WOM Report – Oeste Underground Fest III @ Pavilhão Multiusos da Malveira – 03.11.18
Terceira edição do Oeste Underground Fest, um evento que contou com o apoio da World Of Metal, e que é quase um caso único no nosso underground, onde todas as receitas revertem sempre a favor, e na totalidade, dos Bombeiros Voluntários da Malveira. O metal solidário, mas também representando com bandas de excelente qualidade, num espaço que oferece as condições mais que perfeitas e que este ano contou com a qualidade sonora que os estúdios Rock ‘N’ Raw já nos habituaram. Tudo conjugado para que tivessemos uma excelente tarde/noite. Efectivamente assim foi.
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O certame foi iniciado com os Oppidum Mortum, uma banda que apesar de não ser muito activa em termos de concertos ou até ter uma discografia extensa, é dona de um som que impressiona pela sua potência. Death metal old school que se revelou após uma intro que trouxe uma atmosfera bastante densa, e palpável até, para o Pavilhão Multiusos da Malveira. Apesar de a sala ainda estar a meio gás, essa atmosfera preencheu os espaços vazios e banda de Óbidos revelou-se uma máquina temível de debitar death metal. Recomendada a todos os apreciadores do género com mística – aquela que muitos julgam desaparecida.
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O Oeste já tem uma tradição de tentar focar vários géneros musicais, por isso já não nos constitui surpresa passarmos do death metal dos Oppidum Mortum para o hardcore tingindo de nu-metal dos Fear The Lord. A última vez que os vimos foi em Setúbal, quando venceram o concurso de bandas da Feira de Sant’iago que lhes permitiu abrir para os Moonspell no mesmo evento. Dessa altura até à terceira edição do Oeste, pudemos verificar que a banda já passou por diversas mudanças de formação, embora estilisticamente a sua abordagem continue a mesma, assim como a sua energia irreverente. Uma actuação que convidou para a frente do palco alguns entusiastas da modalidade livre de artes marciais na vertente epiléptica. Ainda com um caminho a percorrer em termos de evolução, a energia é sem dúvida a sua principal arma.
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Tínhamos grandes expectativas para vermos os Undersave. Não só são uma banda que temos acompanhado (a nível pesssoal) desde o seu início da carreira como também é um dos grandes valores do nosso death metal nacional (cuja entrevista podem ler aqui), com um som único e nem sempre fácil de interiorizar. Esse foi provavelmente o grande desafio que tinham que superar, algo que conseguiram razoavelmente. A complexidade, principalmente do trabalho de guitarras, nem sempre foi perceptível da melhor forma com o som a ficar algo confuso em certas ocasiões mas de qualquer forma, não nos mudou a opinião que já tínhamos e nem do público que se juntou em número considerável em frente ao palco.
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Ainda dentro do death metal, subiram ao palco os Karbonsoul que também são uma referência do death metal nacional, numa outra vertente mais imediata. A banda de Muffy e Mário Rodrigues veio a substituir os espanhóis Rencor que cancelaram a sua actuação. Melhor assim, porque o produto nacional é tão bom (ou melhor) do que o que nos chega de fora. Sem nacionalismos baratos, esta afirmação prova-se pelo concerto seguro e sólido que a banda deu, com um à-vontade impressionante, capaz de superar até um falso arranque no primeiro tema devido a problemas técnicos. Instrumentalmente acutilantes e com Muffy sempre a puxar pelo público, os Karbonsoul tiveram uma prestação bem positiva.
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Temos estado a falar do produto nacional mas esta terceira edição do Oeste Underground Fest também nos trouxe excelente produto estrangeiro sendo que o primeiro exemplo foram os gregos Warhammer (que também podem verificar na entrevista na mesma edição), que nos trouxe o seu thrash metal cheio de vida aliado a uma atitude bastante humilde. A energia foi constante, algo mais impressionante depois do vocalista Hercules Giotis nos ter confidenciado que tinha apenas dormido duas horas na noite anterior. Não se notou e não só a banda gostou da energia do público como este também vibrou com malhas dos seus dois álbuns de originais em temas como “Mass Burial” e “Destroy What You Hate”. Uma excelente primeira impressão ao vivo que desejamos ver repetida.
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Talvez tenha sido um pouco ingrato para os Hourswill terem sucedido aos Warhammer. Ingrato e sobretudo injusto para o som que a banda tem e faz. Com o público para desertar para ir comer, a banda subiu ao palco e trouxe-nos o seu heavy metal progressivo bem forte e musculado. Em termos instrumentais, esta é uma das bandas que dá gosto ver tocar. Ver e ouvir. E depois conta com um frontman enorme que é Leonel Silva, que apesar de estar constrangido por questões de tempo – a banda tinha apenas meia hora para tocar – ainda teve oportunidade para tanto puxar pelo público como não deixou de dar conta da sua frustração, no início da sua actuação, por a frente do palco estar um pouco vazia. A perseverança dá os seus frutos e malhões como “Mass Insanity” e “Everyday Sage” conseguiu chamar mais público a si. Com um som límpido e poderoso, esta banda simplesmente não sabe dar maus concertos, por muito que as pessoas não consigam apreciar isso.
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Gaerea. Apesar de terem lançado apenas um EP e um álbum, esta é uma banda que podemos dizer que já deixou um impacto positivo no underground nacional – aliás, álbum esse, “Unsettling Whispers” que de certeza que figurará nas nossas escolhas dos melhores do ano. A atmosfera que os seus temas criam são formas de escape para um transe do qual não queremos voltar tão cedo e o mesmo aconteceu na sua prestação no Oeste Underground, onde o tempo que tinham disponível voou praticamente. Como já é habitual, não houve qualquer comunicação com o público mas também que palavras poderiam fazer sentido pertante tal demonstração de potência e mestria do seu black metal único. Uma das bandas da noite.
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Por falar em banda da noite, o que dizer dos Prayers Of Sanity? Simplicidade, humildade e energia em dose cavalar, tudo resumido pelas primeiras palavras de Tião (vocalista e guitarrista da banda algarvia) ao público: “Como é que é, pessoal?! Siga!” Efectivamente a coisa seguiu, seguiu para cerca de quarenta minutos de thrash metal vitaminado que não deu descanso nem ao público nem aos seus pescoços e pernas. Headbanging frenético, com a própria banda a dar o exemplo de como se faz, numa actuação épica, das melhores que já vimos da banda e sem dúvida uma das melhores (se não a melhor da noite). Passeando pelos seus três álbuns com um som poderosíssimo, onde a guitarra e o baixo competiam em termos de brutalidade e a bateria assegurava as fundações. No mínimo, memorável.
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Muito atrás não estiveram os Analepsy que apesar de terem um som que não é dos mais acessíveis (o dia em que brutal death metal técnico for acessível, é o dia em que temos o mundo virado do avesso), deram um concerto que deveriam constar nos manuais escolares da disciplina do metal, no capítulo “Como Partir Tudo Em 40 Minutos”. Tecnicamente irrepreensíveis e com um som que favoreceu claramente esse mesmo tecnicismo assim como a complexidade dos seus temas – algo que por exemplo não aconteceu anterioremente com os Undersave – esta foi um actuação que poderia ter sido facilmente gravada e colocada num DVD para a posteridade. Sim, foi assim tão bom. Ainda contaram com a prestação de Sérgio Afonso que subiu ao palco para cantar o último tema. Final com chave-de-ouro de uma actuação já de si brilhante.
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Seria algo difícil de superar, uma actuação como aquela que os Analepsy. Apesar dos britânicos Repulsive Vision não o terem feito, deram sem dúvida um enorme concerto. Nem parecia que estávamos perante uma banda que apenas o ano passado lançou o seu álbum de estreia. O seu death metal tipicamente britânico (tipicamente se pensarmos em bandas como Bolt Thrower e Benediction, com aquela distorção a puxar à gravilha e também próximo do chamado death metal sueco de Estocolmo como Entombed e Dismember). Grande parte da sua actuação baseou-se no já referido álbum de estreia, “Look Past The Gore And See The Art” onde destacamos temas como “Credophilic” e “Pit of Putridity”, finalizando o seu alinhamento com a cover de “Supposed To Rot”, dos Entombed.
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Para o final, a festa que já se antecipava. Depois da sua épica passagem pelo Oeste Underground Fest aquando a sua primeira edição, o regresso dos Serrabulho já estava prometido e assim se concretizou, embora o mesmo não tenha tido propriamente o impacto que se esperava, tendo sido prejudicado por alguns detalhes que acabaram por fazer toda a diferença na avaliação do concerto da banda de Vila Real. Um dos mais importantes foi o longo soundcheck que atrasou o início da actuação em quase meia hora, o que fez com que parte do público fosse abandonando o recinto aos poucos. Quando começou, o som estava fortíssimo, como foi, aliás, apanágio ao longo de todo o dia, mas a fluidez pareceu algo quebrado – talvez também motivado pelo cansaço da banda que chegou ao recinto quando festival já tinha começado, vindos de Évora onde também tinham tocado na noite anterior.
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Mas estamos a falar de Serrabulho, sempre sinónimo de boa disposição, de subidas ao palco, participações especiais (desde Mafalda dos Karbonsoul a cantar, até ao Dico a tocar bateria na já incontornável “Quero Cagar E Não Posso”, viu-se de tudo), de se cantar os parabéns, gaitas de beiços a soar, almofadas a serem destruídas e os comboios que passearam pelo recinto, incluindo a passagem pelas casas de banho – que fez lembrar quando o Júlio Isidro enfiou não sei quantas pessoas dentro de um mini. O caos expectável, mas desta vez, o caos pareceu ser ainda maior tinhamos fãs nos microfones, circle pits no palco . Foi o último concerto da enorme digressão que a banda tem feito um pouco por todo o lado e esse factor também deve ter tido impacto na forma mais solta e descontraída (ainda mais que o normal) como a banda abordou este concerto.
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Foi uma edição praticamente sem pontos negativos onde tudo fluiu muito bem, excepto as raras excepções apontadas e onde foi bom ver o público comparecer para mais uma festa que, voltamos a lembrar, tem como principal intuito ajudar os Bombeiros Voluntários da Malveira da mesma forma que estes estão sempre dispostos a ajudar a população que precisa de si. Missão cumprida, com louvor, já que tanto as bandas escolhidas como o som que as mesmas usufruíram foram das melhores que já tivemos prazer de apreciar. Também não é demasiado dizer que esta é uma iniciativa que deverá continuar a ser apoiada e repetida, demonstrando que o metal também se consegue unir para um objectivo maior. Algo que ainda deverá fazer confusão a muitas cabeças.
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Oeste Underground Fest
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