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WOM Report – Hochiminh – “Roadtrip To Hell”

Na sequência do acompanhamento que a World Of Metal tem dado aos HochiminH, desde o anúncio do lançamento do álbum “This Is Hell”, que saiu no passado mês de Janeiro, aguardava-se com expectativa o lançamento do mesmo em ambiente de concerto ao vivo. Contra todas as probabilidades e, numa altura delicada, com tantas restrições e confinamentos involuntários, que tanto nos têm estragado os planos neste ano de 2021, a banda conseguiu programar não um, mas três concertos de lançamento. Calhou na lotaria Faro, Beja e, com o selo da Circuito Lisboa, em conjunto com o RCA Club, Lisboa.

Naturalmente, e como término desta odisseia de quase três anos, vislumbrou-se efetuar aquilo que eu carinhosamente apelidei de “Roadtrip To Hell”.  Planos feitos, datas marcadas, viagens preparadas e, no passado dia 11 de junho, eu, em colaboração com a World Of Metal, desci em direção ao nosso Hellgarve, com a convicção de que iria assistir a três excelentes concertos, em ambientes diferentes e com públicos diferentes. Agora, peço-vos, ponham o “This Is Hell” a correr aí no vosso aparelho, vão buscar uns snacks, sentem-se confortáveis e venham comigo por uns breves momentos nesta “roadtrip”, que será a última que faço, (com webzines), para documentar e registar, ao vivo, esta banda que, desde o primeiro dia nunca cessou de me surpreender e de me cativar a atenção, e à qual sempre dei, sem reservas e contrapartidas, a minha dedicação.

Dia 11 de Junho, cheguei a Faro, à Associação Recreativa e Cultural de Músicos, que, nestes tempos terríveis desta pandemia e que tanto tem afetado o sector da cultura, se mostram resilientes e que, mesmo com dificuldades, têm conseguido dar espaço às bandas para virem tocar e assim dinamizar o local. Mais uma vez, agradecida pela permissão em fotografar livremente, desde que mantidas as condições de segurança.  Local bem seguro, com todos os predicados, muito bom para as bandas tocarem. O concerto foi na Sala Morcego, que foi renovada. Ora, dado ter muito que contar dos três dias, vou ser o mais sucinta possível e dar destaque aos momentos que me chamaram mais à atenção.

Com as luzes intermitentes, começou por se escutar a nova introdução para o “ao vivo” do tema que se tornou o tema da abertura, o “Let Them Suffer”. A banda entra em palco e todos se colocam nas suas posições e logo ali temos o primeiro vislumbre da “fome” de palco que traziam, com mais de um ano parados. Skatro, o vocalista, salta para cima de uma estrutura que colocaram na frente do palco e, com o seu humor, mete-se com o público: “tá tudo sentadinho?”, e, dizendo isto, anda aos pulos pela estrutura, e assim começaram a apresentação, na íntegra, do álbum. Este tema tem muita fúria subjacente no seu som e não desiludiram. O concerto foi decorrendo de forma natural, não havendo aqui e ali nada de assinalar que se destacasse muito, dado a banda estar em contrarrelógio devido aos horários.  Os temas não foram tocados em sequência, mas, os HochiminH, mesmo assim, ainda conseguiram encaixar os quatro temas do EP “Ashes”. Pelo meio do concerto, tempo para agradecerem à ARCM Faro e ao público o apoio e a presença, mesmo que numas condições consideradas não ideais para a malta do metal, que tanto gosta do mosh.

A banda agradeceu também a valorosa e preciosa colaboração do baterista Bruno Reis, que, dada a impossibilidade do Arlindo Cardoso de comparecer, o substituiu com grande poderio e impressionou, dado o curto espaço de tempo em que aprendeu a tocar os temas necessários. Colaboração dada também no concerto em Beja e Lisboa. Ora, no álbum, o tema “Stay Away” teve a colaboração de Fábio Ribeiro Batista AKA Eddie, vocalista dos Hills Have Eyes e, para nossa satisfação, o mesmo esteve presente em palco, para acompanhar Skatro. Tempo para Eddie agradecer o convite feito, trocarem umas piadas entre si, dados serem amigos de longa data e presentearem-nos com uma bujarda de tema, que poria todos a fazer “circle pit”, caso não estivéssemos todos sentados, por imposição legal.

Com o tema “This is Hell” o concerto chegou ao fim, tendo a banda dado tudo de si, mesmo não sendo fácil, ao ter o público um pouco mais longe e não haver aquele calor humano enorme que há em concertos mais “íntimos”. O vocalista ficou sozinho em palco e, para sua surpresa, o pessoal pedia mais. Contra-argumentou se aceitavam que ele cantasse sozinho em palco, dado os outros membros se terem retirado e foi surpreendido com um rotundo “sim”, que até lhe colocou um sorriso na cara, mas preferiu entrar em negociações com o público e lá conseguimos que tocassem a “Wasted”.  Um fim altamente para uma noite de reencontros e convívio com excelente malta.

Dia seguinte, toca de abalar para Beja, mais concretamente o Teatro Pax Julia. Aqui, os HochiminH jogam em casa, mas, mesmo assim, convidaram todos os que contribuíram em 2019 para o crowdfunding e que quisessem comparecer. Claro, respondeu pessoal de vários lados do país, Leiria, Lisboa, Setúbal, Vila Real Santo António, etc etc. Lindo de se ver, muitos equipados com o merchandising da banda e ouvia-se sotaques de todo lado.  Os fãs responderam em grande ao apelo deles para que viessem fazer a festa com eles na sua terra.  E natural também os amigos e família dos membros da banda. Vou novamente dar um vislumbre da noite, dado não vos querer maçar com repetições. Aproveito para dizer que o espaço é enorme e com capacidade penso eu de mais de 300 pessoas. A sala estava praticamente na sua lotação completa. Vou só dar uma nota aos seguintes momentos; o concerto começou com o mesmo tema de Faro, mas, desta vez, além de cumprimentar e meter-se com o público, ironizando a situação de se estar sentado, Skatro lembrou-se de vir com óculos escuros, possivelmente para dar o ar de sua graça. Desta vez a banda vinha já com um pouco mais de calma, acredito que, com concerto na noite anterior e viagens, não fosse de todo fácil estar ali com uma disposição solarenga, mas mesmo assim deram tudo de si como de costume. Desfilaram os temas, desta vez a “Break It” ouviu-se com uma pujança maior e continuo a arrepiar-me com aquele “breaaaak” do final do tema, que continuo a achar inumano. Mas ainda espaço para que Pedro Reis, o baixista, demonstrasse de forma bem visível que quem manda neste tema é o som do baixo. Novamente tempo para os normais agradecimentos e ainda se destaca ali um episódio, durante o tema do Ashes, em que um percalço com o prato da bateria fez com que Pina, anterior baterista, saltasse vindo do público e rapidamente tivesse solucionado o problema, que acho que a maior parte do pessoal nem se apercebeu.

Dado estarem a tocar em “casa”, no tema “Blindness”, Skatro chamou ao palco o seu filho mais velho, o Guilherme, para que o acompanhasse e assim foi, subiu ao púlpito e mostrou uma calma e um à-vontade que tomara muitos adultos terem. Muitos aplausos e seguindo, apresentaram mais temas, tocaram também, claro o EP “Ashes”. Mais uma vez, Eddie veio a palco cantar a “Stay Away”, onde mais uma vez é de louvar ainda haver pessoal que se apoia assim, mesmo ao fim de tantos anos. Este tema brilha com os dois em palco. Algo que possivelmente poderá não acontecer num futuro, porque concertos agora serão escassos. Com o final no “This Is Hell” e, recuperando a ideia que, em 2019, os filhos do vocalista participaram no coro do tema, Skatro chamou ao palco desta vez o seu filho mais novo, o Gonçalo, para que o acompanhasse. O pequeno subiu e claro o seu à vontade não é exato o do irmão, mas mesmo assim conseguiu cantar o “Find Yourself” do tema.

Estando a banda para sair de cena, o público puxou por eles para que tocassem mais um tema e, após uns lindos argumentos mais vocais de alguém do público, dado haver malta que veio de longe, a banda lá aquiesceu e deu a escolher o tema a tocar para encerrarem as festividades e claro ouviu-se quase em coro “Stay Away”. Também se pediu a “Alive”.  Eddie ficou muito satisfeito e sorriu para o pessoal e pedia ao pessoal para se “mexer”.  Mais uma vez deram “show”. Um pequeno à parte. Continua a surpreender aquele “Stay” perto do final.  Encerraram com muita alegria e claro depois ainda estiveram um pouco lá fora à conversa com fãs, amigos e família, não fossem estar em “casa”.

Um interregno de alguns dias e esta viagem completou-se no passado dia 25 de junho em Lisboa. Dado o RCA Club se encontrar com um apoio por parte da Circuito Lisboa, foi possível trazer a banda para ali lançarem o álbum. Mais uma vez e contra as adversidades que ocorreram e ainda estão a ocorrer, dada a limitação de movimentos para dentro e fora da Área Metropolitana de Lisboa, os HochiminH tiveram livre-trânsito e puderam trazer o seu concerto a nós, comuns mortais. Apesar desta benesse, existiram logo complicações à chegada e foram impostas limitações no horário.  O começo da festa atrasou e pior, foi dada notificação para que a banda terminasse o espetáculo mais cedo. Passo também a deixar aqui para registo futuro que ambas as bandas tocaram para uma casa de lotação esgotada. Permitam-me um pequeno interlúdio: Todo este esforço que tem vindo a ser desenvolvido pelo RCA, em conjunto com outras entidades, serve o propósito para que a casa possa manter as portas abertas. Continuem a apoiá-los pessoal!

Para este concerto, foram convidados os Thirdsphere, banda que trouxe consigo o seu “SYZYGY” na “bagagem” para apresentar ao pessoal que se encontrava já ansioso pelo começo do espetáculo. Vinham também eles cheios de “fome” de palco, dado esta paragem forçada superior a um ano, que logo ali Nuno, o vocalista, demonstrou com o começo enérgico cantando o tema “IR Interference” como se não houvesse amanhã. A banda carrega em si um som que eu sempre considerei de uma abordagem técnica muito “afiada” e uma sonoridade pujante, tanto instrumental, como vocal, e que já tinha tido o privilégio de escutar ao assistir em 2018 a um concerto da banda. Mais uma vez não desiludiram e demonstraram que ainda temos em Portugal excelentes bandas dentro deste género tão maltratado. Brindaram-nos também com a sua cover, a “Unbelievable”, dos EMF. Claro, coro por parte do público, ou não fosse um tema conhecido.

Dado fotografar também, nem sempre consigo dar uma atenção mais cuidada aos temas em si, mas não me escapou o entusiasmo de Francis, o baterista, que lá atrás cantava e dançava com as suas baquetas, e que lamento não ter conseguido fazer registo, mas que ainda filmei. Claro tive oportunidade de escutar com mais atenção as minhas duas favoritas, a “Monster” e a “Horus’ Eye”. A banda em palco mostrou todo o seu entusiasmo em estarem de regresso, notando-se pelos ares de felicidade e pelos sorrisos trocados entre os membros em abundância. Nuno, entretanto, parou um pouco para se dirigir ao público para dar os seus agradecimentos. Agradeceu aos HochiminH e ao RCA, lamentando de seguida não ser possível tocar o setlist completo, dado o infeliz corte no horário e terminaram a sua apresentação com a Monster, não tendo sido possível tocar a “Worms”. Deixaram já saudades, espero voltar a vê-los em breve num concerto em que possam descarregar a bujarda sonora de álbum que é o “SYZYGY” por completo.

Feitas as trocas técnicas e preparação de instrumentos, foi a vez dos HochiminH entrarem em palco, agora já com a sua entrada habitual, coordenada e por ordem, tendo Skatro entrado em último lugar, e que, para não variar, lá fez das suas e foi-se sentar no monitor, para mais uma vez ironizar e brincar com o conceito de concerto de pessoal sentado, que penso eu não cai bem a nós, nem às bandas. Claro, aliviou logo o ar e o pessoal mais que sorriu.  Dado ser o local que é e as memórias coleccionadas ali e a malta que lá estava, sendo muitos deles fãs de longa data da banda, e dada a maior proximidade do público, notou-se logo um entusiamo diferente por parte deles. Pedro, Rosa e Aresta, mexeram-se ali no palco como se tivessem lá estado há dois dias, e não quase há dois anos. Mais uma vez Bruno Reis na bateria, mas também demonstrou o seu à vontade.

Skatro desta vez decidiu brindar o público com toda a sua energia, tanto nos movimentos, como na voz. “Paralise”, “Wasted”, “Scars” as mais conhecidas, alguns aqui e ali faziam-se ouvir a acompanhar os temas. A “Crawling”, mais uma vez tema que é uma pérola e que foi cantado com bastante emoção.  Escutaram-se também os interlúdios. Nisto, entre temas, Skatro deixou sair a sua insatisfação com a situação das limitações impostas dos horários e cancelamentos de concertos e claro, lamentou que o espetáculo fosse encurtado dado a banda ter que parar às 22H20, deixando o repto de que se for preciso os HochiminH também voltam a fazer um concerto, mesmo que as pessoas estejam deitadas em espreguiçadeiras. Não podíamos estar todos mais de acordo. Mais uma vez, e que não era esperado, Eddie voltou a cantar em palco com a banda, para alegria do pessoal.  Vou sentir falta deste duo dinâmico. Infelizmente, dado o encurtamento do horário, a banda não pode tocar todos os temas que traziam na bagagem, mas ainda tocaram a “Alive” que, claro, retirou do público o maior acompanhamento, visto ser das malhas mais badaladas da banda, dentro dos trabalhos mais recentes.

Para finalizar, reservaram-nos a surpresa de, no tema “This Is Hell”, terem como convidada VIP a Mafalda Redondeiro Hortas aka Muffy, vocalista dos Karbonsoul. Naturalmente Muffy trouxe com ela a sua boa disposição e ainda conseguiu brincar com o facto de ser de Elvas, dado a banda ser maioritariamente de Beja. Havia muito Alentejano em palco realmente. Com isto, foi um maná de vozes poderosas a cantarem este tema. Não pensaria que a “This Is Hell” pudesse ficar mais sombria, mas com os guturais de Muffy, o tema ficou deliciosamente sombrio. Mais um duo dinâmico, dado a energia dela ser extraordinária em palco, não parando um momento. Assim a noite terminou com uma chave de ouro e a banda deixou em cima da mesa a possibilidade, mesmo que remota, de regressarem ainda este ano ou poderem eventualmente marcar outro concerto, mas que eu penso que, dada a situação atual que grassa no país, ser um tanto ou quanto complicado.

Agradecimentos às entidades envolvidas, ARCM Faro, Teatro Pax Julia, RCA Club e Circuito Lisboa. À World Of Metal, mais uma vez os meus agradecimentos pelo apoio que sempre me dão nestas colaborações e espero que em breve possa fazer mais, mas já com outras bandas, porque o que nós precisamos é de concertos.

Texto e Fotos por Sabena Costa


 

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