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WOM Report – Equaleft, Legacy Of Cynthia, Sollar, Impera @ RCA Club, Lisboa – 22.03.29

Celebração. Talvez este seja o melhor termo para descrever a noite do RCA Club onde se apresentaram quatro propostas algo diferentes entre si mas que sem dúvida são um retrato fiel da riqueza do nosso underground. O evento era a festa de lançamento do segundo álbum dos Equaleft, o excelente “We Defy” e para fazer dessa festa ainda maior, juntaram-se os Legacy Of Cynthia, os Sollar e os Impera.

Foi precisamente estes últimos, Impera, que deram início às hostilidades. Com uma energia muito própria e quase inesgotável, a banda lisboeta é sempre uma força a considerar principalmente em cima do palco. A primeira de duas bandas que passaram pelas páginas do nosso Garage World apresentou-se com o alinhamento alterado desde da última vez que os vimos no Vagos Metal Fest, no formato de quarteto. Entram em palco com a energia toda que lhes é característica, com Gustavo Reis a pedir para o público se chegar à frente.

O foco foi o seu álbum de estreia onde temas como “Lights” e a sequência “Lebensraum: Scorch” e “Lebensraum: Sow” brilharam especialmente. Aliás, os primeiros temas foram de rajada e a prestação de Gustavo, como sempre, impressionante, com um grande pulmão e garganta. Ainda se teve o direito a conhecer um novo tema, antes de se terminar com a inevitável “Weightless”, tema-título do álbum de estreia. Com menos um guitarrista mas com o mesmo poder de sempre, uma banda que é sempre um prazer rever.

Também pelas páginas do Garage World passaram os Sollar, a banda do Porto que subiu ao palco do RCA Club pela primeira vez. E que estreia. Já sabíamos que esta era uma banda talentosa, com o excelente álbum de estreia que lançaram, “Translucent”, um das grandes estreias discográficas deste ano, definitivamente. No entanto, nunca esperaríamos que tivessem um impacto tão positivo e que as músicas fossem materializadas de forma tão perfeita como foram. Não é uma questão de interpretar as músicas gravadas em disco, é uma forma de as tornar ainda mais vivas. E desde a entrada majestosa com “Birth”, onde a voz de Mariana Azevedo se destacou logo, que ficámos todos rendidos.

Algures entre o rock e metal alternativo e/ou progressivo, músicas como “Primal” e “Seed” são grandes destaques mas o momento alto foi mesmo na emocional “Naked” que culminou com uma dança de grande impacto visual por parte de Mariana com uma componente cénica memorável. a ser um bom complemento à música. Para o final, uma empolgante “Royal Flush” e o nosso desejo de os ver tanto neste como noutros palcos, um dos grandes novos valores da música de peso nacional.

Quem já não tem nada a provar são os Legacy Of Cynthia. Menos de uma semana de os termos visto no Cine-Incrível Alma Danada, em Almada, aqui estávamos todos de volta para mais uma dose do seu metal alternativo/progressivo muito peculiar e também muito especial. Desta vez num alinhamento mais curto mas ainda assim, sempre com algumas diferenças. A começar pela forma como Petter Miller entrou em palco, na já tradicional “Gnosis”, com uns óculos com lâmpadas led que dava um excelente impacto visual. Miller agradeceu a presença de todos e que estavam ali para apoiar os irmãos Equaleft, um sentimento de irmandade que era espelhado por todas as bandas que subiram ao palco e que nos dá esperança em relação à nossa cena.

O público pode nem sempre aparecer como se desejaria, os poderes vigentes podem ignorar a existência da música, mas existe irmandade e aqueles que estão sempre presentes. A esses, soube especialmente bem ouvir novamente temas como “Darwinian” e “Rats and Rattlesnakes” e ver como a banda é um dínamo em palco não parando de um lado para o outro, principalmente Caesar, baixista, e o próprio Miller que mais uma vez pediu desculpa por estar com os movimentos presos devido ter partido a perna alguns meses atrás. Mais uma vez afirmamos… não se notou nada. Ouvimos também novamente o novo tema “Monster”, cujo vídeo foi lançado recentemente (poderão conferí-lo aqui). O final viria com “Cabaret”, já um hino que encerrou na perfeição uma grande actuação.

Os soundchecks foram demorados, mas tendo em conta a qualidade sonora que todas as bandas tiveram direito, é algo que ninguém se queixou embora a hora realmente estivesse adiantada e isso tenha provocado que alguns tivessem acabado por não ficar até ao final. Foi pena porque perderam efectivamente uma das grandes bandas no nosso underground a celebrar um regresso mais que aguardado aos discos e que resultou num dos grandes destaques  e melhores álbuns de 2019 (seguramente, ainda estamos no primeiro trimestre mas marquem as nossas palavras). Dizer que a banda entrou com tudo é eufemismo já que estamos a falar dos Equaleft, certo?

Mas efectivamente a sequência inicial de temas que correspondia também ao alinhamento de “We Defy” – “Before Sunrise”, “Once Upon a Failure” e o tema-título – soaram-nos poderosos, ainda mais que em disco – o que é suficiente para rebentar a escala. Logo nesta primeira abordagem verificámos que a banda estava apostada em exibir o seu mais recente trabalho, demonstrando a confiança pelo produto que tinham na mão mas também inteligência… por saberem o produto que tinham na mão. E o público presente reagiu muito bem aos novos temas que iam sendo apresentados, revelando também já uma rodagem nos mesmos. Quando o material é bom, torna-se mais fácil de interiorizar as coisas novas.

No entanto também foram introduzidos clássicos no meio (assim como a ordem do disco foi alterada) de forma a manter as coisas menos previsíveis, uma escolha sábia. “New False Horizons” foi a primeira incursão ao “Adapt & Survive” de 2014, sendo que os seguintes foram “Tremble” e “Maniac” que foram sendo intercalados com as novas “Mindset”, “Endless” e “Strive”. A banda sempre foi coesa, mas essa coesão é por demais evidente nestes novos temas, onde temos que destacar obviamente a forma como André Matos se integrou na posição de novo baixista. E já que estamos a falar de ritmo, terei que partilhar o poder que Marco Duarte imprime na bateria. Um espectáculo aparte que se tornava quase hipnótico – engraçado ter sido abordado por espectador que me disse o quão impressionante era vê-lo a tocar. Não temos como discordar.

Claro que as oito cordas de Bernardo Malone e Miguel Martins estiveram na perfeição na criação de todas as tapeçarias sonoras que vão desde o peso bruto até às ambiências quase atmosféricas. E, obviamente, Miguel Inglês, enorme frontman que é sempre um exemplo a seguir no que diz respeito à difícil arte de agarrar um público E não falhar com a actuação. Depois do álbum todo tocado, ainda houve oportunidade numa espécie de encore, ouvir a clássica “Invigorate”, onde também subiu ao palco Marco Fresco dos Tales For The Unspoken, a acrescentar ainda mais potência a um dos temas mais brutos dos Equaleft. Uma noite especial que encheu o coração de todos os presentes e depois ainda teve direito a um conforto no estômago, com os míticos húngaros que foram distribuídos por Miguel Inglês. O nosso underground poderá enfrentar muitos problemas e desafios mas com bandas destas, com esta união e com este apoio por parte do público, tudo se conseguirá ultrapassar.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Miguel Inglês & Equaleft, Raising Legends, Raging Planet


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