WOM Report – Godspeed You! Black Emperor, Light Conductor @ Lisboa Ao Vivo, Lisboa – 09.11.19
Uma noite diferente no Lisboa Ao Vivo. Diferente após apenas vinte e quatro horas da destruição metálica no RCA Club, no entanto não se pense que este é um evento que carecia de interesse pela comunidade de peso. Muito pelo contrário, afinal estávamos a falar da visita ao nosso país por parte de um colectivo que ajudou a popularizar o drone que tão bem acolhido foi pelos fãs de peso mais experimental, embora o drone em si fosse apenas uma consequência das experimentações com outros géneros como o pós-rock ou o ambient. Todavia já há muito tempo que a melhor forma de definir GY!BE passa por apenas referir o seu nome, cuja fama passou muito para lá do nosso mundo do metal, como pudemos comprovar num LAV completamente à pinha.
A noite começaria com os Light Conductor, projecto formado pelo duo Jace Lasek e Stephen Ramsay, que tem como principal objectivo explorar as nuances da música electrónica com o ambient e o drone. Mais particularidade tem o facto do material usado para fazer a sua música ser composto por equipamento que estava avariado e que os próprios músicos recuperaram. Old school vintage stuff. O duo lançou recentemente o seu álbum de estreia “Sequence One” e foi nele que se apoiaram para a sua actuação, com a ajuda de um membro extra em palco que ajudou nas modelações sónicas.
É impreciso dizer que “Sequence One” foi tocado na íntegra porque embora o dito álbum seja sem dúvida a referência para aquilo que pudemos ouvir no LAV, também há muito de improviso, de sentir o momento, de puxar mais por esta ou mais nuance. A fusão entre o ambient, quase chill out, foi-se metamorfoseando, adquirindo aspectos mais agressivos, onde a dupla afasta-se dos sintetizadores e puxa das guitarras para adicionar um pouco de distorção lo-fi, e aumentando ainda mais a intensidade do imenso drone criado. No final, após uma única peça com cerca de quarenta e cinco minutos, a aclamação foi inevitável. E merecida.
Se durante a actuação dos Light Conductor e a preparação para a chegada dos GY!BE continuavam a chegar pessoas, assim que começou o espectáculo, já o público estava bem compacto – o que também nos deixa vontade de deixar a nota: se ja é imbecil fumar em espaços fechados onde é proibido tal, mais imbecil é fazê-lo num espaço fechado, esgotado, onde até o ar ameaçava faltar. Assim que a considerável trupe começa a entrar no palco dominado por instrumentos, pedais, amplificadores e colunas, as palmas começaram-se a fazer ouvir. A atmosfera criada era única e ainda mal tinha começado. A banda ia entrando aos poucos e adicionando camadas aos poucos sobre o som criado por Sophie Trudeau no violino e Thierry Amarno no violoncelo, construindo assim a primeira peça da noite, “Hope Drone”.
Descrever algo como um concerto dos GY!BE é o mesmo que tentar descrever a beleza da neblina matinal a descer as montanhas até um vale ídilico que normalmente só existe na nossa imaginação. Assim é igualmente infrutífero descrever “Hope Drone”, um tema que a banda tem vindo a tocar há vários anos, sempre como abertura, e que vai sofrendo mutações ao longo dos anos. Aquilo que pudemos ouvir foi magistral, sendo que essa seria também a expectativa geral, totalmente cumprida. “Anthem For No State” do mais recente “Luciferian Towers” foi o primeiro ponto familiar para os fãs, um autêntico crescendo de emoções, com diversas nuances que fazem com o que tudo ganhe muito mais dinâmica, indo para paragens mais distantes mas depois voltando ao ponto inícial.
Esta tende a ser a fórmula da banda e de todo o género, mas conseguem sempre surpreender e emocionar pela forma visceral como o fazem. O duplo ataque das guitarras, da percussão (com duas baterias, uma delas mais simples onde Timothy Herzog e Aidan Girt iam alternando as posições), das cordas clássicas ( os já mencionados Sophie Trudeau e Thierry Amarno, este último alternando depois com o baixo electrico) e de baixos (quando Mauro Pezzente, membro fundador colocado no centro do palco, e o já referido Amarno se encontravam com o mesmo instrumento) fez com que por vezes o peso fosse avassalador. Principalmente na sequência final que revisitou o mítico primeiro EP da banda, “Slow Riot for New Zero Kanada”, com os temas “Moya” e “BBF3” a serem um culminar de emoções intensas.
Perfeição é se calhar uma palavra desajustada para descrever o concerto, até porque dá ideia de algo que foi ensaiado e reproduzido de forma previamente decidida, quando o que temos é quase o poosto. E nesse sentido, “Glacier” e “Cliff” dois temas tocados pela banda nesta digressão e que ainda não registou em estúdio – os registos existentes são “bootlegs”, que a banda até incentiva os fãs a fazerem. Um espírito diferente daquele que existe na música actualmente. O laboratório é o palco que os fãs têm a sorte de estar presentes, noite após noite. Tal como todos os (muitos) presentes no LAV, numa noite fria de Novembro, tiveram.
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Amplificasom
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