Report

WOM Report – Xxxapada Na Tromba – Dia 1 @ RCA Club, Lisboa – 17.01.20

Sexta-feira, dia, por defeito, de contra-relógio na corrida para chegar ao RCA Club. Ainda para mais quando estavamos perante o primeiro dia do Xxxapada na Tromba, um dos maiores eventos de música extrema do nosso panorama nacional. Com algumas manobras acrobáticas no trânsito conseguimos apanhar ainda a segunda banda em cima do palco e apreciar grande parte da sua actuação, apesar de termos perdido a actuação dos Diarde, banda que iniciou as hostilidades.

Os MDMA foram então quem nos recebeu com o seu brutal death metal a puxar ao slam – o prato forte do Xxxapada Na Tromba. A sala já estava bem composta e, mais do que isso, bem animada. O público estava rendido ao poder do power trio, ainda mais agora que contam com um baterista para substituir a bateria programada, tornando o seu som mais orgânico e poderoso. Ficam eles a ganhar e quem os vê ao vivo.

De Espanha até ao Reino Unido foi só a distância de quinze minutos e os Twitch Of The Death Nerve subiram ao palco, também eles donos de uma sonoridade de brutal death metal, mas com uma maior dinâmica e desenvoltura técnica. Apesar do foco no álbum de estreia “A New Code of Morality” de 2014, ainda tivemos o brinde ouvir temas novos, que estarão contidos no próximo álbum da banda, a ser lançado, segundo a expectativa, dentro de meses. Também recuàmos até à primeira música que a banda gravou, “A Hundred Twenty Days In Sodom”. Um actuação mesmo ao melhor nível que o Xxxapada oferece.

Uma das melhores razões para festejar neste festival é também a riqueza das propostas nacionais que surgem. Os Bleeding Display dispensam apresentações e mesmo apesar de terem sido a banda sacrificada para iniciar as hostilidades após a pausa para jantar, e de terem subido ao palco com uma sala meio vazia, o seu death metal encheu a sala até transbordar e até trazer consigo mais fãs dispostos a fazer a festa. Dos mais conhecidos (e esperados) “Dark Passenger” e “ Deprivation” às novidades e boas surpresas “Night Stalker” e “Hungry Beast”, temas novos do próximo álbum de originais que esperemos que veja a luz do dia em pouco tempo. Destaque para a participação de Diogo Santana (ainda) dos Analepsy na “Remains To Be Seen” onde cantou com Sérgio Afonso.

De volta ao Xxxapada Na Tromba estiveram os Acranius. Os alemães trouxeram o seu slam/deathcore que foi desde cedo aplaudido pelo público. Aliás, este foi quem mais espectáculo deu, desde as constantes brincadeiras com as bolas de praia até aos constantes moshes e circle pits. A banda voltou a Portugal (e ao festival) pela segunda vez e com a sua imagem de marca intacta, ou seja, breakdowns com fartura que resultam nalguma falta de dinâmica. Isso não impediu que o público os tenha recebido de braços abertos e que tenha feito a festa com temas como “Return To Violence”.

Com coisas mais tradicionais e regressando ao contingente nacional de qualidade indiscutível, vieram os mestres do death/grind lusitano Holocausto Canibal. Como é eu costume, trataram de apresentar logo uma série de rajada de temas onde alternaram clássicos com o que nos pareceram alguns temas novos (ainda foram bastantes) que deverão estar presentes num eventual próximo álbum. Foi a primeira vez da banda no Xxxapada e podemos dizer que foi uma estreia em grande. O público divertiu-se e a banda também, tendo até assistido no final a uma troca de posições entre o baterista Diogo Pereira e vocalista Orca.

Regressando ao Reino Unido, o RCA Club recebeu os Unfathomable Ruination, que deram uma autêntica aula de como tornar o seu brutal death metal técnico ainda mais atractiva.  Intensidade a rodos, com um vocalista apostado em trazer ao de cimo o lado mais energético do público, que, palavra seja dita, esteve sempre incansável. “ Carved Inherent Delusion” e “Parthenogenocide”, este último, o primeiro tema que Ben Wright gravou com a banda. Pé no passado e pé no presente, com alguns destaques para o mais recente trabalho “Enraged and Unbound” onde se destaca o tema título e “Defy The Architect”, um cheirinho do próximo álbum, outro ponto alto da actuação.

Poderá pensar-se que perante este espectro de música extrema, que a sonoridade é toda mais ou menos a mesma, mas os espanhóis Nashgul provaram (e bem) que as coisas não são bem assim. Com um pedigree grindcore puro, a banda foi tocando lotes de temas, rajada após rajada, com o público a fazer a festa. Para quem quer ouvir grind dinâmico, então esta é mesmo a escolha ideal. “Cyberpunk Scum” e “El Dia De Los Muertos” souberam-nos tão bem como as covers de Black Sabbath (“Electric Funeral”) e Ratos de Porão (“Crucificados De Sistema”), principalmente esta última que foi recebida de forma (ainda mais) festiva pelo público.

A noite já ia avançada e pudemos comprovar que os checos Spasm, foram aqueles que mais pessoas chamaram à frente do palco. Esta que foi a sua estreia em Portugal começou logo por chamar a atenção pelo visual único do trio. O baixista optou por mudar de roupa em palco, tirando as calças e vestindo uns calções de forma descontraída, tirando a tshirt enquanto o vocalista surge de cuecas e mankini por cima das ditas cujas. Uma imagem que ficou gravada na retina de todos (infelizmente) e que se sobrepôs à qualidade da música que pecava pela falta de dinâmica que oferecia. O juíz supremo é sempre o público e o mesmo não parou a animação, sobretudo em temas como “Tranny Pop” ou “Suck My Dick”, onde pudemos ver que alguém tinha perdido um sapato. Fica para a posteridade a boa disposição.

 

O final foi feito da melhor forma, na nossa opinião. Aí sim, apesar de uma sala já mais vazia – a madrugada já começava a ser adiantada – os Raw Decimating Brutality deram um concerto à altura do evento. E o público, apesar do menor número e apesar do avançado da hora, não acusou a falta de energia, com uma série de mergulhos para a piscina bem arrojados. A banda serrana é exímia em trazer-nos humor desconcertante aliado ao seu grindcore arraçado de death metal bruto dos queixos, e os malhões mais recentes como “Trono Nocturno Matarruano” soam tão bem como os mais clássicos “O Muro Está Mal Pintado” ou “Sperm To Grind Your Ears”. No final ficou só mesmo a boa disposição de um primeiro grande dia, esgotado, segundo confirmação. Uma maratona intensa e com a certeza de que o segundo dia iria ser igual ou até mesmo melhor.

Texto por Fernando Ferreira
Fotos por Sónia Ferreira
Agradecimentos Xxxapada Na Tromba


 

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