WOM Report – Moita Metal Fest – Dia 1 @ Largo do Pavilhão Municipal de Exposições, Moita – 05.04.19
Moitaaaaaaaaaa! Não deveria ser necessário estar a referir mas vamos partir do principio que poderá haver alguém que não conheça o grito de guerra do festival. Para esses só temos que referir que esse referido grito de guerra representa tanto em alegria como até de certa forma de exorcismo (aliás, como aquele que está associado à própria música pesada, seja de que subgénero for) que só faz sentido nos dois dias que compõem o mítico Moita Metal Fest. Um sentido especial, acrescente-se.
Em 2019, com mais um cartaz de luxo e também sempre ecléctico, tivemos um primeiro dia de arromba que começou e terminou a falar em Português. A começar coube aos Revenge Of The Fallen. Sendo sexta-feira, era previsível que a(s) primeira(s) bandas tivessem um pouco menos de público, com muitos a serem apanhados no trânsito, na saída dos respectivos empregos. Isso não impediu o entusiasmo com que os Revenge Of The Fallen foram recebidos pelas pessoas presentes que foram agraciados com muita raça na forma do seu metal moderno, cheio de groove. Uma actuação forte onde não puderam falhar já os seus hinos “Vicious Pride” e “Darkside Of Age” que encerraram o primeiro concerto em nota alta.
A continuar a falar português tivemos o colectivo mais arrojado do primeiro dia: os leirienses Dream Pawn Shop, donos de uma sonoridade muito própria que nos fez esquecer o soundcheck algo demorado e que atrasou o início da sua actuação. Assim que entraram em palco foi uma viagem de montanha-russa à qual é impossível ficar indiferente. Se a base (poderemos arriscar que) é um post-hardcore a roçar o math, com o toque do saxofone, fica algo completamente refrescante e, acima de tudo, fantástico. Apesar de ser uma escolha de risco, esse risco foi bem compensado tanto pela música em si como pela reacção arrancada ao público, ainda que tenha sido, de longe, o som mais “fora” de todo este primeiro dia. Sem dúvida que os queremos ver outra vez, num outro contexto.
As trevas desceram ao Moita Metal Fest, sendo o primeiro sabor de metal extremo, algo que coincidiu também com a primeira enchente em frente ao palco. “In The Name Of Satan” deixou logo claro que o black metal é necro e bem bruto. O power trio (mete power nisso) composto por Vulturius, eterno mastermind na voz e guitarra, Deris no baixo e André Silva na bateria deu uma verdadeira lição das artes negras e grande foco foi o último álbum de originais, “Crimes Against Humanity”, onde o som foi bem poderoso mas sem perder aquele sabor bem necro e cru, tal como pertence aos Irae por direito próprio. Fora do já referido “Crimes Against Humanity” teve-se oportunidade de ouvir “Prime Evil Black Metal”, dedicada aos mestres Venom e Sodom. Sem dúvida, um ponto alto.
No soundcheck para Grog foi natural a debandada para jantar mas assim que Pedro Pedra e seus pares entram em palco e se ouviu o grito de guerra “Moitaaaaaaaaa”, foi a correria para frente do palco. O som estava poderoso, onde todos os instrumentos e elementos era bem audíveis, o que só fez com que o impacto de temas como “Savagery” e “Sterile Hermaphrodite” do mais recente “Ablutionary Rituals” fosse ainda maior e que provocou as primeiras movimentações a sério em frente ao palco com um circle pit acentuado e crowdsurfing a acompanhar. “Necrogeek” e “Hanged By The Cojones” foram os últimos temas de uma actuação que nos deu a sensação que foi encurtado de forma a tentar recuperar algum atraso que se estava acumular. Como Pedro disse no final, um festival de amigos para amigos, onde não há sacrifícios, apenas jogo de equipa. Algo que nem sempre temos oportunidade de presenciar.
Os Enforcer foram a primeira banda internacional a subir ao palco e também uma das mais aguardadas para este primeiro dia, até mesmo para nós aqui na World Of Metal. E talvez por toda essa expectativa, não deixámos de sentir uma certa decepção com a sua actuação, por vários motivos. O primeiro, logo a começar, pelo tema escolhido para abrir o alinhamento, o single “Die For The Devil”, que não sendo mau, não teve o punch necessário para uma entrada triunfal. Também não ajudou os (muitos) problemas técnicos que a banda sofreu, com algumas flutuações sonoras ao longo dos primeiros tems, tendo depois estabilizado mais para a frente.
Só após “Zenith Of The Black Sun” é que Olof Wikstrand se dirigiu ao público, este completamente rendido, principalmente aquele mais perto do palco. E se as flutuações do volume da voz e dos solos de guitarra tornaram os primeiros temas frustrantes, os já clássicos “From Beyond” (cujo refrão foi cantado em uníssono pelo público) e “Undying Evil” acabaram por compensar a coisa, assim como a incontornável “Mesmerized By Fire”, que suscitou uma resposta incrível por parte dos fãs que estavam ali para os ver. Aliás, foi nos temas mais antigos que o impacto foi mesmo maior, até mesmo em termos dos problemas técnicos. “Take Me Out Of This Nightmare” e “Katana” encerraram de maneira irrepreensível uma actuação que merecia melhor som mas que também (até nisso) é old school. Energia crua, sem artifícios, orgânica e vintage em todas as suas virtudes e defeitos.
Orgânico e vintage também são adjectivos que podemos atribuir aos cabeças-de-cartaz, Destruction. Como já tínhamos referido no nosso pequeno guia musical para esta edição do Moita Metal Fest, a lenda viva do thrash teutónico é sempre um nome que arrasta fãs onde quer que seja e neste fase actual, com mais um guitarrista solo, Damir Eskić, a curiosidade era muita para ver como seria interpretados os temas (clássicos ou não) de uma carreira discográfica já longa. Assim que a intro do clássico “Live Without Sense” se faz ouvir, sabe-se logo que as portas do inferno se iam abrir com “Curse The Gods”. E assim efectivamente foi.
Ao contrário dos Enforcer, os Destruction tiveram um som bem poderoso, onde as duas guitarras brilharam e onde se evidenciou que a integração de Damir foi natural e resulta muito bem tanto nos temas mais antigos (como a velhinha “Tormentor” e a incontornável “Mad Butcher” – este último insuperável com duas guitarras) assim como nos mais recentes como a “Dethroned”. A sucessão de malhões foi impressionante mas mais ainda impressionante foi a reacção do público, incansável nos circle pits e moshes, de tal forma que Schmier referiu-se àquele como o melhor concerto da banda alemã em 2019. Vale o que vale, mas para quem estava lá e por muito simpático que Schmier seja, sabe que a coisa não deve andar longe da realidade. O inferno explodiu (quase literalmente) com a “Bestial Invasion”, que na linguagem moita também é conhecida como a “levanta-poeiras”, tal não foi a acção em frente ao palco.
E como se sucede a uma actuação destas? Como é que se consegue superar um momento de tal intensidade como aquele que os Destruction fez o Moita Metal Fest vivenciar? Quando as forças faltam e as energia já há muito acabou? É o final do primeiro dia. Ah, espera, ainda faltava Gwydion. Apesar de muitos não terem resistido ao cansaço, os guerreiros que permaneceram (e ainda foram em bom número) fizeram uma autêntica festa com uma actuação mais que perfeita para selar com chave de ouro o primeiro dia. Com um alinhamento voltado para os seus temas mais festivos, o público não descansou e não parou por um momento – acredito que muitos precisaram de soro no final, tal foi o nível sobrehumano de entrega. Festa onde a intensidade foi crescente (inversamente ao que seria lógico) e onde a sequência final “Mead Of Poetry”, “Thirteen Days” e “Six Trials To Became a Berzerker” foi insuperável.
Um primeiro dia daqueles que ficam na história e nos corações de todos os envolvidos, onde a magia e mística do Moita junta-se à magia que cada uma das bandas envolvidas espalhou com muita dedicação e energia. Algo que não se recriar e não se copia, por muito que se queira. Agora… é o tempo do segundo dia!
Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Moita Metal Fest
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