Report

WOM Report – The Mission, We Know A Place @ Hard Club, Porto – 28/29.04.23

Em 2020, a “The United European Party Tour” teve início a 29 de Fevereiro, em Birmingham, mas após apenas dez datas – a seguir às de Lisboa – os The Mission e os Gene Loves Jezebel foram forçados a regressar a casa para cumprir o confinamento imposto pela pandemia. O resto das datas foram adiadas para 2021 (infelizmente já sem Gene Loves Jezebel a abrir) mas o Covid tornou a impedir a sua realização, e esta repetição de acontecimentos fez com que a tour fosse renomeada de “Déjà Vu”. E como não há duas sem três, agora devido aos problemas logísticos provocados pela guerra na Ucrânia, só em 2023 o Porto acolheu esta banda britânica que acarinha há mais de trinta anos, em duas datas com lotação esgotada no Hard Club.

Na primeira noite, ninguém parecia conhecer os We Know A Place (muitos nem sabiam que ia haver uma banda de abertura). E como em termos de redes sociais só existia uma conta no Instagram (o meu obrigado à mocinha que os encontrou e partilhou a informação comigo; entretanto, após os concertos, foi aberta uma no Facebook), não foi fácil dar com eles. Confeso que estava céptica, mas não é que “os putos” são bons?! Depois da surpresa inicial, ao final da segunda música (“Bloody Mary”, se não estou em erro) já estava – assim como todo o público presente – a dançar ao som daquele indie rock ou new wave ou o-que-quer-que-lhe-queiram-chamar, e a aplaudir a cada intervalo entre temas. Uma não-portuguesa perguntou-me o nome da banda, ao que respondi, acrescentando que era uma banda nova. “But they’re good!”, pelo que os We Know A Place ganharam fãs além fronteiras logo ali, naquele que foi o primeiro concerto no Porto (segundo o baterista Vicente), e que depois vim a saber que era o segundo de toda a sua carreira.

Na segunda noite, era notória a presença de amigos da banda, acompanhando as músicas que ainda nem foram gravadas (um EP, no entanto, está nos planos próximos dos WKAP) e a fazerem piadas (“ó Tokki, faz-me um filho!”, uma voz masculina gritou a dada altura para o vocalista/guitarrista). Tokki trocou a sua posição no palco com o baixista Nuno em relação à noite anterior, assumindo o centro do palco, e creio que a ordem do alinhamento também foi alterada (há um tema em que Tokki só canta, todo o trabalho de guitarra a cargo de Tomás, e tenho ideia que na sexta-feira foi tocado mais no início e no sábado mais para o final), mas a rendição do público ao quarteto Lisboeta foi igualmente incontestável.

E três anos depois, The Mission. Wayne Hussey agradeceu por termos esperado, e lembrou que seriam duas noites de alinhamentos diferentes, pelo que se não ouvíssemos a nossa música preferida naquele concerto, talvez a ouvíssemos no seguinte. Eu tive a sorte de que as duas que mais gosto façam parte daquele leque de hits obrigatórios, comuns a ambos os concertos, e ainda bem no que respeita à “Like A Child Again”, pois no concerto de sexta o som estava tão confuso, as guitarras a puxarem cada uma para seu lado, que eu só a reconheci por volta do terceiro ou quarto verso, e precisamente pela letra – pela melodia não chegava lá. Já no encore, o problema foi no teleponto de Wayne, em “Heat”, em que o vocalista bem “desfolhou” as páginas digitais do aparelho sem encontrar o que queria. Mas a música continuou, o público cantou por vez dele, e no segundo encore, dois fãs elevaram-se nos ombros de amigos para dançarem ao som de “Tower Of Strength”. O concerto terminaria já só com Wayne em palco, a interpretar uns berros emotivos, acompanhados da respectiva dramatização corporal.

Já na noite de sábado, por mais de uma vez o vocalista perguntou se estávamos a ouvi-lo, uma vez que ele não se ouvia a ele próprio (embora não ter percebido o que alguém lhe gritou no início do concerto nada teve a ver com os in-ears e sim com a dicção; “speak Portuguese!” respondeu Wayne, provocando gargalhada geral). Mas o concerto lá foi correndo, todos a cantar em uníssono num êxtase contagiante… até ao encore. Quando a banda saiu do palco, em vez de chamar por eles, alguém começou a cantar o refrão de “Swan Song” e logo meia casa seguiu o exemplo. Esta música aparecia com pontos de interrogação no alinhamento colado no palco, e quando vimos um roadie a alterar o teleponto, percebemos que tinha sido decidido não tocá-la; mas com aquela pressão do público, a decisão foi revertida. No entanto, a meio da música, além da sua voz, Wayne deixou também de ouvir a sua guitarra (nós já não a ouvíamos muito bem desde a noite anterior, verdade seja dita…) e o título “Swan Song” acabou por ser literal, a banda não regressando para “Tower Of Strength” como previsto. Independentemente do final abrupto e de todos os percalços técnicos, um total de quatro horas de The Mission (duas por noite) é de ficar gravado na memória de qualquer um ali presente.

Texto e fotos por Renata Lino
Agradecimentos House Of Fun


 

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