quarentena também para criar e temos muita música nova na gaveta, só que ainda num estado muito embrionário. Felizmente todos nós temos equipamento que nos permite compor em casa e lançámos um desafio interno de criarmos novas coisas para que tenhamos novo material para trabalhar quando nos reunirmos com a intenção de escrever um outro disco, só que ainda é muito cedo para sabermos o que vai sair dali.

Esta é uma altura dramática para muitas bandas, muitos promotores, muitas salas de espectáculo e, muitas vezes esquecidos, todos aqueles que trabalham na parte técnica, fundamental à realização de qualquer concerto. Com a notícia dos festivais proibidos (com algumas excepções que ainda não percebemos a sua razão de ser, mas adiante) até 30 de Setembro, qual a tua perspectiva ou antevisão para que as coisas possam voltar ao normal? Ou será que tão cedo não haverá normal?

Na minha opinião tão cedo não haverá normalidade. Acho que essa dita normalidade só irá chegar quando houver um tratamento altamente eficaz ou uma vacina para a covid-19. Concordo com o cancelamento dos festivais, mas acho que deveriam ser todos cancelados e não haver nenhum tipo de excepção. Mas antes de pensarmos na normalidade temos de nos habituar a viver com o vírus e concentrarmo-nos em arranjar soluções para que bandas, promotores, salas de espectáculo e todos aqueles que trabalham na parte técnica, consigam superar esta crise com dignidade e sem estarem com a corda na garganta. Aqui compete às entidades governamentais olhar para o sector e dar uma ajuda séria aos mais necessitados. Reparemos que este foi o primeiro sector a fechar e certamente será o último a retomar a sua actividade e temos muita gente neste meio a viver de um trabalho muitas vezes ocasional e sazonal. Este verão mais de 95% dos eventos que envolvem a indústria musical não se vão realizar. Deixo esta pergunta às entidades competentes: Como é que algumas pessoas desta indústria vão conseguir meter comida na mesa?

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