WOM Reviews – Areis / Bokassa / Stolen Kidneys / S.H.I. / Go Ahead And Die / Kavrilla / Hallucination / Ishvara
WOM Reviews – Areis / Bokassa / Stolen Kidneys / S.H.I. / Go Ahead And Die / Kavrilla / Hallucination / Ishvara
Areis – “Areis”
2020 – WormHoleDeath
Os franceses Areis são uma banda recente. Formada em apenas 2019, e apesar da pandemia, aqui estão com o seu primeiro álbum de originais, um álbum que demonstra uma inconformidade que vai para além das letras. Esse sentimento, acrescido da raiva, é quase sempre o combustível para o hardcore, e de algumas vezes bastante gratuita. Não é algo que se sinta aqui. Nem isso, nem sequer a fórmula músical que acaba por ir mais longe do hardcore, entrando por caminhos mais emocionais do pós-hardcore. A efectividade é certa e desde o início, pelo que “Areis” fala por si só, e não precisa de apresentações ou de o tentarem descrever, comparando com esta ou aquela proposta. Basta colocar a tocar e fica-se logo com a ideia de que esta banda, dentro do estilo a que se propõe caminhar, é um caso sério de música pesada e potente, mas também honesta e única. Hardcore do bom.
9/10
Fernando Ferreira
Bokassa – “Molotov Rocktail”
2021 – Napalm
Voltando uns tempos atrás, até à vinda de Metallica a Portugal algures em 2019, lembro-me da surpresa que foi encontrar como nome de abertura os Bokassa. Não só pela fonética curiosamente engraçada em portugujês mas também por serem completamente desconhecidos aos meus ouvidos. Não tendo ido a esse concerto, assim continuaram até ter este álbum para ouvir. As expectativas não eram altas mas foram confortavelmente superadas. E surpreendentemente, devo acrescentar. A descrição de mistura entre stoner e punk parece estapafúrdia mas é mesmo uma descrição perfeita para temas como “Pitchforks” e “Hereticules”. A segunda metade do álbum até poderá não ser tão imediata como a primeira mas no final fica a sensação de que estes noruegueses mereceram a aposta por parte dos Metallica assim como a atenção dos fãs de música pesada. Genuíno e raçudo, fantástico.
8.5/10
Fernando Ferreira
Stolen Kidneys – “Maailma Loppuu”
2021 – Kohina Records / minoRobscuR / Drown Within Records / Trepanation Recordings
Espásmico. A escrita é feita do coração e muitas das vezes tenho dúvidas em relação às palavras que me surgem. Como esta, espásmico. Nunca foi impedimento, apesar de haver um cuidado para verificar se estamos a explorar novos terrenos linquísticos, ainda que desnecessários. Normalmente, o raciocínio é “se não existe, deveria existir”. É mesmo a melhor descrição para o que encontramos aqui. Mais do que pós-hardcore/noise, que acabam por ser as prateleiras onde nos parece justo colocá-los. Visceral e corrosivo, se este álbum fosse um agente químico, seria como ácido a atravessar e a queimar todo por onde toca e passa. Mas apesar do rótulo ser sinónimo por norma de coisas mais comerciais e convencionais (pelo menos actualmente), “Maailma Loppuu” apresenta grandes desafios para quem espera algo do género. Principalmente em temas como “Ei-Kestã” e “Maailmanloppu”. Essa surpresa faz-nos voltar vezes sem conta, ficando este ácido bem mais viciante do que se calhar seria saudável.
8.5/10
Fernando Ferreira
S.H.I. – “4 死 Death”
2021 – Relapse
A propósito da recuperação do trabalho dos Zouo, temos aqui os S.H.I. (ou seja Struggling Harsh Immortals), que é a actual moradia de Cherry Nishida, nome incontornável do punk/hardcore japonês. Para quem conhece bem a arte japonesa, sabe que eles não se limitam em pegar em algo e fazer melhor. Eles também o fazem de forma revolucionário e peculiar. É a descrição perfeita para este álbum, que não só apresenta os valores habituais de uma proposta punk, mas também o embrulha numa aura algo revolucionária e experimental onde o noise e industrial, apesar de não serem dominantes, são componentes essenciais. Para os não conformados, mais que recomendado.
8/10
Fernando Ferreira
Go Ahead And Die – “Go Ahead And Die”
2021 – Nuclear Blast
As expectativas para este novo projecto de Max Cavalera eram grandes, como tem sido para tudo o que o mítico frontman brasileiro faz. Talvez seja pelo simples facto de poder haver um breve rasgo dos velhos Sepultura. Uma armadilha em que os fãs caem mas que não é fruto por parte do músico – talvez a promoção viva um pouco disso mas não deixa de ser compreensível. Se esse dito rasgo não apareceu em Cavalera Conspiracy, será de esperar que apareça aqui neste projecto com o seu filho, Igor? As declarações antes do lançamento do álbum não iam nesse sentido, mas como disse, a esperança dos fãs é impressionante. Go Ahead And Die é precisamente aquilo que foi dito que seria: metal primitivo, extremo e das cavernas. Uma espécie de proto-death/thrash metal com algum crust e hardcore embebido e o resultado cumpre as expectativas mas não deixa de ter um sabor de frustração. Na forma, não no conteúdo. A produção, principalmente o som da bateria deixa muito a desejar, dando um som de (sobretudo) tarola demasiado comprimido que retirar o sabor orgânico e visceral que deveria ter. E esta é a única queixa que tenho em relação ao primeiro trabalho auto-intitulado que merece ter uma continuação e não apenas algo que serviu para ocupar o tempo de confinamento. Fãs de Celtic Frost, Discharge e Extreme Noise Terror poderão encontrar aqui um bom item para se entreterem durante uns tempos valentes.
7.5/10
Fernando Ferreira
Hallucination – “Hallucination”
2021 – Sentient Ruin Laboratories
Pela capa quase que nos parece que é a reedição de uma demo da década de noventa ou até mesmo oitenta. Pelo som… igualmente a mesma sensação. Até aqui nada de extraordinário, não fosse esta demo de 2021 e a de estreia dos norte-americanos Hallucination. São apenas oito minutos, algo que normalmente me queixaria como sendo curto para ficar com uma opinião formada mas invulgarmente é o suficiente para ficar com a certeza de que este é um dos grandes valores do punk/hardcore/crust norte-americano e de que há ainda muito espaço para este poder destrutivo ficar ainda mais letal.
8/10
Fernando Ferreira
Kavrilla – “Rituals III”
2021 – Narshardaa
Provenientes de Hamburgo (Alemanha) os Kavrilla tem vindo a ganhar créditos como uma das mais promissoras bandas Germânicas da actualidade e lançaram no final de Março ‘Rituals III’, um nome bem a propósito pois é o terceiro e ultimo EP de uma trilogia iniciada em 2016. Os Kavrilla destacam-se não só pelo seu imaginário desolador, melancólico e Niilista como também pela sua verdadeira amálgama sonora que consegue uma bizarra e inovadora conjugação entre Hardcore/Post-Hardcore/Sludge/Post-Punk e Doom metal. ‘Rituals III’ começa com ‘Sunday’ onde se destaca a agressividade típica do Punk envolta num ritmo bem Sludge a fazer lembrar os seus conterrâneos Mantar, segue-se a formidável ‘Equality’ pautada por riffs monolíticos de um visceral e envolvente Sludge. ‘Longing’ rapidamente nos atira para um início onde sobressai o Doom Metal mas que rapidamente se transforma num cru, austero e poderoso turbilhão de Hardcore. O EP termina com ‘Elysium’, uma faixa onde os kavrilla conseguem mostrar a sua faceta mais calma e experimental.
7.5/10
Jorge Pereira
Ishvara – “Shape Of A Void To Come”
2020 – Dusktone
Não acredito que existam caminhos fáceis e garantidos de sucesso na música hoje em dia mas ainda assim tenho a percepção de que o querer apresentar algo de diferente poderá chamar a atenção quando o normal é passar-nos tudo ao lado e tudo luta pela atenção, cada vez menor, dos ouvintes. Os Ishvara juntam a uma base de death/black relativamente melódico, arranjos industriais que fazem com que se tenha algo minmamente peculiar. Como disse inicialmente, não há garantias que os elementos industriais vão angariar uma série de apreciadores das sonoridades mais modernas, até porque os mesmos não surgem embrulhadinhos e prontos a consumir. Há um elemento ainda de estranheza que faz com que o destinatório deste álbum seja mais restrito. O tal rótulo “avantgarde” que garante que isto não é mesmo para qualquer um. Efectivamente não é, mas não deixa de ir conseguindo agarrando conforme se desenrola. Exige e vai retribuindo essa exigência conforme se vai convivendo com ele.
7/10
Fernando Ferreira