WOM Perfil – Gerrit Dries – Especial H.O.S.T
Gerrit Dries é o vocalista dos H.O.S.T e é precisamente com o frontman holandês a residir no Porto que encerramos esta série de artigos dedicada à banda nacional, com uma interessante conversa que nos dá uma perspectiva aprofundada do seu percurso e do impacto da sua música na sua vida. por Rosa Soares / Fotos por João Fitas.
Como é que descobriste esse teu talento para a música e para cantar?
Desde que me lembro, tive sempre um bom ouvido musical. As funções dos sistemas de melodia, harmonia e ritmo, acho que sempre foi algo natural para mim. Como uma segunda língua, de certa forma. Na minha adolescência descobri que também tinha voz para cantar. Comecei com músicas dos Nirvana e dos Oasis e assim, e apercebi-me que a minha voz tinha sucesso pelo feedback do público. E também porque de repente havia meninas a reparar em mim (risos).
Quais as tuas principais influências musicais?
Como ouvinte, como fã, mas também como compositor, gosto de muita coisa, fora e dentro do género de metal/rock. Enquanto vocalista dos H.O.S.T, algumas das minhas maiores inspirações dentro do que considerava ser a onda da banda, são Dio, Jorn Lande, Russell Allen, Bruce Dickinson, Warrel Dane, Daniel Gildenlöw, Mikael Åkerfeldt, e Freddie Mercury.
Um resumo do teu percurso musical.
Quando era miúdo, a crescer numa aldeia holandesa, os meus pais investiram bastante na minha educação musical. A guitarra veio mais tarde, quando tinha 14 anos. Foi quando descobri música rock e metal, e comecei a formar as minhas primeiras bandas. Também comecei a cantar, embora sempre me considerava mais guitarrista. Sempre com uma perna no metal, toquei também em bandas de grunge, punk/hardcore e metalcore. Com os If I Knew editamos o nosso primeiro EP oficial. Explorava também cada vez mais o meu interesse em outros géneros, desde música clássica e jazz até rap e música electrónica. De tudo, mesmo.
Comecei a estudar musicologia, mas sem completar eu troquei de curso para composição e produção musical. Foi uma altura em que tinha a oportunidade de experimentar com tudo e mais alguma coisa, desde música para dança contemporânea até música interactiva para videojogos. E música de guitarra ecléctica e humorística num duo que se chamava Gypsy Dwarves On Crack. Mudei-me para Portugal em 2007. A família e o trabalho deixaram-me com menos tempo para a música. No entanto, cantar e ser frontman de uma banda de metal já era um sonho meu há muito tempo. E ainda cheguei a ter a minha estreia neste papel, numa banda chamada Forcefield, que se acabou por desintegrar sem ter saído da sala de ensaio. Mais tarde, com um amigo Italiano, criei The Immigrants, numa onda mais acústica e grungy, e acabamos por editar o EP Songs For The Way Home em 2013. Depois o meu colega voltou para viver na Itália, e a minha vida musical ficou novamente mais parada. Isso é, até conhecer a Vera e depois o Augusto, com quem me ia juntar pouco mais tarde nos H.O.S.T.
Vives no Porto há mais de uma década e és vocalista dos H.O.S.T há dois anos. Conta-nos como foi o teu percurso musical até chegares aos H.O.S.T
Desde que me tinha mudado para Portugal, sempre queria voltar a ser parte de uma banda. Uma banda de metal, para fazer música não muito complicada, mas boa e sincera. E para ganhar mais experiência nos palcos. O problema é que, não conhecendo muita gente e ainda menos músicos, nunca sabia bem onde começar. Isso mudou quando conheci a Vera como colega de trabalho. Ela tocava na altura nos Head:Stoned, já com o Augusto, e quando o Victor – o vocalista deles – decidiu deixar a banda, ela é que me convidou para fazer uma audição para vocalista. Acabou por não resultar, e por ser o fim dos Head:Stoned, mas o contacto tinha sido estabelecido, e não demorou muito para o Augusto me contactar novamente, para fazer parte de uma nova iniciativa. Apesar que não me faltava voz, ou ideias do que gostava de fazer, estava ainda a faltar alguma experiência e know-how para aproveitar ao máximo e para não dar logo cabo das minhas cordas vocais. Por isso entrei em contacto com o Jorge Marques dos Tarântula, um pioneiro com uma riqueza fonte de experiência na área em Portugal, quem me ajudou imenso com isso, especialmente na altura das gravações do nosso EP Bastard Of The Fallen Thrones, e sobretudo na música Catharsis By Carnage. The rest is HOSTory, as they say.
Quais as principais diferenças entre Portugal e a Holanda, no que respeita à música, em especial o Metal?
No primeiro lugar, há muito em comum. Tanto em Portugal como na Holanda, no verdadeiro underground do metal o trabalho é feito por vontade e paixão, e há uma grande mentalidade do-it-yourself. Talvez na Holanda a probabilidade de sobrar algum dinheiro para uma banda ao fim da noite é maior, mas tanto lá como cá bandas nem sempre conseguem compensação pelas despesas quando tocam ao vivo. Mas também há diferenças, claro. Imagino que na Holanda é mais fácil desenvolver-se como banda, como as pessoas em média têm mais recursos financeiros, possibilitando um maior investimento nos seus passatempos. Possivelmente têm mais tempo livre também. Falando em geral, a vida musical na Holanda é tudo mais profissionalizado e mais institucionalizado. Há mais pessoas que conseguem fazer uma carreira profissional na música em geral, no rock e no metal. O facto de existir um curso superior reconhecido de metal (não de “música ligeira” como nos conservatórios, nem sequer de rock, mas metal mesmo!) já quer dizer muita coisa, obviamente.
Como é que vês o panorama musical actual, no que respeita ao metal? Ainda há espaço para inovar, criar?
Espaço há sempre para quem tem realmente criatividade e paixão pela arte. E continua a haver inovação no metal. Não do tipo revolucionário talvez, mas a música evolui aos poucos a medida que também os tempos mudam. Pode ser difícil ver coisas realmente novas na superfície, mas quem procura nos sítios certos pode descobrir coisas fantásticas que são ahead of their time, e que fazem que esta evolução dá um salto a frente.
No entanto, a música não é apenas uma arte para mim, mas também uma forma de artesanato. Arte talvez implica mais um elemento original e inovador, enquanto artesanato tem mais a ver com sinceridade e qualidade de execução. O que quero dizer é que nem sempre é importante inovar, o que vale é ter um som de qualidade, feito por pessoas que têm jeito e também paixão pelo que fazem. Seja avant-garde ou mais derivativo, isso para mim é o mais importante.
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