Report

WOM Report – Artigo 21, Suspeitos do Costume, To All My Friends @ RCA Club, Lisboa – 02.03.19

Mais uma noite de festa no RCA Club mas esta era especial. Mais do que a celebração do lançamento do segundo álbum de originais dos Artigo 21, foi uma celebração da música portuguesa, por bandas portuguesas, frente a um público que apesar das inúmeras distracções e das inúmeras alternativas, com mais ou menos folia, compareceu para apoiar. Temos sempre várias formas de encarar as coisas (ou pelo menos duas, reduzindo à velha questão do copo meio cheio ou do copo meio vazio) no entanto, depois de uma noite de magia e de simbiose de três bandas e o seu público, o balanço é inevitavelmente positivo e até memorável.

No início confesso que, instantes antes de começar o concerto dos To All My Friends, temi que a adesão por parte do público estivesse à altura daquilo que o evento, as bandas e, principalmente, a sua música merecesse. Felizmente, os temores não se confirmaram e o público compareceu embora por esta altura, a sala ainda estava longe de estar composta. Ainda assim, com a energia que lhes é reconhecida, os To All My Friends atacaram com tudo com “Forever With You” a transmitir logo grande energia, energia bem contagiante, que animou logo os fãs em frente ao palco. O seu punk rock mais perto da sonoridade americana da década de noventa é sem dúvida uma bomba vitamínica capaz de acordar mortos – aliás, se alguma vez houver um apocalipse zombie, a culpa será provavelmente deles. Humildade e talento que sobressaíram em temas como “Complicated” e “Take My Hand” por parte de uma banda que cumpriu a sua função na perfeição.

Uma rápida mudança de palco e não muito tempo depois era a vez da banda de Odemira, Suspeitos do Costume, subir ao palco. A sala estava mais composta e a repor um pouco mais a justiça. A sonoridade da banda alentejana é algo diferente daquela que a tinha precedido, mais próxima do punk rock português – sendo inclusivamente cantada em português – mas o efeito positivo foi semelhante. Entrando com a intro da 2oth Century Fox com umas flautas desafinadas por cima, o que se seguiu foi uma autêntica lição de punk rock na forma de “Desemprego”, acutilante mensagem que não se fica atrás do poder da música. Rui Matos, vocalista e guitarrista dos Suspeitos do Costume, esteve sempre muito conversador e agradeceu não só aos Artigo 21 como também ao público presente (algo que aliás, os To All My Friends também fizeram). Referiu também a importância do apoio do público às bandas que lutam para continuar a lançar álbuns e a manter a cena punk nacional activa, isto antes de apresentar um tema novo, “Razão”, que estará presente no álbum que a banda está a gravar. Ainda houve tempo para duas surpresas, a versão de “Lisboa Menina e Moça” de Carlos do Carmo e de “Kaga Na Kultura”, dos Censurados. A terminar, “Remar Contra A Maré” hino da banda e retrato de real de muita coisa neste país.

Com uma intro digna de um disaster movie apocalíptico e com um ambiente a condizer, fruto de um ambiente de fumo tão denso como se estivéssemos em Londres e o Jack, o Estripador pudesse romper da névoa de navalha em riste, a expectativa era alta para receber os Artigo 21, a banda que naquela noite estava no centro das atenções, fruto do lançamento de “Ilusão”. “Ódio Não É Amor” foi o tema com que atacaram e garantiram logo (não que isso estivesse em causa) o apoio do público que entoou e cantou com Tiago Cardoso. Os temores atrás mencionados por esta altura já estavam mais que esquecidos, com o RCA bem composto e com o público a vibrar e a devolver para o palco toda a energia debitada. Seguiu-se “Ser Capaz”, também da estreia mas cedo se passou para os temas novos. Tiago referiu, quando se dirigiu ao público,  “viemos cá deitar a casa abaixo” e com estas palavras, o pano atrás que tinha a capa do álbum de estreia cai para dar lugar a outro que ilustrava a capa do novo trabalho, sendo precisamente o tema-título, que foi muito bem recebido por todos, apesar ainda de ser desconhecido para grande parte da assistência. Isso não diminuiu o impacto dos novos temas nem quebrou a fluidez do espectáculo.

Tiago ainda perguntou quantos é que já ouviu o disco no Spotify, confirmando a ideia atrás expressa, de que era o primeiro contacto que se tinha com os novos temas. E de seguida veio, mais dois, “Doutrina”, precisamente o tema de abertura, e “Só Mais Um Bocado”. Alternando entre os temas novos e os temas já conhecidos, os Artigo 21 não baixaram os níveis energéticos, sendo que os mesmos foram sempre correspondidos pelo público, também ele incansável. A atmosfera estava ao rubro, embora a uma certa altura a visibilidade fosse reduzida, com o nevoeiro quase palpável, como se uma pessoa se tratasse, uma pessoa que omnipresente em todo o recinto mas não havia nada que se colocasse no caminho da banda lisboeta. Tiago Cardoso partilhou com o público o desejo de conseguir ultrapassar a fasquia de 21 concertos dados na digressão do álbum de estreia em 2015. Um desejo completamente legítimo e merecido. O país pode ser pequeno mas a cena, estando presente e a apoiar os nossos valores, tem que se erguer e superar as nossas limitações geográficas. Pelo o que pudemos presenciar, nesta noite e em ocasiões anteriores, é mesmo algo merecido.

Sempre comunicador e divertido, Tiago espalhava o espírito que era ampliado ao resto da banda que transmitia alegria, ainda mais que o habitual, a cada música que era tocada. O vocalista ainda pediu desculpa pela voz, referindo estar doente – algo que não prejudicou em muito a sua prestação e como foi dito mais à frente, mesmo sem voz, acaba por soar melhor que outros saudáveis. “A Nossa Voz” soou assim ainda mais especial. A festa foi uma constante, havendo sempre um espaço vazio entre a primeira fila em frente ao palco e os que estavam mais atrás na sala. Os pedidos para que fosse ocupado não foram tidos em conta, o que motivou incursões de Daniel Hipólito, guitarrista ritmo, onde tocou enquanto aparecia em selfies que os fãs aproveitam para tirar. A festa contou ainda com a participação de  Covas Frazão, guitarrista dos Viralata que subiu ao palco para cantar junto a Tiago. Para o encore ficaram reservados mais dois temas novos, “O Que Somos” e “Sabe A Real”, sendo que, após agradecimentos à Infected Records, aos To All My Friends e Suspeitos do Costume e ao público que compareceu, chegou-se ao tema final, o inevitável o já hino da banda, “Espera Por Mim”, cantado em uníssono por um RCA Club unido num final apoteótico. Um exemplo e prova da solidez da cena nacional em geral e da cena punk em particular. Todas as dificuldades são superadas e/ou minimizadas  quando o apoio dos fãs e do público não falha.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Infected Records

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