Report

WOM Report – Comendatio Music Fest Dia 1 @ Paço da Comenda, Tomar – 21.06.25

O fim de semana de 21 e 22 de Junho, foi tempo para muitos fãs de música progressiva e sonoridades mais modernas do metal rumarem ao Paço da Comenda, para mais uma edição do Comendatio Music Fest que como vem sendo costume incluía um cartaz que só deixava antever coisas boas.

A abertura do festival coube aos Crimson Bridge, um dos vencedores da Batalha das Bandas do Comendatio. A banda de Almada encontra-se a preparar o novo trabalho e foi com “Down Into The Abyss” um dos novos singles, que deram início ao alinhamento. Com uma sonoridade onde o destaque vai para uma junção de death metal melódico e thrash com alguns elementos progressivos, não faltou velocidade e agressividade pautada por momentos de melodia, como é um bom exemplo o refrão do tema de abertura. Debaixo de um calor intenso, os Crimson Bridge deram mostras de uma grande entrega com bastante apoio dos bravos que fizeram questão de marcar presença desde o início, algo que o guitarrista e vocalista Renato Guerreiro fez questão de destacar. Mais um tema forte lançado como single foi “In the Ruins of a Dream”, com o primeiro álbum da banda a ser recuperado com temas como “Tragedy Befalls”, o momento mais melódico da atuação com tons épicos, e a potente “Apostasy” que fechou o concerto com muito headbang.

De seguida passaríamos ao metal industrial dos lisboetas Yokovich. Obrigados infelizmente a encurtar o set por uma questão técnica, a banda soube, no entanto aproveitar da melhor forma o tempo que tiveram. A apresentar o álbum de estreia, “Ubiquitous” de 2024, foram criando um ambiente frio e maquinal, característico de um bom som industrial. Músicas como “Pure Illusion” e “Dead Wall” lançaram o mote, com destaque para o som de guitarra denso e preciso que puxou pelo público. Um dos melhores temas foi o single “Burn”, dedicado ao pai do vocalista Jonas, e que adicionou uma dose de melodia ao som dos Yokovich, com um refrão memorável e grandioso. Para o fim ficariam “Uncontrollable” e “Volcanic” dois temas fortes e carregados de peso que terminaram uma atuação que foi uma excelente demonstração da qualidade da banda lisboeta.

O recinto ia ficando cada vez mais composto quando os Equaleft entraram em palco para dar uma verdadeira injeção de adrenalina ao festival com o seu groove metal. “Overcoming” deu início às hostilidades sendo desde logo bem palpável a intensa barragem sonora que emitia da dupla de guitarristas Veggy e Bernardo Malone sob o ritmo imparável do baterista Gaspar Ribeiro. A encabeçar o colectivo, o vocalista Miguel Inglês foi uma figura incansável que não parou ao longo do concerto e foi constantemente puxando pelo público, que correspondeu à chamada e foi mantendo um circle pit e muita animação. A apresentar o mais recente “Momentum”, ficaram destaques como “Wavering” ou “Endure” intercalados com temas mais antigos como “New False Horizons” ou “Fragments” com o seu riff monstruoso. Inglês acabaria por saltar para junto do público onde começou e participou num dos mais intensos circle pits da actuação, referindo “vamos, saltem, dancem, divirtam-se”, que na realidade é um bom resumo de toda a atitude e ambiente deste concerto, uma verdadeira festa do peso. Em “And It Will Thrive” a banda conseguiu colocar todos os presentes a saltar, com um riff poderoso que puxa mesmo o headbang. A prestação dos Equaleft chegaria ao fim com “We Defy”, e a típica distribuição de bolachas húngaras que sempre ajuda a recuperar energia depois do momento intenso proporcionado pelo quarteto portuense.

De seguida estava reservado aquele que seria um dos mais surpreendentes e melhores concertos deste primeiro dia com os espanhóis Killus. Vindo de uma sonoridade Industrial onde as comparações mais óbvias seriam nomes como Ministry, OOMPH! ou Marilyn Manson, e um visual macabro e negro a buscar elementos de freak show. Foi logo com o tema de abertura “Skeletons of Society” que a banda mostrou que nos aguardava um bom bocado. Não foi apenas no visual que a banda mostrou irreverência, mantendo um nível de energia em palco invejável ao longo de todo o concerto, e grande interação entre a banda e o público sendo o baixista Premutoxx o maior espalha brasas. Um dos bons momentos de interação seria quando Premutoxx e o guitarrista Ruk, foram para o meio do público e iniciaram um circle pit em que o público circulava a volta deles enquanto eles davam início à música tocando frente a frente. Outro elemento a merecer um grande destaque foi o vocalista Javi que esteve muito bem no papel de frontman e demonstrou ter uma excelente voz, tendo como melhor exemplo a prestação em “Paralyzed”, o tema mais melódico e emocional de todo o set. Entre temas a destacar e que puseram o público a mexer como “Hypocrisy”, “Ultrazombies” e “Feel The Monster”, a banda espanhola terminou o concerto de forma divertida com uma cover de “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)” dos ABBA, com Javi a descer do palco e a cantar junto do público.

Os The Cost são uma banda recente que lançaram este ano o álbum de estreia, mas que gozaram imediatamente de uma especial atenção não fosse esta a banda de um dos mais populares bateristas da atualidade, El Estepario Siberiano. A adicionar ao interesse, este seria um momento particularmente especial visto que seria o primeiro concerto de sempre da banda. Seguindo uma sonoridade de metal alternativo, com muito peso, repleto de riffs e melodias vocais que ficam na cabeça muito facilmente, a banda começou a apresentar o trabalho de estreia com “Into The Drone”. Seguiu-se “Counting Every Dime”, “Her Eyes” um dos singles retirados de “Doppler Affection” que contou com a participação de Serj Tankian na versão de estúdio, e que funciona como um manifesto anti-guerra. Mais tarde existiria outro tema com significado, “Floods”, que se refere à tragédia das cheias em Valência. A banda teve uma boa prestação e mostrou-se coesa, onde se destacou o trabalho de bateria, e a boa prestação vocal de Peter Connolly. Entre os destaques musicais ficariam a pesada “One of a Kind”,e, um dos melhores temas do álbum, “Not For Me” que encerraria o concerto. Pode dizer-se que a estreia dos The Cost foi um sucesso, mas disso até nem existiam dúvidas tendo em conta os músicos que compõem a banda.

Os britânicos Oceans Ate Alaska trouxeram ao palco do Comendatio, metalcore carregado de agressividade e alguma melodia à mistura. A banda procurou desde logo em “Metamorph” mostrar uma postura energética e puxar pelo público, que por sua vez respondeu com circle pits e muito moche. O novo vocalista da banda Joel Heywood foi incansável, e o verdadeiro mestre de cerimônias desta sessão de peso. Ao longo da noite esteve constantemente a pedir movimento e em temas como “New Dawn” ou “Dead Behind the Eyes” o público do Comendatio fez questão de o mostrar vigorosamente ajudando, e muito, à festa. Já em “Benzaiten” o vocalista saltou do palco para o fosso indo até as grades para cantar junto dos fãs. A música dos Oceans Ate Alaska foi sempre pautada por momentos de agressividade extrema, intercalados com outros de vocalizações limpas, melódicas e com um tom de vulnerabilidade (que nem sempre saíram bem), juntamente com elementos eletrônicos. A torrente sonora foi-se fazendo também com temas como “Covert” e “Hansha”. No fim a banda viria-se a despedir com “Escapist”.

Com o dia a chegar ao fim era hora de receber o cabeça de cartaz do primeiro dia, Ihsahn, mentor dos míticos Emperor, que ao longo da carreira a solo tem experimentado com várias sonoridades diferentes, em particular entrando em terrenos progressivos, mas mantendo sempre o travo a Black Metal. A proposta mais recente, é o álbum auto-intitulado lançado no ano passado que traz um ambiente mais orquestral. Foi precisamente com um trio de músicas desse álbum que abriu o concerto. “The Promethean Spark”, “Pilgrimage to Oblivion” e “Twice Born” pintaram as ondas sonoras do Comendátio com um ambiente grandioso, negro e com alguns momentos bombásticos. Depois de uma passagem pelo excelente “Arktis” com “My Heart Is Of The North”, passaríamos a outro dos destaques da noite, o regresso às origens musicais que representou o lançamento do EP “Telemark”. Depois de um dia bastante quente os temas em norueguês “Stridig” e “Nord” com o seu regresso ao black metal evocaram o frio das florestas norueguesas, tal como aconteceria mais tarde com a própria “Telemark”, tema inspirado pelo folk noruegues. E como as origens também incluem a música que nos inspira, foi agradavelmente surpreendente ouvir um par de covers, “Rock and Roll Is Dead” de Lenny Kravitz, e o clássico de Iron Maiden, “Wrathchild”.

Comunicativo, e sempre com um tom calmo e simpático, Ihsahn foi falando com o público entre pausas, e foi sempre uma presença serena e magnética ao mesmo tempo. Depois da roqueira “Until I Too Dissolve”, e o tom mais negro de “Lend Me The Eyes of Millennia”, o concerto terminaria com mais uma passagem pelo album auto-intitulado com “The Distance Between Us” e “A Taste of the Ambrosia”. A boa qualidade de som que existiu ao longo do concerto permitiu apreciar plenamente os temas mais orquestrais, e uma prestação da banda que foi de grande qualidade. O público acolhedor, preso ao palco, ajudou também a criar um óptimo ambiente, num grande concerto, e uma excelente forma de terminar este primeiro dia.

Texto por Filipe Ferreira
Fotos por Filipa Nunes
Agradecimentos Mónica Moreira & Comendatio Music Fest


 

Support World Of Metal
Become a Patron!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.