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WOM Report – Vai D’Embute Punk Fest II @ RCA Club, Lisboa – 29.02.20

A segunda edição do Vai D’Embute Punk Fest prometia muito. Mudança para o RCA Club – a primeira edição no ano passado foi no Motoclube do Oriente – e com mais uma banda no cartaz. Cartaz esse que é de qualidade inegável do melhor que se apresenta no panorama do punk nacional. A festa era garantida e as promessas do cartaz foram cumpridas pelas bandas (Horas Vagas, HPS, Contrasenso, Suspeitos do Costume, Taberna e Viralata) que deram o máximo de si e do público que compareceu (embora de forma desigual, mas já lá vamos) e que não deixou de apoiar o underground nacional. Algo que é sempre bom de verificar principalmente quando o pessimismo se instala sempre que falamos de música pesada portuguesa.

A noite começou da melhor maneira, com os Horas Vagas, uma banda que vimos pela primeira vez ao vivo (e onde pontua Manelito Soares dos Alcoolémia) e que estamos oficialmente (e irremediavelmente) apaixonados. Punk rock melódico tipicamente português – a banda designa o seu som de rock operário, o que faz todo o sentido – e com grande sentido interventivo. O álbum de estreia, “Nada de Novo”, foi tocado na íntegra praticamente (só ficou a faltar “Revolução”) e o concerto explosivo. Aquele poder cru que pensavamos estar confinado às nossas memórias do que foi na década de oitenta e noventa e aqui ao dispor de todos. De destacar a participação de Tiago Cardoso, dos Artigo 21 na “Censurado” – dedicada ao eterno João Ribas – e no encerramento do concerto com a “Enquanto A Noite Cai”, uma excelente versão de um original de si já excelente também dos Xutos & Pontapés.

Julgo que não será necessário dizer muito mais para que se fique com a ideia de que se tratou de uma grande abertura. A sala estava a meio gás nas primeiras bandas, algo que foi de certa forma injusto, mas os presentes estavam lá mesmo para curtir e a diversão não parou com os HPS. Muito pelo contrário. Segundo os próprios, tocam música marada e se em termos sonoros, o seu punk/hardcore é corrosivo, líricamente concordamos em absoluto. Temas como “Zombie Catita”, “Coca-Cola Furiosa” e “Lacticínios Deliquentes”, ou até mesmo o tema homónimo (com o significado de “Hoje Perdi os Sapatos) são exemplos da loucura saudável que se adequa bem neste festim punk. Ainda houve tempo para revelar uma música nova, “Sanatório” de seu nome, se nos apercebemos de forma correcta, uma canção bem pesadona.

Com os  ContraSenso voltámos à abordagem mais melódica do punk, mas isso não significou que não houvesse agitação. Energia foi mesmo o que não faltou, graças a já clássicos como “Cabeça Erguida” e “Crescer de Novo”. Obviamente que o disco auto-intitulado de estreia (de 2018) foi o centro das atenções e foi bom ver que estavam lá muitos fãs da banda. Numa noite em que se cantou quase de forma exclusiva em português, a excepção foi feita no final do concerto dos ContraSenso, onde a banda tocou “Ace Of Spades” (dos Motörhead) e “I’m A Rifle” (dos Rebel Spell), acabando depois com “Angústia” (mais uma homenagem aos Censurados, um dos nomes mais saudosos do género em Portugal) e onde chamaram ao palco Cristina Carrilho da organização. Com ela vieram mais fãs fazer a festa em cima do palco e para compensar, Daniel Hipólito foi pelo público em crowdsurfing.

O ambiente era de festa e como se sabe, mesmo que não tivesse, iria ficar com os alentejanos Suspeitos do Costume, um exemplo de perseverança para quem está afastado dos grandes pólos. A banda regressava à capital pela primeira vez após o lançamento do disco no ano passado e mostrou estar cheia de raça e vontade de fazer a festa. Esses esforços não foram em vão, com o público a absorver bujardas como “Viagens Tremidas” mas foi a ainda novidade “Salve-se Quem Puder” o foco, com o destaque a recair em “Razão”, ” Prospecção Faz O Ladrão” ou “O Meu Caminho” (que provocou um autêntico sururu – saudável – entre o público.  Temos que destacar sempre a versão, também presente no já referido segundo trabalho, do clássico de Carlos do Carmo “Lisboa Menina e Moça” que será para nós o que a “My Way” de Frank Sinatra é para os norte-americanos. Esperemos que não fiquemos mais um ano sem os ver.

A noite aproximave-se do final e quem se seguia eram os Taberna. A banda ribatejana encontrou alguma resistência por parte do público que parecia acusar a início o cansaço – exceptuando por alguns fãs mais entusiastas, que conheciam as letras todas. Persistentes, a banda não acusou o toque e despejou o seu punk rock’n’roll cheio de raça. Não demorou muito que a resiliência desse os seus frutos e que o público mais apático despertasse para a energia que os Taberna tão bem sabem trazer através da sua música. A banda comemora agora em 2020 a sua primeira década de existência e para comemorar nunca podem faltar os já clássicos de inspiração ébria como ” Cerveja Até à Cova”, “Assalto à Tasca” e, claro, “Inferno Na Terra, Cerveja No Céu”. Um concerto em crescendo que acabou em altas.

Para os cabeças-de-cartaz Viralata, a sala foi-se enchendo, não deixando dúvidas em relação á escolha da banda para ocupar a posição no alinhamento. Bem, também não é preciso explicar o porquê, pois não? Punk rock melódico, boa disposição constante e também uma capacidade para escrever hinos desconcertantes que já fazem parte do nosso cancioneiro punk. E ver um RCA Club já todo animado ainda a banda estava no soundcheck, não é surpresa nenhuma. Mas foi quando soaram clássicos (desde o momento que foram editados, arrisco a dizer) como “Assalto” e “Zé Ninguém” a festa foi rija. Rija e incansável. Embora o crowd surfing tenha sido farto ao longo de toda a noite, foi com os Viralata que a concentração foi maior, até porque o espaço que normalmente ficou mais vazio entre a linha da frente do palco e o restante público estava bem preenchido.

E falar de Viralata e não falar de “F.A.M.E.L.”, “Vai Mais Um Copo” e “Ivone” até parece que é algo que não nos é possível. A banda teve o público rendido do início ao fim mas não poupou esforços nem energia, entregando tudo aquilo que se esperava e ainda conseguindo dar mais. Para o final até se teve direito a um stagediving por parte de Filipe Brito, baixista, o momento que marcou o encerramento do concerto e do festival. De uma perspectiva exterior, verificamos que este evento foi um grande sucesso e o espírito de união de todas bandas e público à iniciativa é representativo de que será algo que terá todas as condições para continuar. Como cantaram os Viralata, “Estamos Juntos”, todos juntos por aquilo que gostamos, pela nossa música (neste caso punk) que tem aqui um palco de excelência que esperemos que perdure por muitos mais anos/edições.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Vai D’Embute Punk Fest


 

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