Report

WOM Report – Laurus Nobilis Music Fest @ Casa do Artista Amador, Louro – 22.07.23 – Dia 3

Tal como os Hórus no dia anterior, também os Dishonour tiveram um elemento que adoeceu de repente (esperamos que já esteja tudo bem), mas sendo o vocalista, não foi possível improvisar. Assim, os Cabbra puderam cativar a atenção de mais público com o seu metal alternativo.

De seguida, foi a vez dos “Filhos do Metal” mostrarem ao Laurus por que é que andam nisto há mais anos do que muitos dos presentes tinham de vida: no final do ano passado, os Xeque-Mate lançaram “Não Consigo Manter A Fé”, mas não é a fé na música que não mantêm. Deste tocaram, entre outras – afinal, é o trabalho que estão a promover –  a “música de amor” “Quase Esqueci A Tua Cara”, “Até Que Esta Voz Me Doa” (“não é fado…”) e a minha preferida “Rastejantes”. Mas apesar da sonoridade old school que estes novos temas transbordam, foram os eternos clássicos “Ritual” e “Ás do Volante”que reavivaram os anos oitenta.

Quem preferia um thrash bruto, tinha os Capela Mortuária no palco Faz A Tua Cena. Já quem queria algo mais polido, na onda do progressivo, tinha os Apotheus no palco Ecos. Os Apotheus cresceram muito desde a última vez que os vi, e não me refiro à idade, embora tenham passado doze anos. Lembro-me de reconhecer o potencial da música, mas que a banda tinha de trabalhar a sua performance, em especial a voz de Miguel Andrade. Foi o que fizeram! E a avaliar por temas como “Shape And Geometry” e “The Unification Project”, integrados no próximo álbum “Ergo Atlas” (a ser editado em Outubro), é o que continuam a fazer. Um concerto intenso, de uma sonoridade madura, que satisfez quem já conhecia e surpreendeu quem ouvia pela primeira vez (ou passado muito tempo, como eu).

O mosh em Suicidal Angels levantou muito pó, mas o de Pitch Black meteu-o num bolso. Nuno Quaresma nem precisou incitá-lo; a reacção era instantânea logo nos primeiros acordes de “Thrash Metal Elite”, “Standards Of Perfection” ou “Enemy Siege”.Em “Divine Not Human”, o guitarrista (e fundador da banda) Álvaro Fernandes tomou a palavra, para defender a posição dos músicos do Centro Comercial Stop (agora conhecido como Centro Cultural Stop no nosso underground) e anunciar que na segunda-feira iria haver uma manifestação na Avenida dos Aliados no Porto. José Aguiar, dos Ecos Culturais do Louro, subiu de seguida ao palco para dizer que “sem o Stop (e outros espaços como aquele) não havia Laurus, não havia Vagos, não havia Milagre” e que também eles estariam nos Aliados. Gostei de ouvir a referência aos outros festivais pelo nome – quando mexem no que “é nosso”, não há lugar a rivalidades.

Folk metal com punk, cantado em espanhol, pode parecer uma mistura estranha, mas existe, em Vigo, na forma dos Liberad Al Kraken, que subiam ao palco enquanto vários problemas técnicos atrasavam a actuação dos Inhuman Architects. Mesmo assim, o som não foi dos melhores, e se isso prejudica as bandas em geral, numa de deathcore técnico, em que os pormenores fazem a diferença, prejudica ainda mais. O género também não é para todos os ouvidos, mas os que apreciam lá foram conquistados, aos poucos, pela brutalidade de “Cultus Deorum” (trabalho mais recente, editado pouco mais de uma semana antes). Fábio Infante pediu desculpa pelo atraso e nas redes sociais a banda tornaria a agradecer pela paciência e pela recepção.

Ao contrário de uns e outros, os Hate  compensaram este ano o cancelamento na edição anterior. As rodas agora não eram de mosh mas de cabelos no ar, um headbanging imparável em temas como  “Luminous Horizon” ou “Erebos”, enquanto que em “The Wolf Queen” ou “Valley Of Darkness” provámos merecíamos um prémio pela nossa capacidade de gritar “HEY!” ao mesmo tempo que erguíamos punhos cerrados. Confesso que não estava a contar com tanta excelência de ambas as partes, apesar de todas as boas críticas ao blackened death metal da banda polaca; soube bem confirmá-las. Apesar de terem um álbum relativamente recente (2021), o alinhamento visitou vários pontos da sua discografia, mas foi o tema-título desse último trabalho, “Rugia”, que guardaram para o grand finale.

Depois do álbum “Discipline” em 2021, seguiu-se o EP “Indiscipline”, cerca de um mês antes da actuação dos Grunt no Laurus; pode ser impressão minha, mas o rumo que estão a tomar em termos de sonoridade, parece estar a ir ao encontro do título do anterior, com mais rigor e eloquência na composição. Claro que o teor lírico continua à base de sexo – assim como a própria imagem, com as endumentárias BDSM – e a mão esticada em frente ao nariz já é marca registada, mas o grindcore com que iniciaram a carreira deu lugar a algo mais sofisticado – ainda que igualmente destrutivo. Mas o que me surpreendeu mais foi a ovação de Boy-G aos Xeque-Mate, que afirmou ser uma influência em todos eles. “Captivity And Abominable Idolatry”, “A Valsa Libitina” ou “Red Emanations” foram alguns dos títulos que fecharam o pano (este ano) do palco Ecos.

Não me recordo se a última vez que os Katatonia estiveram em Portugal foi em 2009, mas essa foi a última vez que os vi em terras lusas. Estava algo céptica com uma banda de raízes-doom-e-virada-para-o progressivo a fechar um festival ao ar livre, depois de tanta banda pesada, mas foram os suecos que reuniram mais pessoas para vê-los! Soube posteriormente que os bilhetes tinham esgotado, e foram claramente os Katatonia os responsáveis. Quem lá foi só para vêlos deu o dinheiro por muito bem empregue. Que concerto emocionante! Também ajudou Jonas Renkse estar bem disposto: creio que comunicou mais do que das outras três vezes juntas que os vi. Desde os intemporais “My Twin”, “July” ou “Evidence” (a última música) a temas do “não novo mas mais recente álbum” (“Sky Void Of Stars” saiu em Janeiro – aparentemente, trabalhos com seis meses já não são novos para Jonas…) como “Atrium” ou “Austerity” (a música de abertura), em momento algum a satisfação dos fãs não foi preenchida – a melhor prova de que realizar o festival num espaço mais pequeno não foi, de todo, uma involução. Aqui, ou noutro lado qualquer, a edição de 2024 pode contar comigo.

Texto e Fotos por Renata Lino
Agradecimentos Laurus Nobilis Music Fest


 

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