Report

WOM Report – Re-Censurados, Porta Voz @ ARCD Bairro Santiago, Camarate – 27.11.21

A perspectiva é tudo. Sem a perspectiva, dificilmente ganharíamos percepção dos vários acontecimentos da nossa vida ou sequer daríamos valor às nuances se não tivessemos em cima algo que pudesse ter em causa a existência ou continuidade daquilo que tanto se preza. Neste caso, para nós aqui na World Of Metal, o termos sido convidados para a matinée que juntava duas bandas de Orlando Cohen, Re-Censurados e Porta Voz, teve um impacto tão grande como se estivessemos num festival rodeados por milhares de pessoas. A paixão pela música e a forma como a mesma nos toca é ainda a maior gratificação que podemos ter e ainda fazer ver a todos os outros que é esse o caminho. Não só para aquilo que fazemos, como forma de estar na vida.

Um pouco depois da hora prevista, subiram então ao pequeno palco da ARCD do Bairro Santiago os Porta Voz, atraindo logo as atenções para o palco. Com a sala semi-cheia, o entusiasmo foi imediato, graças ao rock inebriante que espalham. Foram alternando temas entre os dois álbuns lançados, “Não Vou Ser Assim!” e “Obrigação Alucinação” e falaram mesmo ao coração de quem gosta de ver o seu rock apunkalhado e cantado em português. Bruno Alves,  vocalista e baixista, estava sempre animado a puxar pelo público e não deixou de soltar um “que saudades que tinhamos disto”. Era o sentimento geral este, não só de saudades mas também pela felicidade por estarmos a aproveitar o momento presente daquela forma que um ano atrás parecia totalmente impossível.

Actuação forte e sólida por parte de uma banda que sabe como tratar bem o seu rock’n’roll e como puxar pelo seu público.  Algo que foi bastante eficaz em temas como “IRS (Imposto de Roubo Social” e  “Billy” – este último que colocou todos em festa. E ainda acrescento que foi especialmente eficaz quando revisitaram os Xutos & Pontapés com “Sémen”, um tema dos primórdios da nova vaga de rock português e que também podemos apontar algum A.D.N. punk.

A noite era de Orlando Cohen que após uma pausa voltaria a subir ao palco com os Re-Censurados onde também estavam nomes como Manelito e Bruno Paiva (ambos de Alcoolémia, guitarrista e baixista respectivamente), com Rafa a substituir o lugar de Márcio (também dos Alcoolémia) e Covas Frazão (guitarrista dos Viralata e aqui vocalista). O entusiasmo por ouvir os clássicos dos Re-Censurados era enorme e não é de estranhar, sendo enorme o impacto que a banda teve na sua curta existência entre o rock e o punk nacional. E com temas como “Kaga Na Kultura”, “Srs. Políticos” e “É Difícil” continuam tão actuais hoje em dia (senão mais ainda) como na altura em que foram editados originalmente.

O espírito de união e fraternidade foi sem dúvida fantástico, algo que também fez com que o próprio Orlando Cohen agradecesse ao público pela presença – o espírito que se vivia mostrava mais que era o público que estava sobretudo grato. A festa era total e também não faltaram intervenientes convidados como Ivan Barros (baterista dos Viralata), Zorb (vocalista dos Dalai Lume) e Bruno Alves (dos Porta Voz), entre outros. Os clássicos (e aqui pode-se incluir também a versão de Xutos & Pontapés para “Enquanto A Noite Cai”= mostravam mesmo que o ambiente de festa era único além de familiar. E a reta final de temas como “Sopa”, “Coxa” e “Censurados” colocaram a fasquia tão alta que no final ninguém queria ir-se embora.

Essa insatisfação levou a que Zorb e Rudy Sagres subissem ao palco a pedir que a banda tocasse mais uma e acabaram por tocar novamente a “Animais”, música que Zorb dedicou ao “baterista por este ser um ganda javali”. Ainda assim havia vontade para mais e foi a vez de os Porta Voz subirem novamente ao palco para tocarem mais três temas antes de se dar a tarde/noite por terminada. Os tempos são difíceis (e quando foram fáceis apenas havia a ilusão que assim era) mas o que se pode ter a certeza é que sem eventos destes, sem a música, sem o poder sentir a música, sem dúvida que tudo se torna muito mais difícil. Resta termos bandas, promotores e público como os que estiveram em Camarate para não desanimarmos perante o futuro difícil. Não é uma solução, mas é força para continuarmos a lutar por ela.

Texto Fernando Ferreira
Fotos Sónia Ferreira
Agradecimentos Vai D’Embute


 

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