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WOM Report – Ghost, All Them Witches, Tribulation @ Altice Arena, Sala Tejo – 10.12.19

Quando vieram pela primeira vez a Portugal em 2015, os Ghost fizeram datas no Hard Club no Porto, e encheram o Paradise Garage em Lisboa. É bem visível o crescimento da banda nos últimos quatro anos quando agora esgotaram facilmente a Sala Tejo. A acompanhar os Ghost nesta quarta visita ao nosso país, vieram os Tribulation e os All Them Witches.

Um palco mergulhado numa luz verde onde era queimado incenso preparava-se para receber os suecos Tribulation, que entraram com “Nightbound” do mais recente trabalho “Down Below” e “Melancholia” de “The Children of the Night” os dois álbuns de onde sairiam todas as músicas da setlist. Tal como o cabeça de cartaz da noite os Tribulation também apostam forte na componente visual, entre as pinturas dos vários elementos, o fumo e as sombras em palco a banda foi capaz de criar um ambiente verdadeiramente fantasmagórico. Destaque para o guitarrista Jonathan Hultén que veste como ninguém a personagem, não só pelo figurino, mas pela forma como toca e como se mexe em palco quase como se ondulasse por entre a penumbra. A atitude da banda foi dizendo mais do que as poucas palavras que foram sendo ditas, existindo apenas uma pausa para apresentar a banda e lançar uma dose tripla de músicas do último álbum como “The Lament”, “The World” e “Cries From the Underworld”. Não sendo claro se muita gente já conhecia o quarteto sueco ou não, o que ficou patente é que rapidamente foram capazes de agarrar o público, não faltando apoio e aplausos numa sala que se encontrava muito bem preenchida. Para o fim ficaram duas excelentes malhas de “The Children of the Night”, “The Motherhood of God” e “Strange Gateways Beckon”. Os Tribulation têm chamado a atenção com os últimos trabalhos que têm lançado, onde vigora uma mistura bem interessante entre black metal, heavy metal tradicional e rock gótico, e deixaram aqui bem visível a sua qualidade num grande concerto.

Numa sonoridade completamente diferente chegaram os rockers do Tennessee,  All Them Witches mostrando bem ao que vinham com “Funeral For A Great Drunken Bird”. O som do trio poderia ser caracterizado algures na área do Stoner Rock, com alguns toques de blues e com algumas influências de Black Sabbath (não por acaso entraram ao som de “War Pigs”). O tom era intenso e de peso mas mais reservado, fruto de temas como “3-5-7”, “Workhorse”, “Diamond” ou “Blood And Sand / Milk And Endless Waters”, ocasionalmente cortados por temas mais rock and roll como “Charles William” ou “When God Comes Back”. Uma banda sólida que esteve muito bem, e acaba por ter um som bem mais pesado ao vivo que em álbum, e cuja melhor parte foi claramente o guitarrista Ben McLeod que esteve imparável em todo o concerto e brindou o público com excelentes solos. Público esteve mais quieto quando comparado com o concerto anterior, mas que mostrava muito claramente que estava a apreciar a prestação da banda americana. Para terminar ficou “Swallowed by the Sea”, num concerto com um som que poderia não ser o mais óbvio para anteceder os Ghost, mas que teve uma enorme qualidade, reconhecida por uma Sala Tejo já cheia.

Era grande a expectativa para a entrada dos Ghost em palco, agora tapado com um pano preto que pendia do tecto. A espera terminou quando se começou a ouvir “Ashes” na Sala Tejo, com o pano a cair e a revelar os Nameless Ghouls, ao que se seguiu “Rats”, com a entrada do Cardeal Copia recebido numa verdadeira apoteose, quase como se o público tivesse estado a borbulhar até explodir naquele momento. Aproveitando a alta energia que se fazia sentir seguiram-se “Absolution” e “Faith”, a música mais pesada do mais recente “Prequelle”. Com a sala devidamente aquecida depois de uma entrada com do melhor que o Cardeal Copia e os Ghouls têm de oferecer, seguiu-se uma breve nota de boas vindas a todos os presentes e com Copia a afirmar “we are going to sing a song that papa used to sing”, estava dada a apresentação para a primeira musica do novo EP “Seven Inches of Satanic Panic” com “Mary On A Cross” que soou estranhamente pesada ao vivo e causou uma impressão muito melhor que a versão de estúdio. Seguiu-se “Devil Church” aqui a conter uma batalha de solos entre dois Ghouls guitarristas com humor a mistura, e que incluiu uma homenagem a Marie Fredriksson, a vocalista dos Roxette falecida nesse dia, quando num dos solos foi incluída a melodia de “It Must Have Been Love”.

A excelente “Cirice” trouxe mais um momento de peso, mas foi seguida pelo instrumental “Miasma” que tem como ponto alto a chegada de Papa Nil e o seu saxofone. O tom mais humorístico prosseguiu quando Copia entrou no palco em cima de um triciclo para apresentar “Guleh / Zombie Queen”, e uma versão curta de outro instrumental “Helvetesfönster”. Pode dizer-se que foi uma fase do concerto mais light depois da energia inicial, mas não se pode dizer que haja alguma coisa num concerto de Ghost que não seja eficaz. Voltando a “Meliora”, curiosamente o álbum mais tocado da setlist, foi a vez de “Spirit” e “From The Pinnacle To The Pit”, para de seguida voltarmos ao início da década que agora acaba em “Ritual” e “Satan Prayer” do primeiro álbum da banda. Já “Year Zero” pela reacção do público foi uma das preferidas da noite. Quase já obrigatório é o momento de harmonia satanista em “He Is”, bem como a chuva de confetis e notas com a cara do Papa Emeritus no fim de “Mummy Dust”. Enquanto se limpava o palco de todos os confetis foi a vez de Cardeal Copia voltar a palco para mais um bocado de conversa, sempre um dos pontos fortes de uma banda que verdadeiramente faz questão de dar um excelente espectáculo e de criar uma ligação com o público.  A sequência final acabou por ser bastante forte com três musicas que facilmente põem uma sala a cantar, “Kiss The Go-Goat”, “Dance Macabre” que mereceu luzes disco, e a fantástica “Square Hammer” como que o clímax de mais uma missa negra dos Ghost em Lisboa.

Em comparação com a anterior visita à Sala Tejo notou-se o crescimento da banda, o palco era um pouco maior, existem mais dois Nameless Ghouls, mais mudanças de vestuário para o Cardeal Copia e foram adicionados mais alguns momentos “teatrais” ao espectáculo. O que se manteve igual foi a alta qualidade do concerto como tem sido sempre ao longo da carreira da banda. Esta foi mais uma vez a demonstração que no que toca em espectáculos ao vivo, os Ghost são uma das bandas obrigatórias da actualidade.

Texto por Filipe Ferreira
Agradecimentos Prime Artists & Livecom


 

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